𝖈𝖆𝖕𝖎́𝖙𝖚𝖑𝖔 32

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Estar com Tim era uma montanha-russa de sentimentos, ele me fazia sentir segura quando me envolvia em seus braços e eu sentia o cheiro do couro de sua jaqueta, de seu perfume amadeirado, de whisky barato e Marlboro vermelho, me trazia um certo alívio saber que ele estava ali comigo e me protegeria... Mas as vezes eu me questionava, pois quem me protegeria dele?!

Pois seu humor era oscilante, as vezes Tim acordava o homem mais romântico e engraçado do mundo, naquela semana ele me levou pra conhecer toda a Los Angeles, jantamos em restaurantes baratos e fizemos amizade com os locais, ele sempre fazia as piadas certas pra conquistar as pessoas, e quando conseguia, me olhava de canto de olho com aquele sorriso marcando a covinha na bochecha, as vezes não dava certo e ele apertava minha mão como sinal pra sairmos dali, e então fugíamos pra praia de noite, corríamos pela areia de mãos dadas, eu não conseguia acompanhá-lo e então caíamos rolando, trocando beijos apaixonados até a exaustão, e ali ficávamos, deitados admirando o céu estrelado com o som das ondas do mar quebrando ao nosso lado.

Mas as vezes, Tim deixava escapar sintomas de um lado sombrio que parecia habitar dentro dele, se tornava ciumento e possessivo, brigou comigo em algumas situações em que fui simpática com homens, e sempre após a violência vinha o sentimentalismo, ele chorava copiosamente em meu colo e se deitava nos meus peitos, pedia perdão e dizia que tinha pavor de ser abandonado mais uma vez, pois sua vida era um eterno ciclo de abandonos e fracassos... O que eu discordava, Tim Deen era o segundo ator pornô mais famoso do mundo, e por um bom tempo tinha sido o número um e a grande promessa da indústria, mas ele mesmo sabotava a própria carreira algumas vezes, o que era triste e eu pretendia ajudá-lo, agora que eu também estava no meu auge.
...

Em uma das várias festas que estávamos frequentando em LA, tive o desprazer de cruzar com Lolla novamente... Ela e Manuel estavam tomando uns drinks próximos ao bar enquanto conversavam com o anfitrião, cutuquei Tim pra que ele visse e ele sussurrou:
-Porra, esses ratos estão em todo lugar - ele odiava Manuel tanto quanto eu odiava a Lolla - A gente devia fazer alguma coisa.

Encostei a cabeça no ombro dele, de cenho franzido:
-O que quer dizer?

Tim deu de ombros, dando um gole na taça:
-Sei lá, dar um susto, eu tô cansado de deixar eles tomarem conta de tudo, como se fossem os donos do mundo.

Virei pra ficar de frente pra ele, semicerrei os olhos e dei um sorriso lateral:
-Devo estar ficando maluca, porque eu concordo com você, eu tenho negócios mal acabados com essa vadia do caralho - olhei pra trás por cima do ombro, e ela olhava de volta - Tenho certeza que ela me acha uma fraca, medrosa, que conseguiu me colocar medo depois daquela surra, e deve pensar que eu nunca vou reagir, mas a melhor vingança é a lenta, a facada mais dolorida vem da lâmina fria.

Tim virou meu rosto de frente pro dele apertando com os dedos:
-Porra, eu te amo sua cadela! - ele me beijou intensamente, puxando minha cintura - Você é tão doente quanto eu.

Após investigar conversando com os outros convidados, descobri que o casal estava em LA pra uma superprodução que iriam gravar, um contrato milionário que colocaria Lolla em um patamar difícil de ser alcançado por outras, aquilo me ferveu o sangue de raiva e tive a confirmação de que algo precisava ser feito.

Puxei Tim pro lavabo no primeiro andar, despejamos na bancada da pia toda a cocaína que tínhamos, fizemos dez carreiras de pó e cheiramos metade cada, no fim o nariz de Tim estava escorrendo sangue, eu o empurrei contra a parede e passei a língua, o gosto metálico me excitou e eu apertei o pau dele, nossas línguas se entrelaçaram e transamos ali mesmo, completamente alucinados de tesão e ansiedade para o que estávamos prestes a fazer.

De mãos dadas, saímos de volta pra festa com o mundo em câmera lenta, as luzes me deixavam hipnotizada e eu estava em êxtase, sentindo como se tivesse superpoderes e fosse indestrutível, dançamos juntos freneticamente e mordendo um ao outro.

