Camila
Alguém tinha plantado uma bomba na minha cabeça e a contagem regressiva estava muito perto de terminar. Eu a sentia latejando de uma forma que me deixava quase sem fôlego e com o enjoo na minha garganta. Precisava me lembrar do porque eu não costumava beber demais, mesmo que ontem eu tivesse chutado o balde.
Abri os olhos, sentindo minhas pálpebras pesadas e doloridas. Meu estômago queimava como se eu tivesse comido brasas no jantar. Aquela era certamente a pior ressaca do século. Me virei na cama, puxando o ar com força quando tentei alcançar meu celular na mesinha ao lado, mas acabei batendo a mão em uma garrafinha de água.
Ergui a cabeça, franzindo a testa ao ver os remédios que estavam ali em cima, bem ao lado dela, e sem qualquer sinal do meu celular. Não costumava deixar remédios ao lado da cama, então aquilo ali não havia sido eu. Engolindo em seco, arrisquei olhar pra baixo, fechando os olhos com força quando o perfume de Eduardo bateu com força contra mim, quando vi a camiseta que eu estava usando. Uma camiseta dele.
Afundei na cama, me dando conta de que a madrugada turbulenta não tinha sido um sonho vergonhoso e esquisito, mas sim uma coisa muito real. Ele tinha me visto chorar de ciúmes. Ele me ouviu contar que havia apanhado do meu pai depois que voltei pra casa naquela noite. Ele sabe agora que eu acordei no carro, quando já estávamos bem longe de casa e eu nem podia ligar ou mandar mensagem pra ele porque meu celular tinha sumido.
Ele tinha me ouvido contar tudo isso e então cuidado de mim, prometendo que nunca mais ia se afastar. Uma dor diferente atingiu meu coração, enquanto eu me perguntava se ele acreditava mesmo em mim ou se só falou da boca pra fora ontem a noite, quando eu estava virada do avesso. Não tinha como eu saber, porque ele já não estava mais ali.
Me sentei na cama, observando os remédios que estavam ali, antes de tomá-los. Tive o banho mais demorado possível, porque me sentia horrível. E depois que sai, escondi a camiseta de Eduardo nas minhas coisas, porque não tinha intenção de devolvê-la pra ele. Na cozinha, encontrei o café prontinho, além de um pedaço de torta, onde um pedaço de papel com o meu nome estava grudado.
—Se isso for um sonho, eu espero não acordar. —Sussurrei, porque tinha certeza que Eduardo tinha feito aquelas coisas pra mim e isso me deixava quase balançada demais. Mas aquilo também não fazia sentido, porque ele não estava em casa. Onde ele poderia ter ido tão cedo assim?
Caminhei até a porta de entrada quando alguém tocou a campainha. Eu ainda me sentia um caco, com minha cabeça doendo e meus olhos pesados de sono, pelas lágrimas e pelo álcool de horas atrás. Não me surpreendi ao ver que era Júlia e Manu que estavam ali logo cedo.
—Meu Deus, você está bem? —Manu indagou, parecendo se assustar com meu estado físico naquela manhã. Soltei uma risada, balançando a cabeça que sim.
—Eu só bebi demais ontem a noite. Estou com uma ressaca horrível.
—Bah, espero que isso não seja uma desculpa pra hoje! —Júlia exclamou, enquanto eu franzia a testa, tentando me lembrar o que poderia ter hoje pra ela falar uma coisa assim. —O acampamento, Camila. Não acredito que você esqueceu!
—Ah, desculpa. —Soltei um muxoxo, balançando a cabeça negativamente. —Eu não esqueci, é só que... —Olhei para as duas, percebendo pela cara delas, que elas não iriam aceitar que eu não fosse pra esse acampamento. —Eu nem tenho barraca meninas, onde eu vou dormir? E eu nem conversei com meu chefe.
—O Edu já arrumou uma barraca pra você. Liga pro seu chefe. Ele é gente boa, aposto que vai deixar você ir. —Manu afirmou, enquanto eu piscava várias vezes, sentindo meu coração ficar ainda mais balançado.
