𝖈𝖆𝖕𝖎́𝖙𝖚𝖑𝖔 10

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-Amiga, eu sou sua maior fã - disse Lily, de pé atrás de mim, enquanto assistíamos a minha cena em um site pornô - A câmera te ama e você sabe seus melhores ângulos!

Estávamos muito empolgadas, pois com dinheiro sobrando pela primeira vez havíamos comprado um computador, era um trambolho branco com tela de tubo, mas pra época estava ótimo, eu rolei pra baixo na tela e comecei a ler os comentários do vídeo.

Essa Camille é uma safada, que puta gostosa!

Queria foder esse cuzinho arrombado dela

Os pais dela devem se orgulhar da puta que colocaram no mundo!

Estou apaixonado nela, aonde encontro mais vídeos?!

Minhas mãos estavam cobrindo minha boca, era muito legal conseguir ver os feedbacks, me levantei e fui tomar uma cerveja enquanto Lily lia os comentários nas cenas dela... Por algum motivo, eu estava meio hipnotizada, olhando fixamente pro nada enquanto dava longos goles, encostada na varanda da sacada, me apoiei nos ombros e tombei a cabeça pra trás, o vento assoprou meus longos cabelos pretos, e eu sorri pro nada, olhando pro céu e sentindo a brisa fresca do crepúsculo.
...

A cada dia que passava, eu sentia mais necessidade de usar cocaína pra me sentir melhor comigo mesma, era como se fosse um complemento pra minha felicidade e um remédio pra minha melancolia crônica, então cheirei três carreiras no banheiro e fui me trocar pra ir correr no parque.
...

Era como se a qualquer momento meus pés fossem sair do chão e meu corpo flutuar quando eu corria no efeito do pó, meu sangue pulsava com eletricidade dentro das veias e eu rangia os dentes dando o máximo de mim, ao meu redor as árvores e a penumbra pareciam apenas flashs e sombras, até que no êxtase e na empolgação extrema comecei a ficar meio desorientada e perder o senso de direção, tropecei nas minhas próprias pernas e fui lançada no ar em direção ao matagal, rolei no chão por algum tempo, sendo arranhada pelos galhos e me machucando nas pedras, só parei de rolar quando caí de quatro, dei um grito de dor e fiquei recuperando o fôlego:
-Que porra - suspirei, olhando as palmas da minha mão sangrando - Inferno do caralho!

Ofegante, tombei pro lado e me encostei em uma árvore, meus joelhos ardiam em carne viva, levou algum tempo até eu me acostumar com a ardência, e foi então que tomei um susto, ao notar um isqueiro se acendendo na escuridão na minha frente, entre as árvores.
-Quem tá aí?!

A sombra se aproximou, o som dos galhos quebrando aos seus pés me deu calafrios, eu me encolhei procurando alguma pedra no chão coberto de folhas:
-Vou repetir, o que você quer?!

Até que a luz do poste que entrava entre as árvores iluminou seu rosto, que me deixou apavorada ao reconhecer:
-Não precisa ter medo, você já me conhece.
Era Pauly, fumando um cigarro, com aquela cara de psicopata e um sorriso perverso de canto.

Fiz esforço pra me levantar, mas ele estava cada vez mais próximo, até que me encurralou na árvore, colocando um braço de um lado e o corpo de outro, tentei me soltar mas ele era forte:
-Me seguiu até aqui?
-O parque é público, só vim fumar um cigarro.
-Ah claro, que coincidência...

Ele então colocou a mão no meu pescoço e começou a suspirar no meu ouvido, eu me encolhi mas ele era feroz, passou a língua no meu rosto como um animal:
-Chega de fugir de mim sua putinha, já passou da hora de eu te dar outra lição!

Fiz força pra empurra-lo, mas ele era firme como uma rocha, o peitoral forte por baixo da camiseta:
-Agora não Pauly, eu não tô afim, acabei de me machucar inteira e preciso de um banho!

Pauly fechou a mão ao redor do meu rosto, me olhando feio:
-Vai ser agora sim, e não tem problema estar machucada, porque eu quero te machucar muito mais!

Cravei as unhas na mão dele e comecei a me debater:
-Qual o seu problema? Eu já disse que não quero, me solta!!!! 

Ele apertou mais ainda meu rosto, encostando a testa na minha com muita força:
-Tá me dando o fora, é isso mesmo?!
-Sim! Me deixa ir!
-Me dá um motivo!

Precisei pensar rápido, não queria deixá-lo ainda mais irritado, só queria sumir dali o mais rápido possível:
-Não estou mais fazendo sexo casual, é isso...

Pauly ficou me encarando no fundo dos olhos, e do nada deu uma gargalhada de maníaco:
-É mesmo? - ele comprimiu os lábios, realçando mais ainda seu queixo grande e a cara de maluco, a pele pálida refletindo a luz - E você acha que algum cara vai assumir uma vadia do seu tipo? Que alguém vai ter coragem de namorar um depósito de porra como você? Se enxerga sua cadela, se não for pra fuder, ninguém vai te querer!

Foi então que ele escarrou e cuspiu no meu rosto, deu risada e saiu andando, fumando seu cigarro... Me deixou lá, com os olhos marejados, enquanto a cuspida escorria espessa pelo meu rosto, fiquei me sentindo um lixo, pois no fundo ele tinha razão, por pior que fosse aceitar a realidade, mas eu não era alguém pra se orgulhar, eu era apenas um objeto...

....

Assim que cheguei no apartamento, vi Lily deitada no sofá com Harold, estavam fumando um e assistindo Os Simpsons, peguei uma garrafa de vodka e fui pro banheiro...

Lá arranquei a roupa e enchi a banheira, peguei um frasco de Xanax, coloquei três na palma da mão e mandei pra dentro com um gole da vodka, depois, trêmula, fiz uma carreira de cocaína e cheirei... Entrei na banheira, a água ficou rosada com o sangue, limpei meu rosto e comecei a chorar, um choro doloroso que vinha do fundo da minha alma, eu não saberia nomear o motivo exato daquelas lágrimas, talvez fosse a soma de tudo, os traumas do passado que eu fazia questão de recalcar no inconsciente, os fantasmas do presente que me atormentavam, e a incerteza do futuro... De um futuro sombrio, solitário e frio.

𝑷𝑶𝑹𝑵𝑺𝑻𝑨𝑹Onde histórias criam vida. Descubra agora