𝖈𝖆𝖕𝖎́𝖙𝖚𝖑𝖔 36

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Minha vida virou de cabeça pra baixo em questão de dias, tudo começou quando uma atriz em ascensão deu uma entrevista a um jornal famoso expondo todos os podres da indústria pornô, e nessa maldita entrevista ela citou Tim Deen como um monstro, deu detalhes de um abuso que sofreu em set, no qual ela havia dito que não faria sexo vaginal pois estava tratando de um problema, mas Tim ignorou essa exigência e a penetrou do mesmo jeito, causando uma dor excruciante e fazendo com que a ferida que ela tinha se tornasse um machucado enorme e difícil de tratar, disse ter ficado um mês sem trabalho por conta disso mas que nada foi feito pois na época ela não era famosa, e que Tim a ameaçou dizendo que arruinaria sua reputação pois ele era conhecido e tinha contatos.

Muito antes do cancelamento ganhar esse nome, Tim Deen foi cancelado, seu nome entrou em todas as blacklists das gravadoras importantes, ele ficou sem trabalho nenhum do dia pra noite, tive que consola-lo por madrugadas inteiras enquanto usávamos heroína... E o pior era que eu também estava cancelada com as gravadoras por conta da reputação de viciada e garota problema.

Tudo que Tim e eu havíamos juntado de grana foi se esvaindo conforme o tempo foi passando, manter aquela mansão dele e o meu apartamento de luxo sugou toda nossa grana, somando ao fato de que gastávamos muito com drogas e bebida, já no segundo mês percebi que não tínhamos dinheiro pra pagar o aluguel da mansão, o que resultou na expulsão, Tim deu um soco no rosto do agente imobiliário e passou três noites na prisão.

Em completo desespero, com medo de não sobrar dinheiro pro meu vício, resolvi visitar Troy, mas quem me recebeu foi uma garota latina, de pele dourada e longos cabelos negros:
-O que você quer?!
-Estou procurando o Troy - eu estava usando um moletom velho, descalça e de meias brancas.
-Ele não quer falar com você, sinto muito.
-Como assim? - gaguejei - Eu sou a Camille, deixa que eu falo direto com ele por favor.

A garota revirou os olhos e suspirou:
-Eu sei quem você é, e é por isso que sei que ele não quer te ver - ela fez um biquinho esnobe - Sou a noiva dele, sei que já tiveram uma história.

-Por favor - choraminguei - Preciso de ajuda, estou sem lugar morar, sem grana nenhuma.

-Estranho - ela me olhou de cima a baixo - Pensei que fosse uma das maiores atrizes pornô, fizesse parte do hall of fame.

Senti meu ego ser açoitado, o pânico de entrar em abstinência e não ter aonde morar me possuíram e eu acabei agredindo a moça, com um tapa e um cuspe na cara, mas fui expulsa do prédio antes que pudesse ver Troy...

Caminhei nas ruas frias e cinzentas de Nova York como um zumbi, sem grana nem pra pedir um táxi, passei por pessoas desconhecidas e implorei por cigarro, e em uma esquina eu vi uma locadora, entrei e fui para os fundos, eu estava na capa de tantos filmes, era uma estrela, mas não me parecia mais com uma, estava em declínio:
-Estrela cadente - sussurrei, sorrindo com tristeza me admirando naqueles filmes - É o meu fim.

-Camille Moon? - ouvi uma voz atrás de mim, de alguém impressionado - É você?!

Me virei, um rapaz magricelo é cheio de espinhas sorriu pra mim, eu sorri de volta:
-Sou sim, te conheço?

-Não - ele ficou boquiaberto- Mas eu sou seu fã número um, te juro, te acompanho desde o seu primeiro filme, caramba, não acredito que é você mesmo!

Mordi o lábio inferior pra não chorar, por algum motivo aquela mínima demonstração de carinho e respeito me emocionaram:
-Quer um autógrafo?
-Claro! - ele pegou um DVD na prateleira - Vou comprar esse, o meu favorito, e você assina pra mim?!

Depois de assinar, eu o abracei com força, e quando ele partiu, eu desabei no choro sentada no canto, chorei até meus olhos arderem... Chorei até cair no sono.

Só acordei quando o dono da loja me disse que iriam fechar, precisei sair de volta pra rua que agora estava fria com ventos cortantes, vaguei por vários e vários minutos, até encontrar moradores de rua, e vi que estavam usando heroína, lentamente fui me aproximando e tentando fazer amizade, não demorou pra que eu estivesse me picando com a mesma seringa daqueles mendigos, rindo com eles e me deitando em suas barracas de papelão embaixo da ponte... Meu cérebro estava tão cozido que eu não me lembrava como ir embora pra casa, não sabia mais aonde morava, se é que morava em algum lugar ainda...

𝑷𝑶𝑹𝑵𝑺𝑻𝑨𝑹Onde histórias criam vida. Descubra agora