Eduardo
Fiquei longe de Camila pelo restante do dia, me perguntando porque fui tão idiota e demorei tanto pra abrir meus olhos. A forma como ela olhava pra mim, a forma como ela olhou pra mim quando a gente se reencontrou, deixava claro que ela jamais teria ido embora sem se despedir. Ela jamais teria dito que me amava e depois partido meu coração.
—Por que diabos você não para de olhar pra Camila? —Bernardo indagou, enquanto voltávamos pro acampamento, assim que começou a escurecer. As garotas estavam vindo atrás de nós, gargalhando tão alto que era difícil ignorar. —Por acaso vocês dois ficaram ontem?
—Ela estava super bêbada, cara. —Falei, lançando um olhar demorado para Bernardo, tendo um deja vu de quando ele chegou em casa na manhã seguinte depois de ter cuidado de Manu quando ela estava bêbada. Mas diferente de Bernardo que acordou com um chupão no pescoço, eu tinha acordado com uma verdade difícil demais de suportar.
—Então por que está olhando pra ela assim? —Bernardo insistiu, me fazendo comprimir os lábios, enquanto chutava a grama no chão.
—Você decidiu parar de fingir que a odiava? —Felipe questionou, e eu acabei bufando em incredulidade, porque eu nunca odiei Camila. Aquilo estava longe de ser verdade.
—Primeiro, eu nunca odiei a Camila e vocês dois sabem disso. Eu achava que ela tinha me magoado e tinha um ressentimento enorme. Mas odiar, eu nunca odiei. —Corrigi, observando meus dois melhores amigos trocarem um olhar demorado, tentando esconder os sorrisos, coisa que me fez revirar os olhos. —Segundo, eu só estou olhando pra ela porque nós dois vamos conversar mais tarde e eu estou nervoso pra caralho.
—Então você resolveu ouvir o lado dela da história. —Bernardo constatou, e eu acabei balançando a cabeça que sim, mesmo que não fosse exatamente aquilo.
—Ela contou algumas coisas quando estava bêbada. Eu vou ser um grande babaca se não conversar com ela depois disso. —Falei, franzindo a testa quando os dois riram, como se já me considerassem um babaca só por não tê-la ouvido antes. —Vocês são ótimos amigos, sabia? Os melhores que alguém poderia ter.
—Vou ignorar o tom sarcástico na sua voz, pelo bem da nossa amizade. —Felipe afirmou, fazendo Bernardo rir, enquanto ia até a fogueira por mais lenha, assim que chegamos no acampamento.
—O que eu sei, é que está na hora de vocês dois retribuírem minha ajuda com as namoradas de vocês. —Afirmei, vendo os dois pararem e olharem pra mim, erguendo as sobrancelhas ao mesmo tempo.
—Que mané ajuda, Edu? Não lembro de você me dando conselhos amorosos. —Bernardo exclamou, enquanto Felipe caía na risada, me vendo balançar a cabeça negativamente e cruzar os braços na frente do peito.
—Eu ajudei você a pintar o quarto da Manu de roxo. E você... —Apontei para Felipe, que comprimiu os lábios para não rir mais ainda quando percebeu o que eu ia dizer. —Você fez a gente separar jujubas por cor, só porque a Júlia gostava mais das roxas e vermelhas, além de ficar fiscalizando o trabalho como um maníaco perfeccionista.
—É verdade. —Bernardo concordou, fazendo Felipe exibir uma expressão incrédula. —E ainda fez a gente usar luvas e lavar as mãos cinquenta vezes antes.
—Claro, como eu ia saber onde vocês andaram colocando essas mãos de vocês? —Felipe questionou, e eu o lancei um olhar fulminante, enquanto Bernardo negava veemente com a cabeça. —Olha, tanto faz. A gente vai te ajudar, óbvio.
—É claro que vão. —Repeti, soltando uma risada, antes de olhar pra trás quando ouvi a voz animada de Camila, vendo-a se afastar das garotas até sua barraca.
Queria tanto agrada-la de alguma forma depois de vê-la chorando daquele jeito nos meus braços. Eu sabia que um pouco era pelo álcool. Mas o sentimento era real. A dor que ela estava sentindo e guardando pra si mesma. Eu só queria fazer algo que sabia que a faria sorrir e a deixaria feliz. E sabia perfeitamente o que fazer.
[...]
A noite tinha caído rápido demais, como um lembrete de que estávamos bem longe da cidade. Eu e Léo conseguimos arrastar três troncos para deixar ao redor da fogueira, onde nos sentamos. Érika foi a responsável por distribuir os marshmallow, antes de ir se sentar entre Júlia e Camila.
Olhei para a garota que estava sentada na minha frente, mas do outro lado da fogueira, com os olhos atentos no próprio marshmallow, como se não quisesse deixa-los queimar. Como se soubesse que estava sendo observada, Camila ergueu os olhos e me encarou, abrindo um sorriso tímido pra mim.
Fiquei observando Camila pelo restante da noite, enquanto conversava com Léo. Assim como Camila me olhava em alguns momentos, ficando vermelha sempre que notava que minha atenção estava nela. Fiquei contando os minutos até todo mundo resolver ir dormir.
Bernardo e Manu iriam dividir uma das barracas, assim como Felipe e Júlia. Léo tinha trazido e armado uma barraca só pra ele, pra não atrapalhar a irmã e o namorado. Eu iria dividir minha barraca com Érika, enquanto tinha levado outra pra Camila, porque imaginava que ela nunca tinha ido acampar antes e provavelmente não teria o necessário.
Observei minha irmã dormindo, percebendo o quão feliz eu estava por ela estar ali, além da tranquilidade em saber que não precisava me preocupar com ela. Peguei meu celular, vendo que já fazia mais de uma hora que todos tinham ido se deitar. Só esperava que Camila não tivesse dormido.
Sai da minha barraca com cuidado para não acordar Érika, colocando mais lenha na fogueira, para que ela ficasse acesa a noite toda. Olhei na direção da barraca de Camila, observando que não havia qualquer movimento ali. Pensei em checar se ela estava dormindo, mas balancei a cabeça negativamente e segui em direção a floresta, onde ficava a cachoeira.
Quando mais o som da cachoeira ficava alto, mais rápido meu coração batia, além do nervosismo que deixava minha barriga gelada. Era engraçado como o Eduardo de cinco anos atrás se sentia exatamente assim sempre que ficava ao lado da melhor amiga. O nervosismo por ficar perto dela. A ansiedade de vê-la sorrindo. A felicidade em saber que ela estava me esperando. Era o mesmo sentimento. A mesma sensação de euforia por estar transbordando.
E quando cheguei na cachoeira, precisei parar e puxar o ar com força, sentindo que estava prestes a ficar sem fôlego quando a vi dentro da água, mergulhando, antes de sair e passar a mão pelos cabelos molhados. O calor se espalhou pelo meu corpo, enquanto eu sentia uma faísca queimando no ar quando Camila percebeu que eu estava ali, antes mesmo de olhar na minha direção.
Continua...
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Todas as lembranças perdidas / Vol. 3
RomanceCinco anos atrás Eduardo teve seu coração partido pela sua melhor amiga, assim que ela desapareceu e nunca mais entrou em contato, logo após ele ter se declarado pra ela. Depois disso, ele decidiu que nunca mais iria se envolver com alguém de novo...