Foi só no fim da noite, que fumando um cigarro do lado de fora notei que o casal estava se despedindo pra ir embora, chamei Tim e entramos no carro pra esperar.

Assim que eles saíram, começamos a seguir mantendo uma distância de pelo menos três carros, e conforme a estrada foi levando para os limites da cidade, Tim começou a pisar mais fundo no acelerador e ficamos mais próximos, até que em certo ponto estávamos basicamente em uma estrada deserta, apenas os dois carros.

Nesse momento, Manuel deve ter percebido que algo estava errado, pois piscou o farol e depois começou a acelerar, Tim que estava muito drogado e alucinado, acelerou o dobro e o motor roncou quando arrancamos com tudo, foi aí que uma perseguição começou, tive o bom senso de colocar o cinto de segurança e comecei a dar tapas no painel:
-PEGA ELES TIM, PEGA! - eu gritava, rindo.

Até que em certo ponto conseguimos ficar lado a lado, Tim baixou o vidro e mostrou a arma pro carro ao lado, Manuel e Lolla ficaram apavorados e continuaram tentando fugir, mas o carro dele era tão potente quanto e continuamos encostados, Tim começou a jogar o carro pra cima do deles, faíscas subiram quando as latarias rasparam uma na outra, escutei Lolla gritar do outro lado, Tim continuou empurrando eles pra fora da pista, até que apareceu uma curva e com o forte impacto do último empurrão, o carro com Manuel e Lolla foi tirado da estrada, eles levantaram poeira ao entrar na pista de terra e em seguida caíram alguns metros na ribanceira do acostamento, o carro capotou duas vezes e parou de cabeça pra baixo, com os pneus ainda rodando e muita poeira cobrindo tudo.

-PUTA QUE PARIU - gritei, quando Tim freou o carro de uma vez - PEGAMOS ELES!

-SIM PORRA - Tim me beijou, e em seguida me deu um tapa na cara - VAMOS LÁ - ele colocou a arma no bolso e descemos do carro.

Descemos escorregando naquela terra solta, até que me abaixei ao lado do carro e vi Lolla pendurada pelo cinto de cabeça pra baixo, sangue escorria de seus lábios preenchidos, o cabelo todo bagunçado pendente no ar:
-E aí sua piranha - falei - Não é tão durona agora né?!

Do outro lado não havia ninguém, Tim colocou a arma acima da cabeça, meio confuso, e então entendeu:
-Porra, ele voou pra fora do carro - Tim olhou ao redor, mas estava escuro - Cadê esse filho da puta?

Me levantei pra ajudar a procurar, mas estava difícil, era ruim pra andar e o farol do carro deles havia apagado, tudo era muito escuro, só se via apenas as luzes da cidade ao longe:
-Eu vou encher ele de bala quando encontrar! - disse Tim, furioso - Ele é muito covarde mesmo!

Foi então que escutei vidro se quebrando, e vi Lolla se rastejando pra fora do carro, ela teve dificuldade mas conseguiu se levantar, tentando desbloquear o celular, arregalou os olhos ao me ver me aproximando:
-SOLTA A PORRA DESSE CELULAR! - gritei, indo com tudo pra cima - SOLTA!

Lolla gritou a plenos pulmões, depois cambaleou pra trás tentando se afastar, mas estava muito ferida e andando curvada:
-Pelo amor de Deus Camille, fica longe - ela implorou - Só preciso chamar a emergência!

-Você não vai chamar ninguém - esbravejei, a cocaína me deixava muito mais violenta - Se não soltar esse celular eu vou te furar inteira!

Tomei a arma da mão do Tim e mirei pra ela, que ficou paralisada de pânico, até que deu um grito e tentou se virar pra correr, e foi como se meu dedo escorregasse no gatilho, o solavanco me assustou, um clarão iluminou a noite e então vi Lolla cair com tudo pra frente, depois veio o silêncio ensurdecedor.

Entrei em um estado de choque com o que tinha acabado de fazer, apenas senti Tim me puxar pela cintura e quase me arrastar de volta pra dentro do carro, ele falava muitas coisas eu apenas escutava abafado, distante, fiquei encarando as luzes da cidade até que acabei desmaiando, as sombras dominaram.

𝑷𝑶𝑹𝑵𝑺𝑻𝑨𝑹Onde histórias criam vida. Descubra agora