Capítulo 9: Eu moro aqui.

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Entrei no prédio com Léo logo atrás de mim. Tinha deixado uma Érika furiosa dentro do carro, porque queria descer e vir também. Mas o prédio que Camila estava parecia mais abandonado do que qualquer outra coisa. Não fazia sentido ela estar ali naquele lugar, naquele horário da noite.

—Cara, que lugar estranho. —Léo resmungou atrás de mim, parecendo estar incomodado com a aura pesada do prédio. Uma porta se abriu em um dos corredores. Uma mulher nos encarou por uma fresta, antes de fechar a porta de novo, como se achasse que fôssemos atacá-la.

Vai embora daqui! —Meu coração disparou quando escutei o grito abafado de Camila, acelerando nas escadas até o segundo andar, onde a porta de um dos quartos daquele lugar estava escancarada, me deixando ainda mais nervoso do que eu tinha ficado quando ela me ligou.

—Sai daí, lindinha. A gente precisa conversar. —Parei na porta do quarto, sentindo meu sangue ferver quando encontrei um cara deitado na cama, encarando o teto, enquanto sorria sozinho. A porta do banheiro estava trancada, me deixando mais aliviado por perceber que Camila provavelmente tinha se fechado ali dentro. —Tenho uma coisa muito especial pra você aqui fora.

—Também tenho uma coisa especial pra você. —Falei, caminhando na direção da cama e o fazendo notar minha presença. Minhas mãos se fechando em punho, enquanto a adrenalina me deixava pronto pra brigar.

—Eduardo? —A voz de Camila saiu um pouco assustada de dentro do banheiro, como se ela estivesse com medo de que não fosse realmente eu.

—Ei, babaca, ela é minha. Eu cheguei primeiro. —O cara resmungou, saindo da cama, enquanto o sangue subia para o meu rosto ao ouvi-lo falar dela daquela forma.

—Cai fora daqui. —Exclamei, desviando do soco que ele ia me dar, antes de agarrar sua camiseta e o empurrar na direção da porta.

Léo saiu do caminho no momento que percebeu o que eu ia fazer. O cara cambaleou, parecendo muito bêbado, se soltando do meu aperto. Antes que ele se recuperasse, ergui a perna e o empurrei com o pé, vendo-o tombar no chão para fora do quarto, resmungando coisas que eu nem conseguia entender.

—Você veio! —Camila saiu do banheiro, tropeçando nas coisas no chão até grudar o corpo em mim como se estivesse muito feliz em me ver naquele momento.

Fiquei rígido por um momento, quando ela jogou os braços ao redor dos meus ombros e escondeu o rosto no meu peito, até perceber que ela estava tão assustada que seu corpo tremia violentamente. Soltei o ar com força, ignorando as batidas frenéticas do meu coração quando a abracei de volta, um pouco sem jeito.

—Obrigada, obrigada, obrigada... —Repetiu sem parar, enquanto me apertava com tanta força que me deixou sem fôlego.

Olhei para Léo, vendo ele me lançar um olhar disfarçado, antes de desviar os olhos para a parede, como se ela fosse muito interessante. Depois do que pareceu uma eternidade, Camila se afastou de mim, parecendo muito constrangida de repente. Apertei minhas mãos com força ao lado do corpo, sem saber como agir depois daquilo.

—Desculpa. —Falou, super baixo, olhando pra mim e depois pra Léo, ficando com o rosto um pouco vermelho, enquanto dava mais alguns passos para trás de mim. Não demorei a notar as lágrimas que manchavam as bochechas coradas, que ela tentou secar rapidamente.

—O que caralhos você está fazendo nesse lugar? —Indaguei, observando Camila se encolher consideravelmente, como se desejasse sumir naquele momento. Ela respondeu alguma coisa, que pareceu mais um muxoxo. —O que?

—Eu moro aqui. —Falou de novo, agora um pouco mais alto, lançando um olhar rápido na minha direção, como se tivesse medo de ver minha reação.

Mas eu simplesmente não tive reação nenhuma. A encarei por um longo momento, antes de olhar para o quarto ao redor, querendo ter certeza de que ela estava falando mesmo sério. Só percebi que sim quando vi a mala dela sobre uma cadeira. Não estava preparado para o impacto de ver uma foto de nós dois juntos em cima dela, ao lado de uma foto da sua mãe.

A respiração ficou presa na minha garganta, enquanto minha boca ficava seca. Meus olhos se demoraram naquela foto, enquanto eu sentia meus sentimentos transbordando com as lembranças que ela trazia. Camila ficou ainda mais vermelha quando percebeu o que eu estava encarando, dando um passo para o lado até tampar a visão da foto. Mas já era tarde demais. Aquilo já tinha me acertado como um soco no estômago.

—Arrume as suas coisas. —Pedi, querendo ir embora dali. Camila na lançou um olhar confuso, me fazendo comprimir os lábios. —Temos que ir embora daqui.

—Ir pra onde? Eu não tenho pra onde ir! —Ela soltou uma risada nervosa, enquanto eu fechava meus olhos com força, sabendo que aquilo era parcialmente culpa minha.

—Arruma suas coisas, Camila. —Repeti, tentando manter a calma, mesmo que dentro de mim estivesse um caos completo, porque eu não conseguia definir o que estava sentindo no momento. Eu só queria tirá-la dali.

Ela se assustou quando o cara apareceu na porta de novo, murmurando coisas que não dava pra entender. Camila escorregou para o meu lado, ficando atrás de mim como se estivesse com medo. Me preparei para chuta-lo para fora do quarto de novo, mas Léo cortou a frente dele e acertou um soco em cheio no seu rosto, fazendo o corpo dele desabar no chão como um saco de batatas.

O quarto foi tomado por um silêncio esquisito, antes de eu e Léo nós encaramos. Camila ficou na ponta dos pés para olhar por cima do meu ombro, soltando um suspiro de alívio ao ver que ele estava apagado. O problema é que ele estava apagado demais, parecendo que nem estava respirando.

—Porra, você matou o cara? —Indaguei, observando a expressão assustada que se abriu no rosto de Léo.

—Claro que não. Foi só um soco! —Exclamou, olhando do cara pra mim e depois pro cara de novo, como se não tivesse muita certeza. —Quer dizer... ele não morreu, né? Eu não tenho tanta força assim. —Ele hesitou um segundo. —Eu acho.

Nós três demos um pulo quando ele se mexeu de nada, antes de ficar imóvel de novo, agora parecendo estar dormindo. Eu e Léo nós encaramos de novo, como se estivéssemos pensando a mesma coisa. Camila estava agarrada ao meu braço, me segurando com tanta força que eu tinha certeza que não corria mais sangue naquela parte do meu corpo.

—Camila? —Chamei, escutando ela murmurar um "hmm?", ainda olhando para o cara no chão. —Suas coisas.

Dessa vez ela fez o que eu pedi sem questionar, se apressando em juntar suas coisas pelo quarto, enquanto eu e Léo mantínhamos os olhos no cara, esperando para ver se ele ia acordar de novo. Mas pela forma que ele suspirava no chão e pela marca roxa que começava a surgir no seu olho, ele não iria acordar até amanhã.


Continua...

Todas as lembranças perdidas / Vol. 3Onde histórias criam vida. Descubra agora