Pareceu levar séculos pra amanhecer. Não tinha conseguido dormir um segundo sequer e tinha certeza que aquilo iria repercutir no meu dia todo. Um humor de merda? Com toda certeza. Camila ainda dormia como uma pedra contra mim. Toda vez que eu fazia qualquer movimento, ela se agarrava a mim como um bicho preguiça, como se estivesse com medo de eu sair dali, mesmo em meio ao sono.
Quando o sol já batia contra as cortinas da janela, encarei o rosto dela, deslizando os dedos pelas bochechas, enquanto ela respirava calmamente em meio ao sono. Nem parece que horas antes estava completamente bêbada e chorando até soluçar. O simplesmente pensamento sobre isso fez meu sangue ferver, imaginando onde o pai dela estava uma hora dessas.
Com cuidado, tirei a perna dela que estava enrolada na minha, afastando o corpo do meu. Ela tentou me segurar, mas me soltou depois de alguns momentos, dormindo tão pesado que parecia que nada seria capaz de acorda-lá. Fiquei feliz que pelo menos um de nós conseguiu ter uma noite minimamente tranquila.
Me sentei na cama, esfregando as mãos no rosto, me perguntando o que deveria fazer. Minha vida estava um verdadeiro caos e parecia que eu não conseguia controlar absolutamente nada. Era tão frustrante que me deixava com raiva. E depois do que eu ouvi dela, eu me sentia um babaca. Ok, eu sempre fui um babaca. Mas não deveria ser. Não com a Camila.
Me levantei, deixando as coisas no apartamento organizadas pra ela, porque sabia que ela iria acordar com um ressaca terrível e provavelmente a pior dor de cabeça do século, por ter chorado pra valer horas atrás. Observei ela dormir por mais um longo momento, antes de deixar um beijo na bochecha dela e sair de casa. Estava cedo ainda, mas eu precisava resolver algumas coisas.
[...]
Meu pai estava tomando café da manhã, numa belíssima mesa posta só pra ele, quando cheguei. Seus olhos se iluminaram de surpresa quando ele me viu, enquanto eu me aproximava e puxava uma cadeira, deixando ela ranger no chão de propósito antes de me sentar, a duas cadeiras de distância dele.
—É café da manhã em família? —Indagou, abrindo um sorrisinho, enquanto eu cruzava os braços, sem fazer menção de tocar em nada que havia ali. —Sua irmã está dormindo. Talvez você queira acorda-la para ter esse momento com a gente.
—O que ela aprontou? —Questionei, observando ele franzir a testa em confusão e tombar a cabeça de lado, enquanto eu soltava uma risada amarga. —Você está sendo completamente sarcástico e você só age desse tipo quando um de nós apronta alguma coisa. Eu não fiz nada, então só pode ter sido ela.
—Ela colocou tinta verde em um dos frascos de shampoo do meu banheiro. A Suellen saiu daqui com o rosto completamente verde. —Sibilou, enquanto eu soltava uma gargalhada, sabendo que aquilo era bem a cara da minha irmã. —Isso não tem a menor graça.
—Ah, com certeza tem. —Retruquei, comprimindo meus lábios, antes de negar com a cabeça. —A Suellen não gostou de ficar com você enquanto você era casado? Bem, toda ação tem consequências. —Meu pai soltou a xícara de café com força na mesa, apertando a mandíbula com força, enquanto desviava os olhos de mim. —Você já a lembrou do fato de que a vaga de amante agora está disponível?
—Já chega, Eduardo! —Ele me lançou um olhar reprovador, enquanto eu comprimia meus lábios para não rir. —Você não veio aqui cedo pra ficar me provocando.
—Vou sair pra acampar hoje a tarde, até segunda. —Falei, vendo-o abrir um sorriso, como se já soubesse o que eu queria.
—Ela está de castigo pela situação com a tinta, só vai sair de casa quando eu achar que ela aprendeu a lição. —Meu pai afirmou, enquanto eu soltava um suspiro pesado e erguia a mão para ajeitar meus cabelos.
—Pois então tire ela do castigo. Acho que você não conhece a sua filha, mas se deixá-la trancada dentro de casa, aí é que ela vai aprontar. Acha que a tinta foi ruim? Aposto que ela vai fazer bem pior.
—Ela não vai sair com você. —A voz dele saiu muito baixa e controlada, enquanto eu apertava minhas mãos em punho embaixo da mesa. —Ainda não esqueci que você tentou tirar a guarda dela de mim.
—Que bom que não esqueceu, porque pretendo tentar de novo. —Falei, abrindo um sorriso ao ver a surpresa que minhas palavras causaram nele. —Já que não vai deixar ela ir comigo, vou sugerir a ela um produto químico que ela pode misturar com o shampoo, que vai fazer o cabelo cair, em vez de ficar verde.
—Não ouse! —Meu pai bateu a mão na mesa com certa força, parecendo estar a um segundo de explodir. —Não tente me chantagear pra deixar que ela vá com você. Não foi esse tipo de coisa que eu te ensinei, Eduardo.
—Não, você foi um ótimo pai e me deu um grande exemplo, de como construir uma família e depois trair minha esposa dentro da nossa casa. —Soltei uma risada descrente, observando o baque que minhas palavras causaram nele, como se eu tivesse lhe dado um tapa. —Eu não estou pedindo pra você me dar a guarda dela agora. Eu estou pedindo a porra de três dias, onde a gente vai sair pra acampar. Deveria ficar aliviado, porque isso vai deixar a Érika pelo menos grata com você por alguma coisa.
Era mentira. Tinha certeza que ela não ficaria grata coisa nenhuma. Mas meu pai pareceu cair nessa, porque franziu a testa e pensou um pouco, como se estivesse realmente disposto a ceder. Talvez se eu não tivesse gargalhado na cara dele pela tinta verde e o provocado, essa conversa seria bem menos tensa do que está sendo agora.
—Três dias. —Afirmou, me lançando um olhar severo, parecendo muito tentado a mudar de ideia se eu falasse a coisa errada. —E eu quero ela em casa na segunda feira. Nenhum dia há mais, entendeu?
—Entendi. —Falei, empurrando a cadeira e deixando ele sozinho com seu café da manhã perfeito.
Continua...
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Todas as lembranças perdidas / Vol. 3
RomanceCinco anos atrás Eduardo teve seu coração partido pela sua melhor amiga, assim que ela desapareceu e nunca mais entrou em contato, logo após ele ter se declarado pra ela. Depois disso, ele decidiu que nunca mais iria se envolver com alguém de novo...