Eduardo me deu um beijo e se virou para abrir a porta, enquanto eu olhava na direção da casa dele, ainda me sentindo um pouco tensa. Mas isso desapareceu no instante que ele abriu a porta e se afastou, sorrindo pra mim ao deixar que eu entrasse primeiro.
A casa na árvore estava do jeitinho que eu me lembrava, em todos os detalhes. O lugar onde a gente se deitava juntos pra ler. Nossas fotos penduradas por todos os lados, de todos os momentos que passamos juntos enquanto ainda éramos melhores amigos. Entrar naquele cômodo era realmente como voltar no tempo. Eu tinha milhares de lembranças que foram perdidas nesses cinco anos, que ainda estavam ali naquele lugar.
Entrei lentamente, olhando para cada detalhe, enquanto meu coração batia forte no peito. Eduardo entrou atrás de mim, parecendo avaliar minha reação a tudo aquilo. Eu estava feliz, óbvio. Mas também havia uma pontada de tristeza em pensar que todos aqueles momentos que passamos juntos tinham sido reduzidos a cinco anos afastados, em que Eduardo estava magoado comigo e eu tentando sobreviver ao meu pai.
—Quando foi a última vez que entrou aqui? —Indaguei, puxando o ar com força, tentando não demonstrar a ele o quão abalada eu estava. —Não esse ano, mas... depois que eu fui embora.
—A última vez foi na tarde seguinte que você foi embora. Entrei aqui pra ver se você tinha deixado alguma coisa pra mim. —Eduardo enfiou as mãos no bolso da calça, umedecendo os lábios com a língua. —Quando vi que não, eu só tranquei a casa e nunca mais pisei aqui, até alguns dias atrás.
—Se eu pudesse... —Me virei para ele, com aquela sensação horrível de que eu precisava me explicar de novo, e de novo e de novo.
—Camila, eu sei. Agora eu sei. Não precisa me explicar mais nada ou me pedir desculpas milhares de vezes. Eu deveria ter te dado um voto de confiança. Eu deveria ter imaginado que a culpa era do seu pai. —Eduardo afirmou, cortando as palavras que eu estava prestes a dizer a ele. —Você era minha melhor amiga antes de tudo. Mas acho que deixei meus sentimentos falarem mais alto. É difícil pensar quando você está apaixonado.
—Eu sinto muito. —Falei, mesmo que ele falasse e repetisse várias vezes que eu não precisava dizer aquelas coisas. Ainda sim, eu queria que ele soubesse. Eduardo sorriu pra mim, estendendo a mão na minha direção.
—Eu também sinto muito, Cami. Você não faz ideia do quanto. —Sussurrou, enquanto eu ia até ele e nós dois nos abraçávamos apertado, como se nunca mais fôssemos soltar um ao outro.
Eu ainda sentia uma sensação pesada no peito por conta daqueles cinco anos. Mas agora eu sabia que estava tudo esclarecido entre nós e tudo ficaria bem. Por enquanto aquilo era o suficiente. E saber que eu tinha Eduardo de volta na minha vida era a melhor coisa que poderia acontecer comigo. Ele iria sempre ser minha pessoa favorita no mundo.
—O que é aquilo? —Indaguei, ainda abraçada a ele. Mas Eduardo se afastou para ver o que eu encarava. Apontei para a pilha de caixas em um dos cantos, que eu havia ignorado até então. —O que tem nessas caixas?
—Ah, não, você não pode ver. —Eduardo me segurou quando tentei dar a volta nele para ir até as caixas. Ele abraçou minha cintura, enquanto eu o olhava por cima do ombro, com as sobrancelhas erguidas. —São coisas importantes. Você vai descobrir logo. Mas não pode ver ainda.
—Por que não? —Insisti, observando ele rir e morder o lábio inferior, desviando os olhos de mim como se quisesse muito fugir do assunto.
—Como eu disse, são coisas importantes. Mas você vai descobrir logo, depois que eu as tirar daqui.
Olhei para as caixas de papelão um pouco desconfiada, antes de sentir que Eduardo estava me afastando gradualmente delas, como se quisesse que eu mante-se distância. Aquilo me fez rir, antes de eu me virar ainda nos braços dele, passando os meus ao redor dos seus ombros.
—Você trouxe na tarde que veio ver se eu havia deixado algo pra você? Ou na última vez que esteve aqui dias atrás? —Indaguei, curiosa demais sobre aquilo, querendo tentar arrancar qualquer informação de Eduardo.
—Não foi eu que trouxe, na verdade. Minha mãe que deixou elas aqui, porque eu pedi a ela. —Eduardo deu de ombros, se inclinando para beijar a ponta do meu nariz. —Isso foi dois meses depois que você foi embora, se é isso que quer saber.
Abri e fechei a boca algumas vezes, antes de olhar na direção das caixas de novo, tentando imaginar o que havia ali, guardado a tanto tempo naquela casa. Olhei de novo para Eduardo quando ele tocou meu queixo, chamando a minha atenção. Ele deslizou os dedos pela minha bochecha, ajeitando alguns fios de cabelo atrás da orelha.
—Você nunca mais falou com seu pai depois que veio pra cá?
—Só uma vez. Liguei pra ele pra pedir dinheiro, quando aquela velha do meu antigo apartamento me cobrou o aluguel. —Falei, um pouco envergonhada, porque aquilo certamente foi muito decadente pra mim. Não que minha vida estivesse boa antes, mas pelo menos eu não ia dormir pensando que um drogado ia entrar no meu quarto a noite. —Mas ele desligou na minha cara. Depois disso, nunca mais. E nem pretendo. Quero distância dele.
—Eu também quero distância dele, porque tenho a sensação que o mataria se o visse na minha frente. —Eduardo afirmou, e eu acabei engolindo em seco ao notar que não havia qualquer tom de brincadeira na sua voz. Ele estava realmente falando sério.
—É recíproco. —Dei de ombros, observando o sorriso fraco que ele me deu, enquanto eu erguia minhas mãos e tocava as bochechas dele. —Está tudo bem agora. Só quero ficar com você.
—Estou aqui, Cami. —Eduardo me beijou, apertando meu corpo contra o dele, antes de afastar o rosto e me abraçar, com os lábios na minha testa. —Não pretendo ir a lugar nenhum. Nem mesmo se você me chutar.
—Eu jamais faria isso. —Soltei uma risada com aquilo, o que fez Eduardo rir também, negando com a cabeça.
—Então não tem com o que se preocupar. —Ele olhou pra mim com um carinho de partir o coração, antes de encostar a testa na minha. —Vou cuidar de você. E não vou te deixar ir a lugar nenhum.
Continua...
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Todas as lembranças perdidas / Vol. 3
RomanceCinco anos atrás Eduardo teve seu coração partido pela sua melhor amiga, assim que ela desapareceu e nunca mais entrou em contato, logo após ele ter se declarado pra ela. Depois disso, ele decidiu que nunca mais iria se envolver com alguém de novo...