Capítulo 23: Érika confia em você.

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Havia muitas coisas passando pela minha cabeça naquele momento. A primeira delas é que eu estava deitado no chão ao lado de Camila, com nossas cabeças lado a lado, da mesma forma que costumávamos ficar quando éramos os melhores amigos um do outro. A segunda coisa é que eu não sabia o quanto precisava daquilo, até estar vivendo aquele momento. Era como se tivéssemos voltado no tempo.

—O fato do seu pai colocar alguém pra seguir vocês dois e pegar a Érika no bar é de uma babaquice tremenda. —Camila afirmou, erguendo as pernas para escora-las na cama, mexendo os pés que estavam cobertos por uma meia rosa cheia de nuvens. —Ele sabia que ia perder a guarda dela pra você e precisou apelar.

—É, e ele conseguiu. —Soltei o ar com força, escorando minhas pernas na cama ao lado das de Camila. Minhas pernas bem maiores que as dela. —Ele traiu minha mãe dentro da nossa casa. Se separou como se não tivesse feito nada demais. E agora a única coisa que ele não podia conseguir, ele conseguiu.

—Cretino. —Camila sibilou, e nos dois acabamos rindo depois de um segundo. Era até estranho pensar que horas atrás ela não estava nem mesmo olhando pra minha cara, mas agora estava aqui, me dando todo o apoio que eu poderia precisar. —Érika confia em você, Edu. Ela sabe que você vai reverter isso.

—Bem, eu espero que sim. Não vou desistir tão fácil. —Afirmei, umedecendo os lábios com a língua quando um dos pés dela bateu contra o meu de leve. A sensação calorosa tomando conta do meu coração. —E eu espero que a Érika infernize ele até não aguentar mais.

—Enquanto ela não volta, seu pai não o proibiu de ir visitá-la, né? —Indagou, e eu neguei com a cabeça na mesma hora. Não tinha proibido e mesmo que proibisse, eu ainda iria visitar minha irmã pra saber se ela está bem. Não confio nada no meu pai pra cuidar dela. —Bom, vou visitá-la também. Aposto que seus amigos também vão.

—Sabe que eles são seus amigos também, né? —Girei o rosto pra olhá-la, vendo-a comprimir os lábios e girar o rosto pra olhar pra mim também. —Você acabou de voltar do cinema com as garotas.

—É, eu sei. Mas eles são mais seus amigos do que meus. Eu literalmente acabei de chegar. —Camila murmurou, enquanto meu coração parava de bater quando ela começou a bater o pé contra o meu, como se estivesse brincando. Era um ato tão natural que me deixou paralisado, com o sangue correndo com mais força pelo meu corpo. Não tinha certeza de que ela havia notado o que estava fazendo, porque seu rosto estava muito focado no meu. —Aposto que todos eles vão sentir falta da Érika. Principalmente o Léo.

—Ah, claro, ele adorava inferniza-la. —Soltei uma risada, vendo Camila revirar os olhos e soltar uma risada, antes de negar com a cabeça. —O que foi? Do que você está rindo?

—Você é tão lerdo as vezes. —Afirmou, ainda rindo, enquanto eu fazia uma careta pra ela.

—Que bom que você gosta de se divertir as minhas custas. —Falei, soltando uma respiração pesada, enquanto a observava parar de rir na mesma hora, com as bochechas vermelhas e os olhos parecendo duas estrelas brilhantes, enquanto os cabelos loiros estavam espalhados pelo chão. —Vai me contar por que eu sou lerdo ou vai continuar rindo?

—E estragar toda a brincadeira? —Camila estalou a língua e balançou a cabeça negativamente. —Não, é divertido demais ver você todo perdido.

A encarei com as sobrancelhas erguidas, torcendo os lábios em incredulidade, porque Camila estava com um sorriso muito grande no rosto. O momento pareceu passar muito lentamente, enquanto eu absorvia cada detalhe do rosto dela, até o sorriso de Camila sumir quando ela se deu conta de como nós dois estávamos naquele momento. Mas já era tarde demais, porque meu coração já tinha reagido aquilo, disparando dentro do meu peito.

