𝟎𝟎𝟖 | Segredos Obscuros

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Algumas pessoas acham que mentir para se salvar de uma situação é aceitável, enquanto outras acreditam que mentir, independentemente da ocasião, é inaceitável. Para Fritz, isso nunca foi um problema. Desde os quatro anos de idade, Fritz sempre mentia — desde pequenas mentirinhas até mentiras grandes —, o que eventualmente se tornou um hábito diário. Aos cinco anos, seus pais o obrigaram a passar por um psicólogo, que diagnosticou sua condição como "síndrome do Pinóquio", caracterizada pelo comportamento compulsivo de mentir frequentemente, independentemente da necessidade.

É exatamente isso que Fritz, agora conhecido como "o policial", vem fazendo desde o dia em que ele e seus companheiros escaparam da prisão no início do apocalipse. Eles têm viajado de grupo em grupo, adotando novas identidades como "bons samaritanos". Mudaram cortes de cabelo, rasparam barbas e ajustaram sobrancelhas para se adequar aos novos "personagens", enquanto continuaram percorrendo o país, mentindo e lutando para sobreviver.

Fritz mentiu novamente no dia em que encontraram Christian pela primeira vez, dizendo que a mulher que haviam acabado de assassinar era uma bandida. Mentiu também no dia da festa na escola, fingindo que estavam procurando pelo assassino dos seis ex-cobaias mortos, cujo passado obscuro do grupo eles sabiam, por isso foram assassinados. Além disso, mentiram no dia seguinte quando Gavin matou uma pessoa no corredor dos armários da escola, fazendo a multidão acreditar que outra pessoa havia cometido o crime, quando na verdade, a pessoa em questão acabara de chegar ali, pegou a faca do crime para analisar e foi confundida pela multidão.

Agora apartir de agora, Fritz terá que mentir como nunca mentirá.

De volta à consciência, os olhos de Christian se abrem lentamente, desorientados e confusos. Ele tenta se mover, mas seu corpo fraco, ainda sob o efeito da droga que usaram nele, não obedece. Ele percebe que está preso a uma cadeira de madeira velha, com as mãos firmemente atados por fitas que o imobilizam junto ao braço da cadeira. Sua cabeça dói intensamente, e seu pescoço lateja e está inchado ao redor da marca da agulha. Aos poucos, através de sua visão turva, o cenário abandonado de um porão em ruínas se revela. As paredes de madeira, corroídas pelo tempo, estão descascando, e o teto parece prestes a desabar. Teias de aranha adornam os cantos do lugar, e o cheiro de mofo e madeira apodrecida é sufocante, causando-lhe uma dor de cabeça. A única fonte de luz vem de uma lamparina sobre uma mesa, a quinze metros de distância, iluminando de forma sinistra a escada de madeira com degraus desgastados que leva ao andar superior. Christian olha para o chão ao seu lado e vê, com horror, um corpo flácido e desleixadamente jogado.

— Leonor... — sua voz sai fraca, carregada de desespero.

A viseira preta de Leonor está caída um pouco à frente, longe de sua cabeça. Sua testa pálida está manchada de sangue seco ao redor do ferimento de bala.

Christian começa a puxar os braços e a balançar a cadeira que estala e range sob sua força desesperada.

— Você não vai a lugar algum. — uma voz masculina ecoa calmamente pelo lugar.

Christian vira o rosto e vê um homem em torno dos cinquenta anos, com rosto enrugado e cabelos grisalhos, descendo a escada. Ele é acompanhado por três outros homens: um afro-americano de dreadlocks, um musculoso com cabeça raspada e sem uma mão, e um magro com cabelo raspado, como um fuzileiro naval.

— O que está acontecendo, Fritz? — Christian pergunta ofegante, aterrorizado, seus olhos arregalados brilhando de pavor.

O homem termina de descer e fica frente a frente com Christian, enquanto os outros se espalham pelo porão, fazendo a madeira ranger sob seus pés.

— Não é Fritz, é Cooper. Você me conhece. — ele diz, sua voz tranquila.

— Eu confiei em você! — Christian exclama, ainda em choque, sem acreditar no que está acontecendo. Ele espera que a qualquer momento Fritz abra um sorriso e diga que é tudo uma brincadeira. — Por que? Por que você fez isso?

The Dead Come Back To Life: O Caminho Para CrossvilleOnde histórias criam vida. Descubra agora