Capítulo 55: Personagem principal.

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Camila

A rodoviária estava movimentada naquele horário da tarde. Eduardo estava com o braço ao redor da minha cintura, enquanto observávamos Léo se despedindo da irmã. Ele já tinha dado um abraço em nós, assim como em Manu, Bernardo e Felipe. Mas eu tinha a sensação que a única pessoa que ele queria realmente abraçar, não estava ali.

O pai de Eduardo não havia permitido que ela saísse de casa. Ele não estava brincando quando disse que ela estava de castigo. Agora ele parecia determinado a não deixa-la sair pra nada e agir como um cão de guarda por isso. Olhei para Edu, vendo-o perdido em pensamentos.

Tinha mandado mensagem para Érika contando que Léo estava indo embora. Ela me respondeu com um "graças a Deus", que eu tinha certeza que era apenas brincadeira. E quando eu perguntei se ela gostaria que eu falasse algo pra ele, ela ignorou minha pergunta e mudou de assunto, sem nem ao menos tentar disfarçar.

—Se eu passar para o campeonato de xadrez, volto daqui a algumas semanas. —Léo afirmou, se afastando de Júlia e olhando pra todos nós, enquanto jogava a mochila nas costas e abria um sorriso um tanto desanimado, como se não quisesse ir.

—Você vai passar. —Júlia revirou os olhos ao dizer aquilo, o que fez Léo rir. —Vamos deixar guardado seu lugar no sofá.

—Fico grato, apesar de achar que não vou precisar. —Léo fez uma careta, antes de dar um beijo em Júlia e passar para mais uma rodada de abraços em todo mundo, até chegar em nós dois. —Valeu pelas aulas de bateria. Vou tentar continuar, apesar de achar que vou enlouquecer meus pais com isso.

—Não precisa agradecer. Quando você voltar, podemos continuar, se quiser. —Edu murmurou, o que fez Léo abrir um sorriso, antes de olhar pra mim. Ergui as sobrancelhas pra ele, esperando por alguma provocação. Mas tudo que ele fez foi se inclinar e me dar um abraço apertado.

—Manda um abraço pra ela por mim. —Sussurrou, para que Edu não escutasse. Assenti com a cabeça quando Léo se afastou, vendo os olhos dele buscarem alguma coisa nos meus, como se aquele fosse nosso segredo.

Quando a viagem dele foi chamada, ele acenou pra nós e caminhou até os portões e desapareceu. Ergui os olhos para Eduardo, vendo-o procurar meu rosto também, com um sorriso pequeno nos lábios. Não havia qualquer sensação de despedida ali, porque sabíamos que Léo voltaria. Mas havia algo ali. Uma sensação diferente no ar. Algo carregado que eu não conseguia saber o que era.

—Então estamos só nós de novo, prestes a voltar para aquelas aulas chatas. —Júlia exclamou, se virando pra nós.

Soltei uma risada, porque eu tinha sido transferida para a universidade dali, o que significava que eu não conheceria absolutamente ninguém da minha turma. Aquilo era quase um pesadelo. Começar de novo em outro lugar. Me sentia ansiosa com a ideia.

—Estou pensando pelo lado positivo, nos próximos meses vamos pensar na formatura e contar os segundos pra ela. —Bernardo afirmou, enquanto nosso grupo se dirigia para a saída da rodoviária.

—Queria poder pensar na formatura também, mas ainda tenho um ano e meio pra isso. —Manu choramingou, como se o fato realmente a matasse por dentro.

—Você vai fazer alguma coisa pra sua formatura? —Indaguei, olhando pra Edu. —Um jantar ou alguma coisa?

—E chamar meu pai e minha mãe pra eles se matarem? Ah, não, tô fora. Vou aproveitar o que a universidade vai dar e só. —Afirmou, fazendo uma careta, como se só a ideia daquilo o desse arrepios. —E você, vai fazer alguma coisa?

—Mesmo que eu fizesse, não teria ninguém pra chamar além de vocês. —Falei, dando de ombros, vendo Edu comprimir os lábios, como se tivesse se arrependido de fazer a pergunta. —Ta tudo bem, eu não tenho a intenção nem de ir na festa depois.

—Por que não? Você deveria ir. É a sua formatura.

—É, mas eu posso aproveitar a festa da sua formatura. Vai ser bem mais legal. —Afirmei, o que o fez rir, como se me achasse uma boba. Mas eu estava falando sério. Minha formatura não teria nada de interessante. Mas a dele seria incrível, eu tinha certeza disso.

—Tudo bem, podemos pensar nisso mais pra frente. —Eduardo se inclinou e beijou a ponta do meu nariz, enquanto caminhávamos pela calçada, com o sol batendo no nosso rosto. As risadas de Manu e Júlia atrás de nós, junto com as conversas de Bernardo e Felipe.

Soltei um suspiro pesado, escorando minha bochecha no ombro de Eduardo. Aquela era uma realidade que eu não me via quando parava pra pensar antes. Quando voltei e vi o quanto o havia magoado, mesmo sem querer, pensei que nunca ia consegui-lo de volta. Mas ali estava ele, se apaixonando por mim de novo, assim como eu por ele.

—O que acha de voltarmos pra casa e lermos alguma coisa juntos? —Edu se inclinou e sussurrou aquilo no meu ouvido, o que me fez abrir um sorriso muito grande, antes de girar o rosto e olhar pra ele, me perguntando como tinha sido capaz de conseguir ficar cinco anos longe dele. Tinha sido tempo demais sem encarar aqueles olhos incríveis.

—Acho que essa é uma ótima ideia. —Sussurrei de volta, porque nossos amigos estavam bem atrás de nos, além de eu precisar reunir todo a coragem que existia em algum lugar da minha cabeça. —Mas eu pensei que a gente podia fazer algo diferente.

—Diferente como? —Indagou, franzindo a testa, como se achasse que eu estava recusando um momento só com ele, enquanto ele lia um livro pra mim. Aquilo me fez rir, antes de eu sentir minhas bochechas corarem, porque eu sabia que aquilo me renderia muitos constrangimentos.

—Eu vou ler pra você, dessa vez. —Afirmei, vendo os olhos de Eduardo se iluminarem de surpresa e com uma felicidade que quase me deixava sem fôlego. —Vou ler o meu livro pra você.

—Sério? —Ele sorriu, inclinando o rosto para perto do meu quando assenti com a cabeça. —Estou me sentindo muito honrado nesse momento.

—Deveria mesmo. Você foi minha inspiração pro personagem principal. —Afirmei, observando o quão chocado ele havia ficado com aquela informação, com uma expressão tão perdida que acabei soltando uma risada alta, antes de ser puxada para um beijo que nenhum livro conseguiria descrever a intensidade.



Epílogo...

Todas as lembranças perdidas / Vol. 3Onde histórias criam vida. Descubra agora