Capítulo 36: Você tem uma tatuagem no quadril?

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Camila

Achei que iria acordar de manhã e Eduardo já teria saído da minha barraca para voltar a que ele deveria dividir com Érika. Mas ele ainda estava ali, dormindo ao meu lado, parecendo uma miragem de tão perfeita que a visão era. Acho que precisaria me acostumar com a ideia de que Eduardo não estava mais chateado comigo. De que ele me queria por perto. E, principalmente, de que ele havia sentido minha falta.

Soltei um suspiro feliz, percebendo que aquele podia ser o melhor momento da minha vida. Me aconcheguei mais em Eduardo, sentindo as mãos de me apertarem contra si involuntariamente. Ele murmurou alguma coisa que não entendi e que me arrancou uma risada, antes de abrir os olhos sonolentos e me encarar.

—Bom dia. —Sussurrei, abrindo um sorriso pra ele, observando a expressão de sono que tomava conta do seu rosto e o deixava adorável. Parecia alguém totalmente diferente e eu estava sem fôlego só de ter a oportunidade de ver isso.

Eduardo me encarou por um longo momento, fechando os olhos muito lentamente, como se fosse voltar a dormir. Mas então ele sorriu. Um sorriso preguiçoso que teria deixado minhas pernas moles se eu estivesse de pé. Um sorriso doce, antes de se inclinar na minha direção e me beijar, murmurando um bom dia contra os meus lábios.

—Você fica uma gracinha quando acorda. —Falei, soltando uma risada quando Eduardo abriu os olhos pra me encarar e ergueu as sobrancelhas, parecendo se divertir com o que eu tinha falado.

—Você também fica uma gracinha quando está bêbada. —Retrucou, fazendo o calor subir para minhas bochechas, porque aquele era um ponto que iria me envergonhar eternamente. Eu tinha passado do ponto e Eduardo estava presente para ver tudo. Mas o melhor de tudo? Ele cuidou de mim e me ouviu, mesmo que eu não estivesse sóbria e pensando direito.

—Podemos fingir que esse dia não existiu? —Indaguei, escondendo meu rosto quente contra o peito dele, sentindo-o vibrar quando Eduardo riu do meu constrangimento.

—Impossível, Cami. Você com ciúmes é um evento. —Afirmou, me fazendo bufar, enquanto ele continuava rindo. —E depois, foi graças a esse dia que eu te ouvi. Não tem como fingir que ele não existe.

—A gente pode fingir que você resolveu me ouvir depois de perceber o quão tonto estava sendo. —Sugeri, afastando meu rosto para ver a reação dele.

Eduardo cerrou os olhos, me encarando com uma expressão sarcástica que me deixou com vontade de rir. Mas em vez de rebater ou brincar comigo, ele apenas me deu mais um daqueles seus sorrisos preguiçosos, que eu estava começando a achar que seriam os meus favoritos, e se inclinou para me beijar de novo.

[...]

Eu e Eduardo saímos da barraca antes de todo mundo. Enquanto ele saiu para buscar mais lenha, eu em sentei ao redor da fogueira, colocando a água pra esquentar no fogo. Estava um friozinho agradável, mas eu sabia que era questão de tempo até esquentar e todos nós irmos pra cachoeira ou fazer alguma trilha.

—Então quer dizer que você roubou meu irmão de mim no meio da noite. —Érika saiu da barraca e veio se sentar ao meu lado, enquanto eu soltava uma risada nervosa e lançava um olhar inocente na direção dela. —Que bom, já estava na hora do meu irmão criar vergonha na cara.

—Você não recebeu nenhuma visita no meio da noite? —Indaguei, como quem não queria nada, vendo Érika franzir a testa e balançar a cabeça negativamente, como se não tivesse entendido onde eu queria chegar com aquilo.

—Não. Ainda bem, né? Imagina se uma cobra entra na minha barraca no meio da noite? Eu ia acordar todo mundo com meus gritos. —Afirmou, enquanto eu soltava uma risada e negava com a cabeça, me perguntando o que diabos estava acontecendo ali. Tinha achado que Léo estava escondendo alguma coisa, mas agora tinha a sensação de que ele só estava me trolando.

Como se soubesse que eu estava pensando nele, o gaúcho saiu de dentro da própria barraca, usando só uma calça de moletom. Eu e Érika olhamos no mesmo instante, observando ele erguer os braços pra cima e se espreguiçar, deixando um mar de músculos a mostra. Érika desviou os olhos para a fogueira rapidinho, com as bochechas tão vermelhas que era difícil fingir naturalidade, mesmo que ela tentasse.

—Você tem uma tatuagem no quadril? —Érika indagou, enquanto eu desviava os olhos e apertava meus lábios com força, tentando não sorrir ao ouvir a pergunta dela, porque também tinha notado a ponta da tatuagem que desaparecia na calça de moletom que ele estava usando.

—Tenho. —Léo olhou na nossa direção, sem se preocupar em vestir uma camisa quando veio se sentar no tronco do outro lado da fogueira, de frente pra nós. —Por quê?

—Ah, nada, só nunca pensei que tatuagens fossem a sua cara. —Érika deu de ombros, agindo como se não estivesse nem um pouco interessada no assunto, mesmo que tivesse sido ela a puxa-lo. —O que é?

—Quer ver? —Léo indagou, ficando de pé e colocando as mãos na borda da calça, como se tivesse a intenção de abaixá-la. Érika ficou incrivelmente vermelha, soltando um gritinho de incredulidade, enquanto tampava os olhos com as mãos.

—É claro que não! —Exclamou, ficando de pé e cambaleando para a própria barraca, ainda com as mãos tampadas. Léo olhou pra mim, antes de cair na gargalhada. —Você é um idiota, sabia? Pode enfiar essa tatuagem no você sabe onde. Não quero mais saber também.

Soltei uma risada ao ver Érika voltar para dentro da barraca rapidinho, enquanto Léo tentava controlar a gargalhada. Ele olhou na minha direção com uma expressão divertida, como se atormentar Érika fosse o passatempo favorito dele. Neguei com a cabeça, sem conseguir conter o sorriso que estava nos meus lábios.

—Do que vocês dois estão rindo? —Eduardo me deu um susto quando surgiu atrás de mim, soltando a lenha que trazia nos braços, enquanto olhava intrigado entre eu e Léo.


Continua...

Todas as lembranças perdidas / Vol. 3Onde histórias criam vida. Descubra agora