—Bom, você parece estar se sentindo melhor, o que é ótimo, porque a culpa não foi sua. —Afirmou, se sentando rapidamente no chão, fazendo o clima leve dar lugar a uma tensão que fazia faíscas correrem pelo ar. A discussão que tivemos antes? Foi quase automático me lembrar dela. —Eu tenho que ir trabalhar, então a gente se vê depois.

—Camila? —Ela ficou de pé, mesmo que eu a tivesse chamado, murmurando algo sobre estar atrasada, sendo que ainda tinha uma hora antes de pegar no trabalho. —Camila?

Ela se fechou no quarto, enquanto eu me sentava no chão, escondendo o rosto entre as mãos e balançando a cabeça negativamente. A calmaria que tinha tomado conta do meu corpo com nossa conversa, simplesmente desapareceu, me deixando tão tenso que eu tinha certeza que minha cabeça ia explodir a qualquer momento.

[...]

—O que você pode fazer pra melhorar a situação? —Felipe indagou, enquanto ele, eu e Bernardo dividíamos o pequeno espaço da cozinha deles, ouvindo a risada de Manu e Júlia da sala.

—Eu não sei. O advogado só me instruiu a não tentar impedir que ele levasse a Érika. Se eu fizesse isso, podia dar merda pro meu lado. —Afirmei, balançando a cabeça negativamente, porque eu esperava terminar aquela noite me divertindo com meus amigos e com a minha irmã a tira colo. —Vou recorrer, óbvio. Mas o juiz não parecia ter ido muito com a minha cara.

—Se ele soubesse que todo adolescente menor de idade já foi em um bar uma ou mais vezes, a cabecinha dele iria explodir. —Bernardo riu ao dizer aquilo, antes de bater no meu ombro. —Sua mãe não pode pedir a guarda dela de novo?

—Não sei, cara. Sinceramente, não sei. Acho que mesmo que ela tentasse, o juiz não iria aceitar, já que ela retirou a vontade por mim. —Falei, além do fato de Érika também não querer ficar com ela. Claro que a gente gostava da nossa mãe, mas ela não deixava de ser uma desnaturada. E o divórcio só piorou tudo. —Só sei que agora eu estou tão frustado. Simplesmente nada tá dando certo pra mim.

—A Camila continua não olhando pra sua cara? —Felipe indagou, e eu hesitei em responder, porque sabia o que aconteceria se falasse a eles sobre o momento que eu e Camila dividimos horas antes.

—Acho que isso é um não. —Bernardo murmurou, antes de soltar uma risada junto com Felipe, enquanto eu revirava os olhos.

—Olha só quem tá aí. —Léo entrou na cozinha, enquanto eu lançava a ele o olhar mais infeliz de todos. —Pela sua cara, você ainda está com vontade de me assassinar pelo outro dia.

—Foi infantil pra caralho da sua parte trancar a gente. E adivinha, não ajudou em nada. —Sibilei, vendo-o encolher os ombros, como se não fosse bem isso que ele esperava ouvir. —E quer um bônus? Graças a isso alguém tirou uma foto sua e da Érika saindo do bar. Não consegui a guarda dela, porque a foto foi parar nas mãos do juiz.

—Tá brincando? —Léo pareceu assustado pra valer, vindo pra perto de mim. —Onde tá a Érika?

—Com meu pai. E não, tô falando muito sério. Não estou dizendo que a culpa foi sua. Foi minha, porque eu não deveria ter levado ela lá. —Afirmei, observando Léo abaixar a cabeça para o chão, com uma expressão totalmente arrasada. —Mas esse dia foi uma sucessão de momentos desastrosos.


Continua...

Todas as lembranças perdidas / Vol. 3Onde histórias criam vida. Descubra agora