Érika ficou de pé, disparando na direção do juiz, tentando argumentar com ele. Mas a seguraram, enquanto eu ficava imóvel na cadeira, escutando os conselhos que o advogado me dava depois da decisão do juiz. Mas eu absorvia poucas coisas do que ele dizia, porque o sorriso vitorioso do meu pai e a raiva no rosto da minha mãe estavam tomando conta de todos os meus pensamentos. Além de Érika estar gritando para o juiz ouvi-la.
—Érika, pare de gritar. Estamos em um lugar sério. —Meu pai a corrigiu, fazendo-a se virar pra ele com o rosto vermelho de indignação. —A decisão do juiz é a melhor. Precisa aceitar isso e não agir como uma criança mimada, porque você já tem 16 anos.
—Se não me deixar ficar com o meu irmão, vou transformar sua vida miserável em um inferno. —Érika prometeu, com um tom de voz tão afiado que foi difícil não acreditar que ela iria cumprir cada palavra que havia dito.
Meu pai apenas riu, olhando para o próprio advogado como se pudesse concertar a rebeldia dela. Érika passou quase o empurrando do caminho, saindo da sala e batendo a porta com força o suficiente para deixar um clima estranho e pesado no ar. Não que meu pai se importasse com isso. Ele parecia feliz demais com a vitória.
—Quando você me procurou e me pediu para deixar a guarda dela pra você, eu pensei que você pelo menos ia se esforçar nisso, Eduardo. —Minha mãe me repreendeu, comprimindo os lábios em frustração. —Agora ele venceu.
Ela se levantou e foi embora, enquanto eu permanecia sentado, escutando meu advogado chamar meu nome. Ele já estava de pé ao lado da minha cadeira, mas parecia que alguém havia colado minha bunda no acento. Aquilo não podia estar acontecendo. Tudo parecia sobre controle e então não estava mais.
—Eduardo? —Apertei meus lábios com força quando meu pai se aproximou, empurrando a cadeira para ficar de pé. Me virei para meu advogado e pedi que ele me esperasse lá fora, sentindo uma sensação estranha no meu corpo, como se tivesse sido anestesiado. —Olha, não queria que as coisas ficassem assim entre nós dois, filho. Mas o juiz tomou a decisão certa. Arrume as coisas da Érika. Vou buscá-la ainda hoje, ok? E pelo bem de vocês dois, tente não dificultar as coisas.
—Por que você não vai se foder? —Indaguei, escutando o advogado do meu pai se engasgar atrás dele, antes de virar as costas e deixar meu pai para trás.
Sai da sala, sentindo minha cabeça latejar com o tamanho da frustração que eu estava sentindo naquele momento. Meu advogado estava me esperando, me dizendo o que fazer para não dar ainda mais munição para o meu pai. Naquele momento eu nem queria ouvir nada, só queria sair dali e voltar pra casa.
Érika estava me esperando, escorada no carro. Os braços cruzados na frente do peito e uma expressão furiosa no rosto, enquanto mantinha o queixo erguido. Ela entrou no carro assim como eu, passando o cinto com movimentos rígidos, como se estivesse se controlando para não surtar.
—Ele vai buscar você hoje, então precisamos arrumar suas coisas. Se eu me negar a te entregar, as coisas podem ficar ruins pra mim, principalmente se eu for recorrer a decisão, o que é óbvio que eu vou fazer. —Falei, segurando o volante com tanta força que era capaz de eu parti-lo no meio. Érika não disse nada, o que me fez fechar os olhos com força. —Me desculpa.
—Eu não quero ficar com ele. —Olhei para Érika ao ouvi-la falar, vendo os lábios dela tremerem violentamente, antes de ela se desfazer em lágrimas bem do meu lado.
Soltei o ar com força, engolindo o nó que se formou na minha garganta, antes de me inclinar no banco e a puxar para um abraço. Não lembro de quando foi a última vez que vi minha irmã chorar. Na verdade, acho que nunca a vi chorar. Ela normalmente estava com uma resposta atravessa da ponta da língua quando alguém a machucava ou pronta pra matar alguém. Ela não fazia do tipo que chorava.
[...]
Observei o quarto de Érika, vendo as coisas que ela tinha levado, assim como as roupas. Não todas, porque ela havia ido embora afirmando que não iria demorar muito para ele desistir da guarda dela. Queria dizer que estava com pena do meu pai, mas não estou. Qualquer coisa que Érika vá fazer com ele para tirá-lo do sério ainda vai ser pouco.
Me sentei no chão, escorado na cama, pensando no quanto aquele apartamento parecia mais silencioso sem ela. Minha irmã era alguém que fazia sua presença ser vista. Ela não passava despercebida em nenhum lugar. E ela não estava mais chorando quando entrou no carro do nosso pai. Ela estava sorrindo, como se estivesse tirando férias.
—Érika, terminei de ler e queria saber se você pode me emprestar outro... —Camila empurrou a porta do quarto, levando um susto quando deu de cara comigo e não com a minha irmã. Ela me encarou com uma expressão surpresa, enquanto eu escorava meus braços nos joelhos, inclinando a cabeça até tocar na cama.
—Minha irmã foi embora, mas acho que ela não se importaria de emprestar outro livro pra você. —Murmurei, umedecendo os lábios com a língua ao me sentir tão patético naquele momento, vendo a compreensão tomar conta do rosto de Camila.
—Seu pai ganhou? —Indagou, e eu fechei meus olhos e balancei a cabeça que sim, querendo voltar no tempo e bater o pé com Érika, quando ela insistiu em ir no bar, mesmo quando eu falei diversas vezes que não era uma boa ideia. —Sinto muito, Edu.
Abri os olhos, percebendo que Camila tinha atravessado o quarto e estava sentada no chão na minha frente, me encarando como se entendesse o que eu estava sentindo. Encarei ela por tempo o suficiente para sentir meu coração disparar, antes de fechar os olhos quando ela se inclinou e me abraçou. Soltei o ar com força, passando meus braços ao redor da cintura dela e a puxando mais para perto, enquanto enterrava meu rosto em seus cabelos. Porque aquilo era tudo que eu precisava naquele momento.
Continua...
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Todas as lembranças perdidas / Vol. 3
RomanceCinco anos atrás Eduardo teve seu coração partido pela sua melhor amiga, assim que ela desapareceu e nunca mais entrou em contato, logo após ele ter se declarado pra ela. Depois disso, ele decidiu que nunca mais iria se envolver com alguém de novo...