𝖈𝖆𝖕𝖎́𝖙𝖚𝖑𝖔 38

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A única coisa que embarcou comigo naquele ônibus foi uma bolsa com os prêmios que eu havia recebido do pornô, aquelas estatuetas eu levaria comigo até o último dos meus dias, nada tinha mais valor do que aqueles pedaços de metal banhados a ouro.

Encostei o rosto na vidro da janela, tomei três comprimidos de xanax com um gole de vodka e esperei que fizesse efeito, enquanto isso fiquei observando uma garotinha brincar de boneca no colo da mãe na fileira ao lado, ela sorria e fazia caretas enquanto colocava a boneca pra andar pelo corpo inteiro de sua mãe, que lia um livro de bolso, às vezes a mãe dava risada e interagia com a boneca, as duas estavam se divertindo muito naquela viagem entediante, por algum motivo, que talvez eu soubesse mas não iria verbalizar, aquilo me tocou profundamente, senti uma tristeza pesarosa, uma angústia sufocante, chorei silenciosamente até que meus olhos pesassem e o sono me embalasse.
...

Foram 36 horas de viagem, diversas mudanças de paisagens e temperatura, até que finamente o terreno se tornou árido e a paisagem trepidava na janela com o calor, quando o ônibus parou, desci com a minha bota e a mochila no solo do Texas, o lugar mais distante possível que eu pude pagar pra ir, e por lá seria perfeito pra recomeçar uma vida do zero, tentar uma última vez me redimir comigo mesma e fugir da prisão.

A cidade em que desci tinha onze mil habitantes, era muito antiga e fantasmagórica, estilo velho oeste, segui caminhando pela avenida principal, aquelas pessoas caipiras me olhavam com curiosidade, não faziam questão de disfarçar, queriam que eu soubesse que eles sabiam que eu era uma forasteira estranha, mas estava tudo bem, eu já era acostumada a ser observada.

Cheguei até um pequeno hotel, reservei um quarto pra duas semanas, o preço era baixo pois quase não haviam hóspedes naquela região.

Os primeiros dias foram horríveis, eu estava sem celular, o ar condicionado era horrível e o calor escaldante, as pessoas eram grosseiras comigo nos estabelecimentos comerciais, foi muito difícil me adaptar... Mas no segundo fim de semana eu descobri um lugar, era um bordel que ficava no limite da cidade, uma luz vermelha que cintilava durante a noite inteira, e eu fui lá pra procurar emprego.

Fiz uma entrevista com o cafetão dono do lugar, que de início ficou muito desconfiado pois eu era nitidamente uma pessoa de cidade grande, um tipo muito diferente das mulheres acabadas dali, mas ele topou me deixar trabalhar por uma semana de experiência.

Minha primeira noite foi interessante, eu dancei de lingerie no pole dance pra um monte de homens rústicos, eram em sua maioria caminheiros e alguns locais ali da cidade, eles me davam tapas na bunda e as vezes me ofendiam mas sempre estavam jogando alguns dólares no meu palco, ou colocando na minha calcinha, acabei faturando oitenta dólares sem precisar me prostituir, fui embora radiante aquele dia, contando meu dinheiro e dando pulinhos, mas a alegria duraria pouco, pois tive uma forte crise de abstinência em meu quarto, sentia dores horríveis no estômago e suava frio, vomitei quinze vezes e tive diarréia, aquela noite pensei que fosse morrer.

Mas sobrevivi, e voltei a trabalhar no outro dia, e no próximo também, e assim foi indo até me estabilizar de vez e conquistar a confiança e o respeito do cafetão e das outras putas, foi um processo lento e doloroso, mas em quatro meses eu estava vivendo uma vida normal no interior do Texas, livre dos dramas e dos abusos da indústria pornô, eu me sentia orgulhosa de ter sobrevivido, e como tinha me desligado de televisão e mídia, não sabia o que as pessoas estavam falando sobre o meu sumiço, e pouco me importava, contanto que nunca me encontrassem.

𝑷𝑶𝑹𝑵𝑺𝑻𝑨𝑹Onde histórias criam vida. Descubra agora