Capítulo 2: Vamos nos mudar.

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Encarei minha mãe, observando-a negar com a cabeça, como se não acreditasse que eu estava mesmo ali. Eu tinha a ligado para avisar do que eu pretendia, mas não fiz o mesmo com o meu pai. Fazia um tempo que eu tinha parado de considerá-lo digno da minha consideração.

—Anteriormente tínhamos nos reunido aqui em vista do desejo de guarda tando do senhor Rafael Mentes, quanto da senhora Angélica Castro. —O juiz observou alguns papéis na sua frente, antes de erguer os olhos pra mim. —Mas na última semana o senhor Eduardo Mentes, irmão da menor, demonstrou seu desejo em possuir a guarda dela.

—Você perdeu a porcaria do juízo? —Meu pai indagou, me fazendo comprimir os lábios e balançar a cabeça negativamente, porque não esperava outra reação dele a não ser essa. —O que pensa que está fazendo?

—Sr. Mendes, esse não é o momento para discussões. Estamos aqui para decidir o futuro da menor. —O juiz interviu, parecendo incomodado com o fato dele ter se alterado um pouco ao falar comigo. Eu esperava que ela levasse isso em consideração quando fosse decidir alguma coisa, porque era óbvio que meu pai não tinha qualquer condição mental de ficar com ela.

—Me desculpa, meritíssimo. Só estou preocupado com a minha filha. —Meu pai ergueu a mão, como se fosse um santo, antes de ficar quieto de novo. Minha mãe olhou pra ele com a expressão mais odiosa possível, como se quisesse matá-lo com as próprias mãos. Eu não a julgaria se ela realmente fizesse isso.

—Sr. Mendes, em vista do seu pedido, fizemos algumas análises em relação a sua vida que possam interferir diretamente na da sua irmã. —Me ajeitei na cadeira quando percebi que o juiz estava falando comigo dessa vez. A tensão voltando com tudo, como se eu soubesse que nem tudo seria perfeito. —O senhor tem atualmente 23 anos. É estudante e trabalha no período da tarde. Seu salário é suficiente para todas as suas despesas, incluindo o apartamento que o senhor divide com dois colegas de turma. Onde pretende morar com a sua irmã se ganhar a guarda dela?

O juiz desviou os olhos dos papéis para me encarar, enquanto eu abria a boca para respondê-lo. Só que nada saiu, porque me dei conta de que a resposta que eu ia dar provavelmente não era a que ele desejava ouvir e que me ajudaria a ganhar aquilo.

[...]

Entrei no apartamento com Érika atrás de mim. O juiz não fazia ideia de que ela já morava comigo, mesmo que passasse alguns dias com a nossa mãe. Mas aquilo não importava, porque ele não considerava que eu fosse bom o suficiente pra ela. Minha vida era uma bagunça, e eu não conseguiria ficar com Érika se não a colocasse nos eixos.

—Ei, vocês voltaram cedo. Estávamos esperando... —Bernardo parou de falar quando Érika passou direto para o quarto, batendo a porta com força atrás delas de uma forma que eu tinha certeza que todo prédio tinha ouvido.

—O que aconteceu? —Felipe indagou, enquanto eu encolhia os ombros de frustração.

—Bom, pra começar, meu salário não é suficiente pra nós dois, mesmo que meus pais acabem pagando uma pensão. Eu ainda preciso ter condições para sustenta-la. —Falei, caminhando até o sofá para me sentar ao lado deles. A frustração causando uma dor insuportável na minha cabeça. —E depois, não posso trazer Érika pra morar comigo em um apartamento junto com outros dois caras.

—Ela meio que já mora aqui. —Felipe afirmou, me fazendo lançar a ele um olhar sarcástico.

—É, eu sei disso, caralho. Mas o juiz não sabe. —Resmunguei, porque aquilo não ajudava em nada. —Eu e a Érika vamos nos mudar. Não posso continuar aqui com vocês se quiser ficar com ela.

—Sobre isso... —Bernardo começou, lançando um olhar questionador na direção de Felipe, antes de me encarar. —Já estávamos conversando sobre isso a alguns dias, mas não queríamos te deixar na mão. Só que eu e o Felipe estávamos pensando em nos mudar para o apartamento da Manu e da Júlia. Sabe, ir morar com elas.

—Se fizermos isso, você não precisa sair daqui. Ainda vamos morar literalmente na porta da frente. —Felipe completou por Bernardo, enquanto eu pensava naquela possibilidade.

—Eu não teria condições de pagar o apartamento sozinho. —Falei, negando com a cabeça, porque terei que sair dali de qualquer forma.

—Você pode arrumar outra pessoa pra dividir com você. Uma mulher. Eles não iriam problematizar isso também, ou iam? —Bernardo indagou, me fazendo hesitar, porque estava me dando conta de que aquilo era mesmo uma opção muito boa.

—Isso não é uma má ideia. —Sussurrei, começando a pensar nas possibilidades. Não precisaria sair do meu apartamento, além de realmente continuar próximo dos meus amigos. Érika já estava morando ali e não precisaria mexer em nada no seu quarto. Eu já dormia na sala, então aquilo poderia mesmo funcionar. —Posso tentar arrumar outro emprego agora nas férias. Isso me daria mais alguma renda.

—Exatamente. Vamos te ajudar com isso, ok? Tiramos nossas coisas daqui e já colocamos o quarto pra alugar. —Felipe afirmou, enquanto eu me sentia muito agradecido por eles. Sabia que eles só não tinham se mudado pro apartamento das meninas ainda por causa de mim. Mas agora não havia motivos pra eles ficarem ali. —Estamos de férias. Quando as aulas voltarem daqui algumas semanas, vai haver alunos novos que vão entrar no segundo semestre. Não vai ser difícil encontrar uma garota que esteja procurando um lugar pra morar.

—Mas tem uma questão muito importante. —Bernardo tocou meu ombro, me lançando um olhar de alerta. —Lembre-se que você está fazendo isso pela sua irmã. Então, pelo amor de Deus, não vai ficar com a garota e deixar ela furiosa logo depois. Isso só ia te trazer mais problemas.

—Claro né, seus idiotas. Isso nem tinha passado na minha cabeça. —Bufei, porque sabia que meus amigos não tinham muita confiança em mim no que se referia a mulheres. Mas eu tinha tido um exemplo ruim o suficiente para querer tentar me envolver com uma. —Qualquer garota que venha morar aqui, independe de quem seja, vai ser proibida pra mim.


Continua...

Todas as lembranças perdidas / Vol. 3Onde histórias criam vida. Descubra agora