𝖈𝖆𝖕𝖎́𝖙𝖚𝖑𝖔 37

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Demorei cinco minutos pra conseguir colocar a chave na fechadura, minhas mãos estavam trêmulas, mas enfim consegui abrir a porta do meu apartamento.

Lá dentro estava uma bagunça completa, garrafas vazias por todo canto, comida estragada cheia de moscas, as plantas secas e mortas, a TV estava ligada chiando em branco, fui desviando de todo aquele lixo em direção ao meu quarto, pois sabia que tinha cocaína guardada na cômoda, mas assim que entrei notei algo estranho, um cheiro muito forte de podre, tapei o nariz e me virei pro lado, na sacada do meu quarto estava uma verdadeira cena de horror.

Um corpo balançava pendurado por uma corda no pescoço quebrado, a corda presa na viga do teto, eu perdi o chão, cai sentada na cama em completo estado de choque... Era Tim, seu rosto estava inchado e roxo, a língua pra fora, seu corpo balançava com o vento, aos seus pés um banquinho caído pro lado.
-Aí meu Deus - suspirei - O que eu faço?!

Corri até ele e o puxei pra cima, fiz isso até seu corpo se soltar da corda e ele cair encima de mim no chão, gritei e o empurrei de cima, ele estava rígido e gelado, seus olhos transparentes.
-Tim - chorei - Não faz isso comigo! - comecei a bater no peito dele - Você não tem o direito de me deixar pra trás, me deixar pra lidar com toda essa bagunça, eu preciso de você meu bem!

Demorou algumas horas até eu aceitar que ele estava morto, fumei um maço inteiro de cigarro ao lado de seu cadáver, o encarando fixamente e falando sozinha... Até que decidi deixar aquele maldito corpo ali mesmo, juntar minhas roupas em uma mochila, deixei a chave embaixo do tapete e sai pra rua.
...

Passei duas semanas em um hotel decadente, usando heroína e vendendo as roupas caras que eu tinha trazido na bolsa, até que tudo que me restou foi a roupa do corpo e cem dólares.

Eu estava prestes a me picar, com o garrote no braço, quando ouvi batidas firmes na porta, decidi ignorar, me piquei.

-Camille?! - a voz era grossa do outro lado - Polícia, abre a porta!

Senti um calafrio na espinha, me levantei trêmula e abri a porta desconfiada:
-O que foi?
-Temos algumas perguntas pra te fazer.
-O que eu fiz?
-Peço licença pra entrar - disse ele.

-O corpo de Tim Deen, um suspeito de crime sexual foi encontrado dentro do seu apartamento, o qual você abandonou há alguns dias como vimos nas câmeras de segurança, você quer explicar pra nós o que aconteceu? E por que você fugiu sem chamar a polícia?

Cobri meu rosto e comecei a chorar, encolhida no canto da cama:
-Ele se matou, ele sabia que a carreira tinha acabado e não aguentou, eu não pude fazer nada pra evitar, eu juro, quando cheguei lá ele já estava assim, eu entrei em pânico, não sabia o que fazer...

O policial se endireitou, coçando o bigode:
-Entendi... Também tenho perguntas a respeito do Lolla Schwarz, você a conhecia, certo?

Arregalei os olhos por trás dos dedos, meu sangue congelou:
-Ssss... Sim, por que?

Ele continuou:
-Lolla foi encontrada morta com um tiro na nuca, em um acidente muito suspeito, e seu companheiro Manuel está em coma, acredita-se que ele vá sobreviver e quando acordar, vai dar depoimento... Mas o que me intriga é que vocês duas eram conhecidas por serem inimigas, e nessa ocasião, estavam no mesmo evento antes de tudo acontecer, há indícios de que o acidente possa ter sido proposital, visto as marcas de pneu da pista... Você tem algo a dizer?!

Eu enxuguei as lágrimas e respirei fundo:
-Só o que posso dizer é que não fui eu, não sei nada sobre isso, eu já tinha me resolvido com a Lolla faz muito tempo...

O policial continuou lendo uma caderneta que tinha em mãos:
-Há também outra questão, uma testemunha fez um retrato falado que se assemelha muito a você em um caso de homicídio triplo, dois atores pornô e um diretor foram brutalmente assassinados em um apartamento, a testemunha fez a descrição de alguém exatamente como você saindo de capuz horas depois do que se acredita ter sido o momento do assassinato, e após checarmos, vimos que você já trabalhou com eles em uma cena muito problemática, eu entenderia se tivesse raiva deles, foi esse o caso?!

Me senti sufocada, tive a impressão de que sairia daquele quarto presa, comecei a chorar copiosamente de novo, em pânico:
-Eu preciso de um advogado?! - eu olhava paranóica para todos os lados - Você está me acusando de várias coisas, eu não fiz nada!

O policial resolveu que era mais prudente continuar aquela conversa outro dia na delegacia, na presença de um advogado, e então partiu me dando um aperto de mão:
-Te vejo em breve, Camille.

Assim que fechei a porta, comecei a surtar em uma crise de ansiedade, se eu fosse presa, passaria o resto da vida na prisão, e eu não aceitava isso, não aguentaria viver sem heroína ou cocaína, precisava dar um jeito com urgência.

Foi então que percebi que só havia uma saída, e precisa colocá-la em prática rápido, antes que a situação piorasse e eu não tivesse pra onde fugir, ou ao menos grana pra conseguir sumir dali o mais rápido possível...

O cerco estava se fechando ao meu redor, e eu estava drogada demais pra conseguir raciocinar com clareza. 

𝑷𝑶𝑹𝑵𝑺𝑻𝑨𝑹Onde histórias criam vida. Descubra agora