Capítulo 44: Não sabia que vinha.

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Camila

Eu estava preocupada. Fazia uma hora que Eduardo havia entrado na sala da audiência junto com o seu advogado. Ele parecia tranquilo de manhã, antes de virmos. Mas quando esbarramos com o pai dele na entrada e ele me lançou um sorriso enorme, Eduardo ficou rígido ao meu lado, como se estivesse pronto para pular em cima dele e o bater bem ali, na frente dos advogados.

Suspirei, erguendo a mão para esfregar a testa sabendo que as coisas podiam demorar ali ainda, mas eu não era autorizada a entrar e ver a audiência. Érika estava lá dentro e Paulo tinha aparecido mais cedo para dar um esclarecimento para o juiz. Esperava que isso ajudasse em alguma coisa.

Encarei a entrada do corredor, me ajeitando na cadeira quando a mãe de Eduardo surgiu, muito bem arrumada, mesmo que não fosse participar da audiência. Eduardo não havia me dito que ela vinha e também não tinha a certeza de que ele sabia que ela estaria aqui.

—Camila? —Ela pareceu surpresa quando me viu, franzindo a testa antes de abrir um sorriso pequeno. —Não esperava te encontrar aqui.

—Eu vim acompanhar o Eduardo. —Falei, abrindo um sorriso, antes de ficar de pé e dar um abraço nela. —É muito bom rever a senhora. Como estão as coisas?

—Um caos, como pode ver. —Ela gesticulou para a sala onde a audição acontecia, o que me fez soltar uma risada nervosa. —Você veio acompanhar o Eduardo? Vocês dois estão se reaproximando?

—É, mais ou menos isso. —Falei, engolindo um certo desconforto, porque a pergunta dela veio carregada de uma certa reprovação, como se ela não me quisesse perto do filho. —Eu estou dividindo o aparamento com ele.

—Ah, sim, Eduardo não me contou sobre isso. Quando falei pra ele que você tinha ligado, ele fingiu que não te conhecia. —Afirmou, fazendo uma pontada desagradável atingir meu peito. Não tinha certeza se ela tinha falado aquilo de propósito, mas sabia que não estava mentindo. —Eu vim aqui convida-los para almoçar comigo. Se quiser, pode vir também.

—Claro. —Consegui dizer, forçando um sorriso, porque tinha a sensação de que ela não estava muito feliz em me encontrar ali.

A porta ao nosso lado se abriu e Eduardo saiu primeiro, conversando alguma coisa com o seu advogado. Ele franziu a testa assim que me viu com a mãe dele, antes de se despedir do homem e vir na nossa direção. Me preparei para o que eu imaginava que seria uma situação estranha, já que o pai dele iria sair da sala a qualquer momento.

—Mãe, não sabia que vinha. Tudo bem? —Indagou, dando um beijo na bochecha dela, antes de parar do meu lado e passar o braço ao redor da minha cintura. A mãe dele observou o movimento como um gavião, provavelmente notando que não estávamos apenas nos reaproximando.

—Sim, só vim convidar você e a Érika pra almoçar comigo. Onde ela está? Ou o seu pai deixou ela presa em casa?

—Minha filha não é uma prisioneira. —O pai de Eduardo apareceu, com Érika vindo atrás dele, com uma expressão nada amigável. Na verdade, ela revirou os olhos assim que ele falou aquilo. —E você não faz mais parte dessa audiência pra estar aqui.

—Érika, meu bem, o que acha de almoçar comigo hoje? Já convidei a Camila e o seu irmão. —Ela ignorou completamente a presença dele, enquanto passava os braços ao redor da filha quando ela se aproximou. Comprimi meus lábios, percebendo que ela só tinha ido até ali para provocá-lo.

—Ela não tem autorização pra isso.

—E eu por acaso preciso de autorização pra almoçar com a minha mãe? —Érika questionou, lançando um olhar afiado na direção do pai. —Pensei que eu não era uma prisioneira.

—Érika! —O homem praguejou um xingamento quando Érika deu as costas pra ele e seguiu com a mão para fora do prédio. Olhei para Eduardo, vendo-o negar com a cabeça com uma expressão resignada.

—Eu levo ela pra casa depois do almoço. —Prometeu ao pai, antes de segurar minha mão e me puxar para sairmos dali. Quando já estávamos longe o suficiente dele, me virei para encara-lo. —O juiz adiou o resultado da audiência, dizendo que eles precisavam analisar o que aconteceu hoje. Não sabia que minha mãe vinha. Mas pelo visto foi de caso pensado. Eles parecem adolescentes fazendo coisas pra irritar um ao outro. Até a Érika é mais madura.

Acabei rindo quando Eduardo disse aquilo, o que aliviou um pouco o clima esquisito. Seguimos o carro da mãe dele até o restaurante, em completo silêncio. Eduardo parecia perdido nos próprios pensamentos. Eu sabia que ele só estava estressado com tudo isso. Toda essa questão da guarda de Érika estava tirando seu sono há um bom tempo já.

A mãe dele já estava sentada em uma mesa com Érika quando entramos no restaurante. Érika pelo menos parecia feliz, contando sobre como havia sido a audiência para a mãe. Eduardo me lançou um olhar sério, como se não estivesse tão confiante quanto a irmã parecia estar.

—Acho que vai precisar de muito mais do que as palavras do dono de um bar para mudar a decisão do juiz. —A mãe deles murmurou, fazendo a animação de Érika diminuir um pouco, enquanto Eduardo fazia uma careta com a clara alfinetada.

—Pelo menos eu estou tentando ainda. Não desisti assim com tanta facilidade. —Eduardo retrucou, fazendo a mãe dele comprimir os lábios em reprovação, enquanto eu me encolhia na cadeira, percebendo que o almoço seria incrível. —E se eu não conseguir convencer o juiz a me dar a guarda dela, posso vencer meu pai no cansaço.

—É, ele pareceu muito tentado a se livrar de mim depois que troquei o shampoo por tinta. —Érika exclamou, com muito orgulho, fazendo Eduardo soltar uma risada amarga, enquanto a mãe dele negava com a cabeça. —Mal posso esperar pra fazer de novo.

—Não deveria se orgulhar disso. —A mãe deles olhou para Érika ao dizer aquilo, antes de se virar para Eduardo. —E você não deveria passar a mão na cabeça dela.

Eduardo soltou o cardápio na mesa, erguendo a mão para esfregar a testa como se estivesse morrendo de dor de cabeça e sem paciência.

—Eu não sou o pai dela para educa-la, mãe. A obrigação era sua e do meu pai. Se vocês não souberam fazer isso, a culpa não é minha. —Eduardo exclamou, fazendo a mulher se empertigar na cadeira. —Érika tem 16 anos. Ela não é uma criança. E se você nos chamou pra almoçar pra ficar me criticando pelo que eu faço ou deixo de fazer, podemos ir embora agora mesmo. 


Continua...

Todas as lembranças perdidas / Vol. 3Onde histórias criam vida. Descubra agora