𝖋𝖎𝖒.

553 30 20
                                    

O cheiro era desagradável, eu estava ajoelhada atrás de um caminhão chupando o pau de um homem barrigudo e barbado, ele segurava minha cabeça e gemia com o rosto tombado pra cima fumando um cigarro... Quando foi gozar agarrou meu cabelo e puxou pra baixo fazendo meu queixo levantar, abri a boca e recebi cinco jatadas de esperma quente grosso na boca:
-Engole! - disse ele - Quero ver engolindo!

Senti um pouco de náusea mas engoli, já era muito acostumada, ele então tirou a carteira do bolso de trás do jeans velho que vestia, pegou duas notas de dez dólares, amassou e jogou no chão... Subiu a calça, fechou o zíper e passou o cinto, escarrou e cuspiu antes de virar as costas e entrar no caminhão.

Peguei as notas do chão e guardei dentro do sutiã, andei meio cambaleando de bêbada pelo pátio de caminhões e segui pro posto de gasolina, entrei no banheiro, abri a torneira e fiz uma concha com as mãos pra pegar água, coloquei na boca e bochechei, depois cuspi.

Encarei meu reflexo no espelho, e senti uma tristeza profunda, haviam rugas e marcas de expressão em meu rosto, a maquiagem pesada não adiantava nada, apenas evidenciava minha aparência de puta velha, a sombra azul não disfarçava as olheiras, a base não escondia as marcas da pele, meu batom já não ficava tão bom quanto antes... Eu tinha envelhecido, estava com cinquenta e dois anos, a porra de uma vida inteira vendendo aquele corpo que já não valia mais nada.

Me sentei na beira da estrada pra fumar um cigarro, notei que meu cabelo estava grudento de esperma, fiquei esperando os fios e observando os caminhões passarem com aquele barulho estrondoso e luzes ofuscantes, eu ficava ponderando o tempo todo se deveria me jogar na frente do próximo, mas sempre me faltava coragem... Então decidi que era hora de ir pra casa, já tinha feito oitenta dólares e poderia comprar comida no dia seguinte.

Eu morava em um conjunto de trailers, o lugar era péssimo e ali só viviam marginais e putas, mas era o que eu podia pagar... Entrei em casa e fui preparar o jantar, comida congelada como sempre, depois me sentei no sofá com o prato de macarrão com queijo borbulhando e comecei a pintar as minhas unhas do pé, decidi colocar um dos meus DVDs, e na cena eu estava tão deslumbrante, o cabelo preto brilhando, o sorriso de puta safada, o corpo magro e esculpido, aquela Camille Moon era imbatível, a grande promessa.

Chorei assistindo, chorei por tantos motivos que era difícil nomear, aquela juventude que havia sido levada pelo tempo, me lembrei daquela garota cheia de sonhos que alugou um apartamento com a melhor amiga no Brooklyn, tantas noites que eu havia passado imaginando como seria o futuro junto com a minha grande amiga Lily, como eu sentia falta da Lily, todos os dias...

Mesmo mais de meio século depois, eu lamentava por ter sido tão estúpida, pois eu não me arrependia do pornô, de forma alguma, a pornografia não é algo ruim, ela apenas é o que é, a forma com que lidamos com ela é que dita o que saída disso... Eu tinha tudo nas mãos, a beleza, o talento, os contatos, conheci o amor nos braços de Troy, mas tudo isso não era o suficiente pra alguém que queria sempre mais, mais prazer, mais dinheiro, mais fama... E agora eu não tinha nada, outras garotas vieram, mais bonitas, mais talentosas, mais submissas, e o meu nome foi sendo esquecido, meus fãs também envelheceram, ninguém nunca mais soube da Camille Moon, e em alguns anos, ninguém mais se importava também.

Vivi o auge da fama, tive grana o suficiente pra comprar tudo que queria, transei com homens lindos, morei em uma cobertura e usei todas as drogas possíveis, mas tudo isso era apenas memória, pois eu não tinha mais nada em mãos, estava velha, feia, morando em um trailer decadente, sobrevivendo de me prostituir com os caminheiros da cidade pois até mesmo o bordel havia me demitido...

Eu estava sozinha no mundo, sem dinheiro e sem esperança, e eu sabia que o meu final não seria feliz, pois nem todo final precisa ser feliz, na realidade a maioria não era, mas eu não tinha outra opção a não ser continuar vivendo dia após dias, encarando sempre no espelho o reflexo daquela que um dia tinha sido a maior estrela pornô viva, mas que hoje, era apenas uma puta velha escondida no interior do Texas, que trabalhava pra comer e que tinha deixado morrer dentro de si a esperança.

Certa noite, um cliente casado me procurou na madrugada, era o único horário que ele podia me ver, um advogado cinquentão que sempre me trazia algum presente, começamos a nos beijar no sofá e ele me pediu uma pausa, viu meus filmes espalhados na mesinha de centro e sorriu:
-É você né? - ele pegou um dos filmes - Eu sempre soube que você é a Camille...

Deslizei a ponta do dedo pelo rosto dele, meio tímida e lisonjeada:
-Isso importa?
-Me deixa mais excitado - ele mordeu o lábio - Eu sempre batia punheta vendo seus filmes.
-Quer assistir comigo? - perguntei.
-Seria um prazer.

Coloquei o filme no aparelho de DVD, depois me sentei no colo dele, de costas pra TV, encaixei o pau dele na minha buceta e comecei a cavalgar, encostei o rosto no ombro dele escutando minha própria voz quarenta anos atrás dando a entrevista inicial do filme, comecei a chorar baixinho, soluçando, até deixar o pescoço dele molhado, ele me abraçou e continuamos transando devagar e intensamente, eu apenas via as luzes que vinham de trás refletidas na escuridão da sala, o cliente ofegando de prazer enquanto me usava, eu chorei, e chorei, e chorei....

Era extremamente doloroso o fato de que eu tinha sonhado tanto com o futuro, criado mil possibilidades pra minha velhice, planejado ter uma carreira lendária e uma estante cheia de prêmios, mas eu estava presa em um futuro que eu sequer tinha imaginado, no único futuro que a vida escreveu pra mim.

FIM.

𝑷𝑶𝑹𝑵𝑺𝑻𝑨𝑹Onde histórias criam vida. Descubra agora