Capítulo 1 [PRÓLOGO]

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O ar puro da sala ficou extremamente tóxico quando eu o vi, com os cabelos impecáveis, a barba feita, os olhos castanhos e a boca carnuda. Seu sorriso foi automaticamente jogado em minha direção, enquanto ele me encarava, sabendo que estava ganhando aquele jogo.

— Me poupe.

Soltei, suspirando pesado e arrastando a carteira em minha frente, pronta para sair do meu lugar. Stephanie me olhou sem saber, enquanto dava meia-volta e andava o corredor da sala.

Micael não disse nada, mas me observou fazer o caminho todo, até sair da sala. Resmunguei enquanto andava com pressa, me irritando por ainda estar andando devagar.

Empurrei a porta de vidro da secretaria, parando em frente ao balcão alto de madeira maciça. A mulher atrás da barreira lia Cinquenta Tons de Liberdade e tinha um óculos gigante no rosto, com estampa de oncinha.

— Olá! — Me escorei. — Eu gostaria de trocar de curso.

— Como é? — Ela abaixou o livro, se endireitando na cadeira barulhenta.

— Eu gostaria de trocar o curso! — Eu sabia que não seria fácil fazer aquilo. — Eu passei na prova para o curso de Direito mas...

— Queridinha, você não pode trocar o curso que passou. — Cruzou as mãos, sendo bem arrogante. — Não posso fazer nada por você hoje.

— Eu tenho uma reclamação! — Mudei meus planos de envenenar Micael. — O brutamontes do professor de Direito, ele é um pedófilo! Você sabia?

— Garota, o que você quer, hein? — A mulher se levantou, levantando uma sobrancelha para mim.

— Eu só queria trocar de curso. Eu odeio o professor de Direito. — Desabafei.

Assisti a mulher abrir uma gaveta aleatória, tirando de lá um caderno gigante. Folheou em minha frente, apontando o indicador nas linhas de cima, ajustando o óculos para me fornecer alguma informação.

— Que engraçado! O seu professor de Direito não é o senhor Borges. — Me encarou.

— E o que ele está fazendo na sala?

— Ele é professor de uma matéria à parte! — Me explicou. — Sua professora de Direito é a senhorita Lorelai.

— ESTÁ DE SACANAGEM, NÉ? — Gritei em meio à sala. Sorte de estarmos em duas.

— Menina, eu não sei o que você tem a ver com os dois mas eu te aconselho à voltar para sua sala. Você está perdendo aula! — Fechou o caderno e voltou a se sentar. — Precisa de mais alguma coisa? — Buscou o livro que estava lendo, posicionando em suas mãos.

— Não. — Me emburrei, saindo de lá com as informações desnecessárias.

Fiz o trajeto de volta à sala enquanto resmungava mentalmente. Cruzei meus braços e fechei minha cara, bufando em alguns momentos, sem vontade nenhuma de voltar para aquele lugar.

E para a minha surpresa, quando voltei, somente Micael estava lá. Arrumava suas coisas, soltou um risinho quando me viu empurrar a porta e revirar os olhos.

— Qual é a sensação de receber um não da mulher mais podre da secretaria? — Alfinetou.

— Você é ridículo! Ordinário! Cachorro e sem vergonha! — Fiquei em meu lugar. — O que você está fazendo aqui? Me deixe em paz!

— Você acha que o mundo gira em torno de você? — Nos encaramos. — Eu estou aqui trabalhando, ajudando no seu futuro, como eu sempre quis das outras vezes.

— Cala a boca! Você só destruiu o meu futuro, todas as vezes. — Senti minha garganta dar um nó daqueles. — Você fez isso de propósito!

— Sophia, eu não fiz nada de propósito. Eu aceitei o cargo que foi ótimo para a minha carreira. — Levantou os ombros. — Jamais imaginaria que você estaria aqui hoje, sendo minha aluna, de novo.

