O sol estava se ponto quando chegamos na praia. Estava calor ainda, além de ter pessoas aproveitando o mar e descansando na areia. Mas levei Camila para uma parte mais vazia da praia, onde nos sentamos e ficamos observando o por do sol em silêncio. O horizonte pintado de laranja sobre as ondas do mar. Era uma vista linda demais pra ser real.
—Como a Érika está? —Camila indagou, puxando o ar com força como se falar fosse difícil pra ela naquele momento.
Tínhamos passado o dia todo juntos. Tentei a distrair de todas as formas possíveis, mas mesmo quando ela parou de chorar, sua expressão era a mais despedaçada possível. Aquilo me deixou com o coração apertado, tentando pensar em algo que pudesse a deixar bem. Que pudesse lhe dar pelo menos um pouco de felicidade naquele dia triste.
Tinha ligado para Paulo e contado sobre o pai de Camila. Claro que ele nem mesmo hesitou em libera-la do trabalho hoje, até que ela se sentisse melhor e pudesse ir trabalhar. Eu a entendia. Se meu pai morresse, mesmo com todos os problemas que tínhamos, eu também ficaria mal. Ficaria de luto.
—Ela está bem. Acho que vou ter que me acostumar com ela fazendo loucuras pra irritar meu pai. Talvez uma hora ele desista da guarda dela. Ou eu ganhe dele na justiça. —Falei, passando o braço ao redor de Camila, observando os olhos dela se voltarem pra mim. —Como você está? Tem algo que eu possa fazer por você?
—Você já fez tudo por mim. —Afirmou, encostando a testa na minha, enquanto soltava uma suspiro pesado. —Não sei o que há de errado comigo. Quer dizer, até sei. Mas me sinto tão idiota por estar de luto por aquele homem. Ele não fez nada de bom pra mim e pra minha mãe. Ele só me fez sofrer. Mas... —Camila abriu os olhos, com uma lágrima escorrendo pelas bochechas. —Mesmo longe, quando eu pensava nele, sabia que não estava sozinha no mundo. Eu podia não poder contar com nada vindo dele, mas pelo menos ele estava existindo. Dando algum sentido pra minha existência. Mas agora ele morreu. Ele se foi, assim como a minha mãe. E a primeira coisa que pensei foi que eu estava livre, mas também estava sozinha. Que não havia mais ninguém da minha família no mundo além de mim.
—Eu sei. Eu entendo. —Falei, erguendo a mão para limpar aquelas lágrimas que escorriam das bochechas dela. —Mas você não está sozinha. Estou aqui com você, Cami. Lembra que eu prometi, não é? Vou cuidar de você e juro que você nunca vai se sentir sozinha.
Beijei a ponta do nariz dela, antes de me inclinar e beijar seus lábios. Foi um beijo calmo. Quase lento demais. Mas se era daquilo que Camila precisava, então eu daria exatamente aquilo pra ela. Podíamos ter ficado 5 anos longe um do outro, mas aquelas coisas que eu disse a ela na casa da árvore ainda estavam ali, dentro de mim.
—Meu advogado vai cuidar de tudo pra você. —Falei, assim que nos afastamos, vendo-a concordar com a cabeça, com uma expressão agradecida. —O corpo dele vai ser trazido pra cá, pro enterro. Você quer ir até lá?
—Não, isso não. —Camila balançou a cabeça negativamente na mesma hora, como se só a ideia de ir até lá a deixasse enjoada. —Isso soa tão engraçado, sabe? Um homem que era agressivo com a esposa. Que acabou com a vida dela e da própria filha, morrendo em um acidente de carro, sem pagar por nada do que fez. Queria ter tido coragem de denunciá-lo, mas tinha medo da reação da minha mãe e do que ela faria.
—Não se culpe por nada disso. Você era nova demais naquela época. Eu também sabia e não fiz nada. —Afirmei, mesmo que soubesse agora que meu pai sabia e também não tinha feito nada.
Mas ele era adulto o suficiente para saber das consequências de tudo isso. Camila era uma vítima e eu, mesmo que ela tivesse me pedido para não fazer nada, errei até certo ponto também. Mas jamais vou perdoar meu pai por falar sobre isso tão casualmente, como se não fosse nada.
—Acho que você deveria focar no fato de que agora está livre. Ele não está mais aqui pra assombrar você. Você nunca mais vai precisar se preocupar com ele. Vou ser sincero, algumas vezes me perguntei o que faria se ele aparecesse aqui atrás de você. Tinha medo da minha própria reação. —Afirmei, vendo-a engolir em seco, como se pudesse compreender meus sentimentos naquele momento. —Você não está sozinha, porque tem a mim. Tem a Érika. Tem nossos amigos. Sempre vamos estar aqui. Eu sempre vou estar aqui. Além do mais, você pode usar o dinheiro que vai receber pra publicar o seu livro. Invista nele, Cami. Realize seu sonho. Seja aquela garota incrível que eu conheci.
Envolvi o rosto dela com as mãos, feliz por vê-la abrindo um sorriso ao me ouvir dizer aquelas palavras. Ela parecia abalada, mas tão agradecida e feliz. Tinha tantas coisas que eu queria dizer a ela. Sobre como eu já estava fazendo planos pra nós dois no próximo ano. Uma casa onde pudéssemos morar juntos, com uma árvore para podermos construir a nossa casa da árvore. Uma casa onde poderíamos começar nossa família. Mas resolvi falar apenas aquelas palavras que eu sabia que mais importavam no momento.
—Eu amo você, Cami. —Falei, encostando minha testa na dela, escutando-a soltar o ar com força como se não esperasse por aquilo. —Amei você cinco anos atrás, quando foi embora. Continuei amando você todos os dias seguintes, mesmo quando estava tão magoado e cheio de rancor. E amo você agora, mais do que antes.
—Também amo você. —Sussurrou, com a voz trêmula, como se estivesse prestes a chorar de novo. —E eu nunca mais quero ficar longe de você.
—Você não vai. —Afirmei, abrindo um sorriso, enquanto meus lábios roçaram nos dela. —Se depender de mim, você nunca mais vai sair do meu lado. E vamos construir uma vida juntos.
Continua...
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Todas as lembranças perdidas / Vol. 3
RomanceCinco anos atrás Eduardo teve seu coração partido pela sua melhor amiga, assim que ela desapareceu e nunca mais entrou em contato, logo após ele ter se declarado pra ela. Depois disso, ele decidiu que nunca mais iria se envolver com alguém de novo...