—O Edu conseguiu uma barraca pra mim? —Repeti, vendo as duas confirmarem com a cabeça, com sorrisos muito grandes no rosto. Soltei um suspiro pesado, abrindo mais a porta para que as duas entrassem. —Tudo bem, eu vou ligar pro meu chefe.
[...]
Entreguei minha mochila para Bernardo, olhando para a entrada do estacionamento, me perguntando porque Eduardo estava demorando tanto. Sabia que ele tinha ido buscar Érika, mas ele tinha saído cedo e ainda não havia voltado. Já tínhamos todos almoçado e agora carregávamos a kombi para partir.
—Ele já está vindo, não precisa fazer essa cara. Ele só ia no mercado comprar tudo que a gente ia precisar antes de vir. —Léo chegou do meu lado, me fazendo lançar a ele um olhar um tanto atravessado. —Você ia odiar ficar com a gente se o Eduardo não estivesse junto, pelo visto.
—Por que você não foi visitar a Érika na casa do pai dela? —Indaguei, ignorando a provocação dele. Léo hesitou, como se a pergunta o pegasse de surpresa.
—E quem disse que eu não fui? —Retrucou, piscando na minha direção como se aquilo fosse um segredo nosso, antes de se afastar de mim para ir ajudar Bernardo e Felipe a carregar as coisas.
Fiquei sem palavras por um momento, me perguntando se Júlia ou Eduardo não sabiam que Léo tinha ido visitar Érika. Ou ele estava mentindo, o que não seria nenhuma surpresa. Parei de pensar nisso quando vi o carro de Eduardo chegando. Meu coração que estava calminho, disparou como um foguete prestes a ser lançado no espaço.
Fingi estar arrumando as coisas dentro da kombi quando ele desceu do carro junto com uma Érika quase feliz demais. Meu nervosismo era tanto que eu sentia um frio enorme na barriga, enquanto tentava pensar em como agir com Eduardo daqui pra frente. Ele iria falar comigo ou iria me ignorar? Eu deveria falar com ele ou o ignorar?
—Oi. —A voz de Eduardo soou bem atrás de mim, fazendo meu corpo inteiro gelar, enquanto minhas pobres bochechas ficavam quentes, revelando minha ansiedade. —Você está melhor?
—Sim, sim. —Me virei pra ele, mas ainda sem coragem de o encarar, então fitei a adorável kombi de Felipe. —Tomei os remédios que você deixou pra mim do lado da cama. Obrigada por isso. E desculpa pelo trabalhão que eu te dei ontem. Juro que não costumo ficar bêbada daquele jeito. Foi a primeira vez, na verdade.
—Por que você não olha pra mim? —Eduardo questionou, e minhas bochechas esquentaram ainda mais, porque aquela era a última coisa que eu esperava que ele me perguntasse.
—Estou um pouco constrangida, pra falar a verdade. —Soltei, muito baixo, mas sabia que ele tinha ouvido quando observei um sorriso surgir nos lábios dele, muito lentamente, quando ousei olhar pra ele por um segundo e então desviar os olhos de novo.
—Foi uma noite incomum, realmente. Mas acho que nós dois estávamos precisando dela. —Eduardo afirmou, enquanto eu comprimia meus lábios, tomando a coragem que faltava para encara-lo e não desviar os olhos dessa vez.
—Então eu... —Mordi o lábio, com medo de dizer aquelas palavras em voz alta. —Eu recuperei meu melhor amigo?
—Você recuperou muitas coisas ontem a noite, Cami. Não só seu melhor amigo.
Continua...
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Todas as lembranças perdidas / Vol. 3
RomanceCinco anos atrás Eduardo teve seu coração partido pela sua melhor amiga, assim que ela desapareceu e nunca mais entrou em contato, logo após ele ter se declarado pra ela. Depois disso, ele decidiu que nunca mais iria se envolver com alguém de novo...