— Sínico! É lógico que você sabia. — Dei dois passos em sua direção. — Lorelai deve ter te contado, ela vai ser a minha professora. — Cruzei meus braços quando cheguei perto de Micael.

Tive ódio ao vê-lo mas meu corpo mudou isso em questão de segundos. Fui forte para me segurar e não perder a segunda rodada daquele jogo infernal.

— Lorelai é uma ótima pessoa, você vai ver. — Sentou na ponta da mesa extensa. — Esse seu rancor por ela vai passar de uma forma totalmente despercebida.

— Você casou com ela, seu ordinário? — Fui rápida na pergunta.

Eu não teria paz se não soubesse das coisas enquanto estive fora.

— Se isso te deixa mais confortável... Não, eu não casei. — Micael desviou o olhar. — Mas estamos namorando. Morando juntos, até o Harrison se adaptar.

— Harrison. — Soltei um riso automático, com os olhos lagrimados. — Ele está bem? Diga que eu estou morta de saudade. Por favor! — Meu coração se aqueceu como uma lareira.

Micael podia ter todos os defeitos, mas era um ótimo pai à Harrison. E mesmo brigados, eu perguntaria dele à todo o minuto. Harrison é como se fosse meu filho, gerado por outra mãe, é claro!

— Ele está ótimo. Pergunta de você sempre! — Aquilo me deixou feliz. — E pode deixar, eu digo que você está morta de saudade dele. — Foi irônico.

— Imbecil. — O fuzilei com meu olhar.

— Olha Sophia, eu sei que você está morrendo de ódio por mim mas exijo respeito no meu local de trabalho. Sou o seu professor! — Soltou, sério e autêntico.

— Eu não ligo se você quer ser respeitado. Vou te odiar sempre, todas as vezes que você abrir a sua boca e mostrar alguma matéria nova para a turma.

— Por que todo esse ódio em mim?

— Porque você destruiu a minha vida! — Minhas lágrimas caíram sob meu rosto. — Por sua causa eu não falo mais com a minha mãe, não tenho casa, não tenho amigos. — Chorei mais ainda. — Você disse que ia me acolher, mas me desprezou da pior maneira possível.

— Você sumiu, Sophia! Nós conversamos sobre tudo, você quis ir embora.

— Foi o jeito mais fácil que eu achei para me livrar de você. — Sequei minhas lágrimas. — Nem eu sei porque estou aqui, dando papo para você. — Me virei, dando às costas para Micael.

Não visualizei Micael quando sai, chorando em meio ao corredor da faculdade. Entrei no banheiro mais próximo, lavando meu rosto e secando em seguida.

— Sophia?

Stephanie apareceu, um pouco preocupada de me ver naquele estado.

— Oi. — Tentei dar um sorriso para disfarçar. — E então? Como foi a aula do professor Borges?

— Por que você está chorando? Aconteceu alguma coisa? — Me abraçou.

— Está tudo bem. — Me tranquilizei.

— Você saiu como um tiro da sala e agora está chorando. Você quer dividir?

— Não precisa, eu estou bem. Juro! — Rendi minhas mãos, tentando aliviar Stephanie, que me sondava pelo olhar. — Enfim, você não respondeu a minha pergunta. — Voltei ao assunto.

— Foi uma rápida apresentação. A professora vai se apresentar amanhã, parece que ela é namorada dele. Eu entendi isso. — Fez uma careta. — Você quer comer alguma coisa?

— Acho que eu preciso ir para casa, não estou muito bem. — Respirei fundo.

— Vou chamar um táxi.

— Eu me viro, Stephanie. Obrigada pela ajuda! — Abracei ela mais uma vez, me despedindo e saindo do banheiro.

Eu sabia que estava fazendo merda no meu primeiro dia de aula, mas não absorveria mais nada enquanto não fosse para casa. Conversar com Micael abalou ainda mais o meu psicológico. Eu tinha que ser forte até o ano acabar, se não, teria problemas com ele.

E com Lorelai também.

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Meu Professor - Coast | 2ª Temporada Onde histórias criam vida. Descubra agora