𝖈𝖆𝖕𝖎́𝖙𝖚𝖑𝖔 3

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-Pornô é feito para os homens, Camille - disse Frank, de braços cruzados - É isso o que eles querem ver!

Eu estava com o cabelo solto pra cobrir as marcas roxas de mão que Pauly havia deixado no meu pescoço, meus olhos estavam irritados da porra que haviam coberto meu rosto, minha garganta doía tanto que eu estava rouca:
-Foi horrível, eles me trataram como lixo, fiquei tão assustada que tive dificuldade pra ir embora, minhas pernas tremiam, me falaram coisas horríveis e foram muito agressivos, estou toda dolorida e machucada, devia ter me avisado que seria assim!

Frank fechou a cara e apontou o dedo pro meu rosto:
-Não ouse me culpar, foi você quem implorou por trabalho, e eu te arranjei, fiz minha parte - ele respirou fundo e deu um gole do whisky, estávamos em um pub - Eu sei que é difícil, mas se quer ter sucesso nesse ramo, se acostume, a pornografia é violenta, ninguém quer pagar pra ver gente fazendo amor, as pessoas são fetichistas.

Engoli a raiva em seco, pois ele tinha razão, eu estava descontando o ódio que tinha guardado daqueles quatro psicopatas na pessoa errada, então apoiei a testa nos dedos encostada no balcão e solucei, aquela maldita cena havia me feito questionar se era de fato aquilo que eu queria pra minha vida:
-É tarde pra voltar atrás, não é?!
-Sim - ele respondeu - Infelizmente sim, as pessoas vão comprar esses dois filmes, está pra sempre no mercado.

O caminho de volta pra casa foi extremamente melancólico, fui embora caminhando na chuva torrencial que caia, abracei meu próprio corpo enquanto meu queixo tremia, após oito quadras cheguei no meu prédio e subi, fui direto pro banheiro e girei as torneiras pra começar a encher a banheira com água quente, arranquei a roupa molhada e entrei lentamente, sentindo meu corpo machucado relaxar... Deslizei até deixar meu rosto submerso, e senti paz no absoluto silêncio, tudo que eu escutava eram os pequenos estalidos dentro da minha cabeça, e naquele instante eu considerei subir novamente, apenas permanecer daquela forma até perder todo o oxigênio e me permitir partir pro outro lado...

Mas eu não era tão corajosa, então quando meus pulmões começaram a queimar, subi e fiquei ofegante com os braços apoiados nos cantos da banheira... Foi quando escutei pequenas batidinhas de dedos na porta, era Harold:
-Fala aí Camille - ele estava no canto, quase espiando pra dentro - Sabe aonde a Lilly tá?

-Não, acabei de chegar em casa - respondi, sem olhar pra ele, apenas fitando meus próprios pés.

-Entendi - ele ficou em silêncio, imóvel, me olhando, e então deu um passo pra dentro do banheiro, com as mãos pra trás - Essa água deve tá fervendo, olha o tanto de fumaça, o banheiro todo embaçado.

-Eu gosto assim - minha pele pálida estava vermelha, as pontas dos dedos enrugadas.

Harold se aproximou lentamente, até se sentar ao lado da banheira, ele me encarava com aqueles olhos grandes e esverdeados, a boca entreaberta, os dedos dele tocaram a água e ele riu, sentindo o calor extremo, depois tocaram minha pele, mais especificamente meu pescoço:
-Você tá muito machucada, foi mal ter te colocado naquela roubada, eu não sabia que ele ainda estava namorado... Ele foi um cuzão.

-Relaxa - respondi, colocando a minha mão por cima da dele, no meu ombro - Uma parte disso foi da gravação de ontem, eles pegaram pesado comigo.

Harold comprimiu os lábios, em solidariedade, depois continuou desenhando em meu corpo com a ponta dos dedos, até descer pela minha barriga, e ir deslizando até o meio das minhas pernas:
-Isso é errado - sussurrei.
-Ninguém precisa saber...

Lily não merecia isso, mas eu também não merecia uma vida como aquela, o mundo não era justo com ninguém, então eu apenas fechei os olhos e aproveitei o momento, deixei que ele me masturbasse e que beijasse minha boca, fiquei tão excitada que meus pés se debatiam escorrendo na banheira...

....

O céu acinzentado de outono se misturava aos prédios na vista da sacada, eu fumava um baseado só de camiseta e calcinha, enquanto Harold preparava um miojo na cozinha, de repente a porta se escancarou e Lily entrou saltitante, deu um beijo rápido nele e veio correndo na minha direção:
-Amiga - ela batia palminhas - Preciso te mostrar uma coisa, coloca uma calça e vem comigo!

-Deixa eu terminar o baseado - respondi.
-Não! - ela me puxou pelo pulso - É super importante, anda logo vai trocar de roupa!

Coloquei um jeans surrado e partimos, as duas de mãos dadas praticamente correndo pelo corredor e descendo as escadas do prédio pois ela não queria esperar aquele elevador velho e lento...

Corremos pelas ruas rindo, ela segurava minha mão com muita força, e não parava de falar um segundo sobre a cena que tinha conseguido pro fim de semana, o cachê era baixo mas era uma cena fácil... Até que chegamos em uma loja de DVDs, fomos apressadas até os fundos aonde ficavam os filmes pornô, Lily ficou atrás de mim e cobriu meus olhos, me guiou até uma prateleira e disse:
-Está pronta?
-Acho que sim...

Quando abri, fiquei paralisada ao me ver na capa, eu era a capa do meu primeiro filme, aquele em que pedi pra levar um soco no estômago, eu estava ajoelhada com a boca aberta e os olhos borrados de lápis preto, o filme se chamava ''Submissive Dolls''...

-Parabéns amiga! - Lily me abraçou com toda a sua força - Esse é só o começo, já te vejo como uma estrela, vamos conseguir tudo que sempre sonhamos!

-Obrigada - eu a beijei no pescoço - Eu te amo.

Naquele dia saímos pra comemorar, eu tinha quatro mil do último cache então paguei um jantar de luxo pra gente em um restaurante do SoHo, depois fomos pra uma balada e enchemos a cara com bebida cara e muita cocaína, estávamos eufóricas e esperançosas, eu até tinha me esquecido do maldito trauma que a última gravação tinha me causado... Viver era uma porra de uma montanha russa, e agora eu estava prestes a começar a subir.

𝑷𝑶𝑹𝑵𝑺𝑻𝑨𝑹Onde histórias criam vida. Descubra agora