The Dead Come Back To Life: O Caminho Para Crossville

𝟎𝟎𝟏 | Os Dragões

Se perguntarem a qualquer sobrevivente de um apocalipse, provavelmente dirá que o mar e o céu são as coisas mais belas que restaram neste mundo devastado. E é exatamente isso que Jamie pensa. Nunca antes havia se importado em perceber esses esplêndidos detalhes do cotidiano, mas desde que os mortos canibais começaram a vagar, ele passou a notar mais essas pequenas maravilhas.

— Você consegue ver aquela ali? — Jamie Reese aponta com firmeza para o meteoro que passa rapidamente pelo céu noturno. Seus olhos, marcados pelas linhas do tempo implacável desde o início do apocalipse, seguem o fenômeno com uma mistura de admiração e cautela. Ele, aos 41 anos, tem a pele clara e cabelos castanhos curtos, vestindo uma jaqueta de couro desgastada pelo tempo, jeans surrados e botas robustas.

— WOW QUE RAPIDO! — Exclama David Reese, com seus 13 anos, o garoto a imagem jovem espelhada de seu pai, expressa espanto. Seus cabelos castanhos densos e rebeldes balançam com a emoção enquanto ele observa o meteoro. Ele veste uma camiseta de algodão desbotada e calças moletom, pronto para descansar, mas ágil o suficiente para movimentos rápidos se necessário.

Na clareira serena iluminada apenas por um lampião, eles se acomodaram lado a lado sobre a relva macia, próximo a tenda erguida ao anoitecer. A velha picape, agora disfarçada sob uma cobertura de galhos, repousa nas proximidades. Este refúgio tranquilo é o esconderijo ideal para a noite: deserto de errantes e abençoado com uma visão privilegiada das estrelas cadentes.

— Pai? — a voz de David quebra o silêncio, buscando a atenção de Jamie enquanto este contempla as estrelas.

Jamie desvia o olhar do céu para o filho.

— Sim? — responde suavemente, ainda mergulhado na beleza celestial.

— Posso fazer um desejo quando uma estrela cadente passar?—  indaga David, com olhos brilhantes de expectativa.

Um sorriso terno ilumina o rosto de Jamie.

— Claro que pode — responde, sua voz carregada de afeto paternal.

Eles voltam a observar o céu noturno vasto e profundo, salpicado de estrelas cintilantes que pontilham a escuridão com seu brilho prateado e uma outra estrela cadente rasga o firmamento em um breve rastro de luz, deixando um rastro efêmero que se desvanece na imensidão celestial.

— Que possamos encontrar mais Kit Kat —  brinca Jamie com os olhos fechados enquanto pede o chocolate favorito do filho.

David, com os olhos também fechados, formula seu desejo com seriedade inesperada.

— Que encontremos os dragões e que a sorte nos acompanhe — murmura, seus pensamentos dirigidos às estrelas.

O pedido repentino de David pega Jamie de surpresa. Ele abre os olhos e observa seu cópia, agora de olhos abertos contemplando o céu com um sorriso sereno. Para Jamie, neste momento mais do que nunca, David parece ter amadurecido além de seus anos. Ele se transformou em um jovem adulto precoce, crescendo mais rápido do que o esperado.

Já se passara um mês desde que chegaram à Virginia e encontraram alguns sobreviventes que mencionaram os Dragões, uma lendária gangue de motociclistas que, desde o início do apocalipse, resgatam pessoas pelo caminho e eliminam toda e qualquer ameaça, viva ou morta. A existência dos Dragões podem ser apenas uma lenda, mas encontrar esses salvadores é a melhor chance de sobrevivência que eles tem.

David se levanta, sacudindo a grama das calças com gestos rápidos e juvenis.

— Para onde vai? — pergunta Jamie, observando-o atentamente.

— Vou fazer xixi — responde David, sem olhar para trás. — Não precisa vir comigo. Volto logo.

Jamie observa seu filho se afastar na penumbra da noite, adentrando a densa floresta até desaparecer atrás dos imponentes troncos. Um sorriso de orgulho e apreensão brinca em seus lábios enquanto ele volta seu olhar para o céu estrelado, onde uma constelação parece piscar em resposta ao seu dilema de pai.