Eduardo
O pai de Camila estava internado no hospital. Era grave, mesmo que a mulher com quem falei tivesse dito que tinha esperanças de ele melhorar. Camila tinha me deixado atender as ligações depois que se acalmou um pouco. Precisei pedir desculpas para a moça, óbvio, porque ela não tinha culpa de nada é só estava tentando fazer o seu trabalho.
Quando desliguei a ligação e contei pra Camila, não deixei de notar o alívio que ela sentiu por saber que ele não havia morrido, mesmo que estivesse em estado grave. Eu entendia o que ela estava sentindo. Ele havia a feito sofrer, de um jeito que um pai nunca deveria fazer o filho sofrer. Camila queria que ele pagasse por isso. Mas lá no fundo do coração dela, aquela ligação entre pai e filha ainda falava também, querendo que ele não morresse. Era uma situação complicada demais
—Ela vai visita-lo? —Felipe indagou, e eu balancei a cabeça negativamente na mesma hora, porque Camila queria distância dele.
—Ele está no rio. Camila não quer ir pra lá. —Afirmei, umedecendo os lábios com a língua, enquanto encarava a tv ligada. —Ela pode não o querer morto, mas isso não significa que deseja se reaproximar.
—Acho que foi bom ela sair com as garotas. Acho que a Manu poderia entender ela mais do que qualquer um de nós. —Bernardo falou, como se estivesse pensando longe. Já havíamos conversado sobre os pais da Manu, depois de algumas situações incomuns por aqui. —Tenho a sensação que se a Manu estivesse no mesmo lugar, ela pensaria e sentiria a mesma coisa. Ela não fala muito comigo sobre isso, porque está tentando superar essa parte. Mas sei que lá no fundo ela ainda se importa com eles, mesmo que os queira bem longe da sua vida.
—Ela vai precisar de todos nós agora. —Comentei, sabendo que se o pai dela não melhorasse, as coisas poderiam ficar bem ruins.
—Essa conversa tá muito deprimente. —Léo sussurrou, negando com a cabeça. Ele estava sentado do meu lado, mas estava em silêncio até então. —A ideia era nos animarmos e não entramos em depressão juntos.
Acabamos rindo, mesmo que ele estivesse sério, encarando a tv com uma expressão bem distante. Me perguntei o que estava se passando na cabeça dele. Léo andava muito distante, parecendo sempre pensando longe ou ocupado com alguma coisa. Nos dois tínhamos ficado bem próximos desde que ele havia chegado, além de eu estar dando aula de baterias pra ele.
—Podemos falar sobre o fato das férias estarem acabando. Vamos nos formar no final do ano cara. Só mais algumas meses e estaremos livres da faculdade. —Felipe exclamou, me fazendo abrir um sorriso, porque não via a hora de me formar e poder começar a minha vida bem longe da universidade. Camila ia se formar também, o que podia ser o início de uma coisa bem diferente pra nós dois. —Até você, Léo, vai se formar no ensino médio no final do ano. Já tem ideia do que vai fazer?
—Bom, eu sinceramente não sei. Talvez administração ou econômica. —Léo deu de ombros, balançando a cabeça negativamente, como se não fizesse ideia de verdade. —Quero continuar no xadrez, isso eu sei. Depois que eu me formar, posso participar de outros campeonatos maiores de xadrez.
—A Júlia me falou que tem um campeonato entre as escolas depois das férias. —Felipe murmurou, fazendo Léo comprimir os lábios, antes de abrir um sorriso.
—É, tem sim. Aqui em Floripa. Mas ainda não sei se vou participar. Tem a classificação entre as escolas regionais. Preciso me sair bem lá, pra participar do campeonato daqui. —Afirmou, fazendo nós três trocamos um olhar demorado.
—A gente já viu como você joga xadrez, cara. Óbvio que você vai se sair bem. —Dei uma cotovelada de leve nele, o que o fez rir. —E vai ser ainda melhor, porque você vai vir pra cá e pode ficar com a gente de novo.
—Vocês estão mais confiantes do que eu. —Léo retrucou, o que acabou nos fazendo rir, porque ele realmente não parecia muito confiante. Ou talvez muito animado com aquele campeonato. —Vamos ver como vai ser. Só quero sair da escola logo.
—Não fica tão ansioso assim. A faculdade é um saco. —Felipe rebateu, fazendo Léo se encolher no sofá, parecendo ainda mais desanimado. —Tenho milhares de planos pro ano que vem, então não vejo a hora disso acabar.
—Aposto que a maioria dos planos envolvem a Júlia.
—Vai dizer que você não fez planos com a Manu ainda? —Felipe olhou para Bernardo de um jeito debochado, depois de ouvir a afirmação dele. —A gente pretende alugar um apartamento perto do trabalho de ambos e irmos morar juntos, só nós dois.
—Ah, desculpa, eu e a Manu estamos atrapalhando vocês aqui no apartamento? —Bernardo questionou, fingindo um se ofendido, enquanto eu e Léo nós olhávamos e riamos. —Por que se estivermos, a gente da lado, cara. Não queremos atrapalhar o lar doce lar de vocês.
—O que você e a Camila pretendem fazer? —Léo indagou, me olhando com certa curiosidade, e mais alguma coisa que eu não soube detectar o que era.
—Ah, ainda não conversamos bem sobre isso. Falamos sobre a formatura, mas não combinamos qualquer plano pra depois dela. —Afirmei, mesmo que eu tivesse alguns planos que envolviam ela, mesmo que não tivesse os dito em voz alta pra ela. —Ainda tem a questão da Érika. As coisas que eu penso pra depois da formatura, envolvem a minha irmã.
—Não vou muito com a cara do seu pai. —Léo sussurrou, como se estivesse com medo de me ofender dizendo aquilo alto demais. Eu acabei rindo, negando com a cabeça ao mesmo tempo, porque nenhum dos meus amigos iam com a cara dele. Mas eu não me sentia ofendido, quando nem eu mesmo ia com a cara deles.
—Eu também não, Léo. Eu também não. —Falei, comprimindo os lábios e encarando o chão, pensando se existia alguma coisa que poderia fazê-lo desistir da guarda de Érika por mim. Mas meu pai era inflexível e determinado. Nada o faria mudar de ideia, me restando vencer ele na justiça.
Continua...
VOCÊ ESTÁ LENDO
Todas as lembranças perdidas / Vol. 3
RomanceCinco anos atrás Eduardo teve seu coração partido pela sua melhor amiga, assim que ela desapareceu e nunca mais entrou em contato, logo após ele ter se declarado pra ela. Depois disso, ele decidiu que nunca mais iria se envolver com alguém de novo...