Capítulo 43: Igual antigamente?

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Eu estava escorado no carro quando Camila saiu do bar, ajeitando algo dentro da sua bolsa. Ela sorriu assim que ergueu os olhos e me viu, se apressando na minha direção. Abri meus braços, deixando que ela se aninhasse contra o meu peito quando me alcançou, antes de abraçá-la apertado e deixar um beijo na testa dela.

—Tudo bem no trabalho hoje? —Indaguei, vendo-a balançar a cabeça que sim, soltando um suspiro cansado.

—Só estou morrendo de fome. —Afirmou, e eu acabei abrindo um sorriso, porque tinha deixado o jantar pronto em casa, esperando por ela.

Camila sempre voltava pra casa morrendo de fome. Eu ficava me perguntando o que ela comia quando estava morando naquele cativeiro, que tem cozinha tinha. A ideia de que ela poderia ter passado fome me deixava enjoado. Já bastava a raiva que eu sentia quando pensava que ela não tinha sossego algum lá, por causa do maldito vizinho que a atacou.

—Então vamos pra casa. Tenho uma surpresa pra você. —Falei, beijando a testa dela mais uma vez, antes de abrir a porta do carro pra ela entrar.

—Que tipo de surpresa? —Indagou, me encarando com certa desconfiança quando entrei no carro e dei a partida, pegando o caminho pra casa.

—Do tipo que envolve aquelas caixas que estavam na casa da árvore e você queria saber o que eram. Hoje você vai poder descobrir. —Afirmei, vendo a surpresa brilhar nos olhos dela, antes do seu rosto ser tomado por pura ansiedade. —Sei que vai gostar. Então já quero deixar claro que nossos amigos ajudaram em tudo. E pensaram em alguns detalhes que nem mesmo eu tinha pensado.

—Não sei se preciso ficar ansiosa ou preocupada. —Camila afirmou, me fazendo soltar uma risada e negar com a cabeça. Eu sabia que ela ia amar a surpresa, mas estava muito animado pra ver a reação dela.

Camila passou o caminho pra casa conversando sobre como tinha sido a noite no bar. Pessoas bêbadas demais. Uma briga que resultou em Paulo chutando dois caras para a rua. Já tinha notado que Camila parecia gostar de trabalhar ali, já que todos eram super gente boas. Mas eu sabia que ela voltava pra casa sempre cansada de ficar de pé a noite toda. Queria que a situação fosse melhor pra nós dois.

—Amanhã tem a audiência de guarda. —Falei, vendo Camila me olhar com uma expressão preocupada. —Não estou muito animado, sabe? Achei que o juiz nem ia aceitar eu recorrer a decisão dele. Demorou pro meu advogado ganhar alguma resposta positiva.

—Mas pelo menos ele vai ouvir algumas pessoas, que conhecem vocês e sabem que o melhor pra Érika é com você. —Camila colocou a mão sobre a minha, me lançando um sorriso confiante. —Paulo vai falar sobre como a Érika sempre esteve segura dentro do bar, porque você era um irmão preocupado e coruja demais.

—Espero que esteja certa, Cami. —Falei, balançando a cabeça negativamente. —Não quero deixar meu pai vencer de novo.

[...]

Assim que entramos no apartamento, Camila me questionou sobre aonde estava a surpresa. Quando eu disse que estava no quarto, ela saiu correndo pra lá, me fazendo soltar uma risada com a ansiedade dela, antes de ir atrás para ver sua reação. A porta estava fechada e a luz apagada, mas eu tinha deixado as luizinhas da estante acessa, então Camila a veria sem precisar acender a luz.

Engoli em seco quando ela empurrou a porta, parando por um momento quando viu que uma das paredes estava ocupada por uma estante enorme, cheia de livros. Os livros que eram dela. A maioria que tínhamos lido juntos e outros que eu estava presente quando ela comprou. Todos fazem parte da nossa história, mesmo que fossem apenas dela.

—Por favor, me diz que você não comprou todos esses livros. —Camila sussurrou, com a voz tremula, dando alguns passos para perto da estante, sem se preocupar em acender a luz.

—Bem, alguns foi eu que comprei e te dei de presente anos atrás. Mas os outros foram todos você que comprou. —Afirmei, abrindo um sorriso quando Camila olhou pra mim, parecendo incrédula, como se tentasse não acreditar no que estava pensando. —São todos os seus livros, Cami. Eu peguei todos eles quando fiquei sabendo que sua casa estava sendo desocupada para venda. Os novos moradores não queriam nada e me deixaram pega-los.

—Mesmo magoado comigo você... —Camila pareceu sem palavras, comprimindo os lábios enquanto me encarava com uma expressão abalada. Ela voltou a encarar a estante, antes de se aproximar quando notou os dois quadros que eu tinha colocado ali.

—Mesmo magoado com você, eu ainda me importava. —Falei, me aproximando dela, antes de a abraçar por trás, afundando meu rosto nos seus cabelos. —E eu ainda me importo agora, muito mais do que antes. Quero que seja feliz aqui e esqueça todas as lembranças ruins desses cinco anos.

—Obrigada por isso. Muito obrigada. —Camila se virou e me abraçou, antes de encher meu rosto de beijos. —Você sabe quanto esses livros eram importantes pra mim. Era a melhor surpresa que você poderia me dar.

—Fico feliz que tenha gostado, Cami. Pode ajeitar os livros da forma que quiser agora. —Abri um sorriso pra ela, antes de me inclinar e roubar um beijo, me afastando na direção da cama logo depois. —O que acha de depois do jantar, a gente ler um livro juntos?

—Igual antigamente? —Indagou, parecendo super animada com a ideia. Balancei a cabeça que sim, rindo quando ela soltou um gritinho animado que certamente todo o prédio ouviu. —É claro que eu quero. Adoro ouvir as histórias com você lendo.

Camila correu para tomar banho, enquanto eu arrumava o nosso jantar. Comemos juntos, enquanto ela falava sobre o fato de que agora poderia voltar a comprar livros, já que foi algo que ficou esquecido nos últimos anos, com tudo que tinha acontecido. Quando terminamos de comer, fomos pra cama juntos. Camila escolheu o livro que queria e me entregou. Deitamos juntos, abraçados, com ela descansando a cabeça no meu peito. E então eu comecei a ler, como fazia antigamente.


Continua...

Todas as lembranças perdidas / Vol. 3Onde histórias criam vida. Descubra agora