𝖈𝖆𝖕𝖎́𝖙𝖚𝖑𝖔 2

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-Eu preciso de uma cena nova - falei, sentada naquele escritório minúsculo do meu agente, fumando um cigarro - Preciso de grana!

Frank, que era um homenzinho baixo e gorducho, com óculos redondos fundo de garrafa, entrelaçou os dedos e me encarou:
-Camille, eu não faço milagres, você é um rosto e um nome novo na indústria, as gravadoras não te conhecem e essas coisas levam tempo, eu não posso fazer nada!

Suspirei, desanimada, eu não era uma pessoa de discutir, mas estava ficando desesperada, com medo de passar fome, então resolvi insistir:
-Mas eu nunca vou me tornar conhecida se você não me arranjar trabalho, não é pra isso que fechamos contrato?

Ele ficou surpreso com o meu tom passivo agressivo, e deu um risinho irônico:
-Então tá bom, posso arranjar qualquer cena pra você? - ele começou a folhear um caderno, e anotar alguma coisa em uma caderneta - Sem frescuras?

Olhei no fundo dos olhos dele, e assenti:
-Sim, eu já te mostrei que não tenho frescura.

Frank deu de ombros, enquanto discava um número no telefone fixo:
-Estava tentando te proteger.
-Não quero proteção, quero dinheiro.

...

Fiquei fumando sentada na calçada, um vento cortante de outono irritava meus olhos, observei do outro lado da rua um grupo de quatro garotas sentadas em um banco rindo e cochichando, por alguma razão aquilo me fez mal, eu devia ser no máximo uns três anos mais velha que elas, mas era como se um abismo nos separasse, eu tive minha adolescência roubada por uma família desestruturada, namorados abusivos e o vício precoce em álcool, eu nunca tinha tido a chance de ser uma garota fútil e inocente, pra mim tinha sido reservado o pior da vida, e eu odiava todas as pessoas felizes, queria que fossem tão desgraçadas como eu pra ver o mundo se tornava mais equilibrado.

A porta do escritório se abriu e Frank acenou pra que eu entrasse de volta, apaguei o cigarro no poste e dei uma última olhada para as garotas, que me olhavam de volta curiosas, e depois se entreolharam e riram, os cantos da minha boca se repuxaram de ódio, dei as costas e entrei.

-Consegui um trabalho pra você, amanhã as 10:00 nesse endereço - Frank me entregou um cartão - Esteja completamente limpa, se é que me entende, e nada de álcool ou drogas, esse cliente é meio controverso, mas paga bem.

Assenti, guardando na bolsinha e sorrindo, estava aliviada, mas perguntei:
-Controverso por que?
-Não se preocupa, amanhã vocês conversam.
-Ok.

Eu já ia me levantando pra sair, quando ele limpou a garganta e me questionou:
-E esses hematomas no rosto e pescoço?!
-Uma briga, coisa de festa.
-Trate de evitar, alguns clientes podem te dispensar se estiver com o corpo marcado.
-Tudo bem, obrigada pela dica.

....

Assim que a luz do sol entrou pela fresta da cortina, me levantei e fui sonolenta pro banheiro, tomei um banho quente e demorado e fui pra cozinha, preparei um café ralo que havia sobrado e misturei com um pouco de vodka, me sentei na sacada com os pés no parapeito e tomei tranquilamente, admirando os tons de púrpura do céu de Nova York.

Vesti uma camiseta do Black Sabbath, jaqueta de pelos e uma mini saia de couro, calcei um coturno e amarrei o cabelo, fiz o meu clássico olho preto e desci, pedi um taxi pro endereço do cartão e fiquei com o rosto encostado na janela durante a viagem...

𝑷𝑶𝑹𝑵𝑺𝑻𝑨𝑹Onde histórias criam vida. Descubra agora