Eu estava sentado contra a parede, com o rosto escondido nas mãos, enquanto ouvia Camila berrar contra a porta e bater na mesma várias vezes, sem parar. Aquilo estava me irritando, porque era óbvio que ninguém ia escutar, com a música alta que tocava no bar. Nossa única chance era Paulo dar falta de Camila, mas já estávamos ali a tempo demais.
—Para com isso. Ninguém vai te ouvir. —Afirmei, afastando a mão do rosto para olhar pra Camila, vendo ela puxar o ar com força como se estivesse tentando se controlar, ainda encarando a porta. —Paulo vai dar falta de você e vai vir te procurar.
—E se ele achar que eu fui embora? E se ele pensar que eu sou uma péssima funcionária? —Camila se virou pra mim, com o rosto mais branco que papel. —Eu não posso ser demitida, Eduardo. Eu preciso desse emprego.
—Ele não vai te demitir. Fomos trancados aqui dentro. Você não tá fugindo do trabalho porque quer. —Rebati, sentindo meu coração se contrair no peito ao perceber que ela estava realmente preocupada com o fato de talvez ser demitida. —Eu conheço o Paulo. Ele não vai te demitir, posso dar certeza.
—Sua positividade está me irritando. —Camila resmungou, se sentando escorada na porta, o que a fez ficar de frente pra mim, mesmo que um cômodo todo nos separasse. —E essa sua calma também.
—Porque eu sei que gritar e espernear não vai adiantar em nada. —Afirmei, vendo-a comprimir os lábios em resignação, me lançando um olhar afiado. —Não pense que é porque estou muito contente em ficar preso em um lugar como esse com você.
—Ah, acredite, você já deixou muito claro o que pensa sobre mim. —Retrucou, erguendo o queixo em desafio, mas os lábios estavam tremendo em nervosismo. —E é recíproco, Eduardo. Você é a última pessoa que eu gostaria de ficar presa em qualquer lugar do mundo.
—Eu sei, imagino que você iria preferir o Léo aqui do que eu. —Soltei uma risada, observando a careta que se formou no rosto dela ao me ouvir dizer isso. —Mas pro seu azar, foi ele quem prendeu nós dois aqui. Ele não está nem um pouco interessado em você.
—Meu Deus. —Camila soltou, completamente surpresa, antes de rir e negar com a cabeça, ficando com as bochechas vermelhas. —Você simplesmente não vê o que está bem na sua cara, não é? Vou rir tanto quanto você perceber. Mas pelo visto vai demorar, porque o ciúmes está te deixando cego.
—Perceber o que? —Murmurei, apertando meus lábios com força ao vê-la tombar a cabeça de lado e piscar muito lentamente na minha direção. —E eu não estou com ciúmes. Você e o Léo é que não sabem disfarçar nada.
—Sim, a culpa é totalmente de nós dois. —Camila soltou uma gargalhada, levando a mão aos lábios para tentar contê-la, enquanto eu respirava fundo, tentando entender onde ela estava vendo a graça ali. —Que bom que eu e o Léo somos solteiros e livres, não é? Podemos ficar juntos, já que nós dois queremos.
Camila me encarou com um sorriso malicioso, enquanto eu sentia o baque daquelas palavras no meu corpo, como se estivesse sendo atingido por milhares de facas. A sensação me deixou sem fôlego, com algo gelado escorrendo pelo meu sangue, me deixando rígido contra a parede.
—Léo é meu amigo. Me sinto na obrigação de avisa-lo sobre o quão fácil você mente e manipula. —Afirmei, observando o sorriso desaparecer dos lábios dela lentamente, enquanto seu rosto se contraia em algo como mágoa. —Você vai dizer a ele que o ama e depois desaparecer também?
—E se eu for, o que você tem com isso? —Sibilou, com a mágoa logo sendo substituída por frustração e raiva. —Talvez eu realmente acabe o amando, já que ele pelo menos me trata super bem.
—Claro, e eu te tratava como um lixo antes, tanto que você detestava ser minha melhor amiga. —Retruquei, sentindo um gosto amargo na minha boca ao ouvi-la dizer aquelas coisas.
—Não, você está me tratando como um lixo agora. Nós fomos os melhores amigos um do outro por anos, Eduardo. Literalmente desde que nascemos. Você era minha pessoa favorita e eu a sua. Mas por um único erro, que você se recusa a saber como de fato aconteceu, você me crucifica como se eu fosse um monstro. —Camila ficou de pé, agora parecendo muito furiosa, enquanto jogava aquelas palavras pra cima de mim. —Sua vida se tornou horrível por que eu parti seu coração? Grande coisa, seu merda. Eu também tive a porcaria do meu coração partido quando fui embora, mas foi muito pior, porque tive que suportar um pai narcisista e agressivo, além de ver minha própria mãe morrer sem poder fazer nada. Mas sim, Eduardo, a merda do seu coração partido é a única coisa que importa.
O ar entre nós ficou carregado de algo pesado quando ela terminou de falar, com o rosto vermelho de raiva e lágrimas manchando as bochechas, que ela faz questão de secar com a mão, de uma forma muito agressiva. As palavras tinham ficado entaladas na minha garganta, enquanto eu me dava conta de que também tinha ficado de pé, mas diferente dela não conseguia fazer nada além de ficar imóvel ali, absorvendo cada palavra que ela tinha dito.
—Eu não voltei achando que tudo ficaria bem entre nós dois. Eu sabia que não ficaria. Mas eu esperava que você pelo menos me ouvisse. Pelo menos me desse uma chance de contar o que tinha acontecido e como haviam sido esses cinco anos. Eu esperava ter a droga do meu melhor amigo de volta, porque no final das contas era a única coisa que eu achava que tinha me sobrado. —Prosseguiu, se aproximando de mim a passos pesados, antes de erguer a mão e bater contra o meu peito com força. —Mas tudo é sobre você. Tudo é sobre como eu sou uma falsa que partiu seu coração. No final, você age como se só a sua dor fosse importante. Olha pra mim, Eduardo, eu pareço feliz com a merda da minha vida? Eu pareço feliz por ter quebrado seu coração? O que diabos eu ganhei partindo seu coração, me diz? O que foi que eu ganhei?
Continua...
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Todas as lembranças perdidas / Vol. 3
RomanceCinco anos atrás Eduardo teve seu coração partido pela sua melhor amiga, assim que ela desapareceu e nunca mais entrou em contato, logo após ele ter se declarado pra ela. Depois disso, ele decidiu que nunca mais iria se envolver com alguém de novo...