Capítulo 39: Pronta pra voltar no tempo?

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Me espreguicei toda ao descer do carro, escutando os resmungos frustados de Érika por precisar voltar pra casa. Tínhamos desmontado o acampamento logo de manhã e voltamos pra cidade. Só tivemos tempo de tomar um banho e almoçar, antes do pai de Eduardo o ligar, questionando quando ele levaria a irmã pra casa,

Ajudei Érika com as coisas dela, seguindo para a casa enquanto Eduardo trancava o carro. Podia ver a frustração pesando nos ombros de Eduardo também, já que ele não queria deixar a irmã ali. Toda a animação que sentimos no acampamento tinha evaporado rápido demais. Eu quase conseguir sentir o desânimo e a raiva de Érika, porque ela era uma mistura dos dois.

—Me espera lá atrás. —Eduardo indicou a lateral da casa, tocando de leve minhas costas. —Só vou levar a Érika até o quarto e ver se está tudo bem, e já encontro você.

—Eu não tenho a chave. —O lembrei, ganhando um beijo na bochecha de Érika, enquanto Eduardo já ia entrando em casa. Ele sorriu pra mim, antes de desaparecer lá dentro, enquanto Érika soltava uma risada e o seguia.

Assim que fiquei sozinha, caminhei pela lateral da casa até os fundos, sentindo meu coração disparar quando encarei aquela imensa árvore que estava ali, com a adorável casa lá entre os galhos. Um sorriso se abriu nos meus lábios, enquanto eu sentia a ansiedade crescer dentro de mim, imaginando que subiria lá de novo, depois de cinco anos, ao lado de Eduardo.

—Pensei que nunca mais veria você. —Olhei para trás, dando de cara com o pai de Eduardo. O homem de cabelos castanhos, quase loiros, estava se aproximando, com as mãos enfiadas no bolso da calça. —Olá, Camila.

—Senhor Mendes. —Acenei com a cabeça pra ele, voltando a olhar pra árvore, porque não tinha qualquer interesse de conversar com aquele homem. —Só estou esperando o Edu.

—Eu sei. Vi que chegou com ele e minha filha. —Ele riu, balançando a cabeça negativamente, enquanto do eu comprimia meus lábios ao ver que ele tinha parado quase do meu lado. —Meu filho ficou de coração partido quando vocês foram embora. E depois ele aparentava ter raiva de você. Achei que não a perdoaria. Mas pelo visto o coração dele é mole igual o da mãe.

Olhei pra ele, detectando o tom de ironia na sua voz. Se ele traiu a própria esposa e estava agindo como um babaca, era óbvio que aquilo estava longe de ser um elogio. Tentei não me ofender, porque a última coisa que eu queria era arrumar mais problema para Eduardo com o pai dele.

—Eu e o Edu tivemos alguns problemas. Mas nós já nos resolvemos e agora está tudo bem. —Afirmei, lançando a ele um sorriso forçado, antes de me virar e fazer menção de ir até a árvore.

Tinha a intenção de subir e o esperar na pequena varanda lá em cima, já que não tinha a chave para entrar. Mas o pai de Eduardo segurou meu braço, fazendo meu corpo se enrijecer, enquanto meu sangue quase virava gelo nas minhas veias. Olhei pra ele por cima do ombro, apertando os lábios com força quando o vi me observando com as sobrancelhas erguidas e um sorriso tranquilo.

—Não quis ofender, Camila. Pode acreditar que não. O Edu pode achar que não. Mas eu o amo e quero o melhor pra ele, assim como pra Érika. —Falou, me fazendo soltar uma risada e comprimir os lábios, porque aquilo só podia ser brincadeira. —As coisas só não acabaram bem na nossa família. Mas não significa que eu não queira melhorar tudo entre nós.

—Talvez se você se esforçar mais um pouco, consiga alguma coisa. —Afirmei, dando de ombros, tentando puxar meu braço do aperto dele, porque ele ainda estava me segurando. —Pode me soltar, por favor?

—Acho que sei porque meu filho gosta tanto de você. —Ele acariciou a pele do meu braço, fazendo meu estômago gelar é algo desconfortável atravessar minha coluna, com o tom de voz que ele usou. —Achava que você era só uma adolescente comum quando vivia grudada com ele. Mas você cresceu e está muito bonita, além de forte, pelo visto. Espero que meu filho saiba cuidar de você, como você merece. Mas se não souber, tenho certeza que pode encontrar alguém que saiba.

Me solte! —Sibilei, sentindo vontade de dar um tapa nele por estar falando aquelas coisas pra mim, como se estivesse flertando comigo. Ele soltou meu braço quando lancei a ele um olhar mortal, como se percebesse que eu iria gritar se não obedecesse. —Tenha algum pingo de vergonha na cara. Sei que você não teve a capacidade de respeitar a sua esposa. Mas pelo menos tenha algum mínimo respeito pelo seu filho.

—Eu só estava te elogiando, Camila. Não precisa ficar na defensiva. —Ele riu, se afastando de mim, como se eu estivesse entendendo tudo errado e ele fosse inocente.

—Guarde seus elogios pra você mesmo. —Rebati, mordendo minha língua com força a ponto de sentir gosto de sangue na boca. —Você tem idade pra ser meu pai. Deveria ter um pouco de noção.

Me afastei dele, seguindo em direção a árvore. Só notei que estava tremendo quando fui subir as escadas e encarei minhas mãos, brancas pela força que eu usava para segurar a madeira. Puxei o ar com força e subi, sem olhar pra trás, querendo que aquele homem desaparecesse da vida de Eduardo e Érika. Eles mereciam coisa melhor do que aquilo como pai. Mas pelo visto nenhum de nós três teve sorte.

Quando subi para a varanda, o pai de Eduardo já havia desaparecido. Suspirei aliviada, me perguntando se deveria contar a Edu ou não sobre essa conversa bizarra que tive com o pai dele. Não queria deixá-lo mais incomodado com o pai, mas também não podia fingir que não entendi o que ele estava sugerindo.

—Velho maldito. —Sussurrei, engolindo o desconforto que estava na minha garganta, porque o pai de Eduardo me trouxe a mesma sensação horrível que eu sentia quando estava perto do meu próprio pai.

—Oi, linda. —Eduardo gritou, vindo correndo pra árvore. Puxei o ar com força, tentando espantar aquele desconforto, antes de abrir um sorriso quando ele surgiu ali na varanda, com um sorriso enorme pra mim e os olhos praticamente brilhando. —Pronta pra voltar no tempo?



Continua...

Todas as lembranças perdidas / Vol. 3Onde histórias criam vida. Descubra agora