Capítulo 41: Eu, você e a Érika.

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Eduardo nos levou pra casa alguns minutos depois. Fiquei feliz em poder entrar na casa da árvore e ver que estava tudo do mesmo jeitinho, assim como os sentimentos que eu tinha por Eduardo. Mas não posso negar que fiquei aliviada quando fomos embora, sabendo que estava bem longe do pai de Eduardo e poderia conversar com ele sobre isso.

Não sabia qual seria a reação dele. Não sabia nem mesmo se ele ia interpretar a situação da mesma forma que eu tinha interpretado. Eu realmente esperava que sim, mas também tinha medo de que ele ficasse furioso. A relação dos dois já não era das melhores e aquilo podia piorar tudo, dependendo do que Eduardo pensasse sobre aquilo.

Soltei um suspiro ao sair do banheiro, ajeitando meus cabelos úmidos do banho. Eduardo estava jogado no sofá, trocando de canal sem parar, parecendo frustado por não encontrar nada novo pra assistir. Tínhamos passado o dia juntos, até ele me levar para o trabalho. Ele ficou um pouco no bar, antes de ir embora. Mas quando deu meu horário, ele estava lá para me buscar. Uma mudança muito grande para o Eduardo que reencontrei nesse mesmo apartamento. Mas era o mesmo Eduardo que eu conhecia anos atrás.

—Você não precisa mais dormir no sofá, sabe disso, não é? —Falei, fazendo-o desviar a atenção da tv e olhar pra mim, abrindo um sorrisinho que deixava claro que ele sabia muito bem disso. —A cama é um pouco pequena, mas...

—Posso trocar por uma cama de casal, se você quiser. —Eduardo ficou de pé, caminhando na minha direção. Engoli em seco, porque ele estava me observando de uma forma que deixou minhas pernas trêmulas e meu coração disparado.

—Se você vai dormir comigo daqui pra frente, então é uma ótima ideia. Mas não quero que gaste dinheiro demais. Não me importo de dormir apertada com você. —Falei, sentindo minhas bochechas esquentarem quando o sorriso de Eduardo aumentou consideravelmente.

—Sabe que não precisa se preocupar com essa coisa de dinheiro, né? Olha, queria até poder dizer que não precisa me pagar o aluguel. Mas o juiz já está me fodendo com esse aluguel garantido, imagine se não tiver ele. —Eduardo afirmou, e eu acabei soltando uma gargalhada, sentindo ele passar os braços ao redor da minha cintura.

—Você não falava tanto palavrão antes. —Falei, lançando a ele uma expressão reprovadora, mesmo que eu soubesse que ele não iria parar.

—Culpa sabe de quem? Da Carolina. Ela é a pessoa mais boca suja que eu conheço. E foi com ela que eu peguei essa mania. —Eduardo exclamou, antes de erguer as sobrancelhas de leve quando viu minha reação constrangida ao ouvir o nome da garota. —Não faz essa cara. A namorada dela chegou em Floripa ontem. Ela quer marcar um encontro pra gente se conhecer. E você, dona Camila, vai junto.

—Não vou, não. A amiga é sua. —Neguei na mesma hora, cutucando o peito dele com a ponta do dedo, antes de me afastar e ir para o quarto, vendo Eduardo me seguir com um sorriso convencido.

—Ah, agora ela é minha amiga, né? —Zombou, me fazendo comprimir os lábios, antes de mostrar a língua pra ele, por estar se lembrando do meu momento vergonhoso de ciúmes. —Não faz assim. Prometo não contar a ela que você achou que a gente tava se pegando.

—Tá. —Respondi a contragosto, me jogando na cama e abraçando meu travesseiro, vendo Eduardo se escorar no batente da porta e cruzar os braços na frente do peito. O sorriso convencido continuava no rosto, enquanto ele me olhava como se eu fosse uma criatura adorável. —Escuta, preciso conversar sobre algo sério com você. Mas tô preocupada com a sua reação.

—É sobre seu pai? —Questionou, ficando sério na mesma hora, enquanto eu me apresava em negar com a cabeça.

—É sobre o seu pai, na verdade. —Me sentei na cama, puxando o travesseiro para o meu colo, enquanto sentia os olhos de Eduardo sobre mim, mas eu não estava com coragem de olhar pra ele. —A gente se encontrou quando você foi levar a Érika até o quarto dela. Ele me falou algumas coisas que eu não gostei muito. Mas eu posso ter interpretado um pouco errado e...

Camila. —Me encolhi quando ele sibilou o meu nome com um tom de voz seco. —Não diga "eu posso ter interpretado errado" antes de repetir qualquer atrocidade que meu pai falou pra você. Se está com medo de que a coisa fique ruim entre eu e ele, acredite, já estamos na merda há muito tempo.

—Desculpa, é só que... —Puxei o ar com força, tomando coragem para olhar para Eduardo.

Ele estava me encarando com uma expressão seria, apenas esperando que eu fosse em frente. Engoli em seco e repeti o que o pai dele havia me dito, tentando não mudar nenhuma palavra. Quando terminei, Eduardo apenas ficou ali, parado, como se ainda estivesse absorvendo as minhas palavras.

—Edu, eu não...

—Quando você ia na minha casa, quando ainda éramos só amigos, ele chegou a fazer alguma coisa do tipo ou essa foi a primeira e única vez?

—Foi a primeira e única vez. —Sussurrei, apertando minhas unhas contra a palma da minha mão, me sentindo em carne viva com aquele assunto.

—Eu o odeio, Camila. De verdade, eu o odeio pra valer. O odiava quando era criança, quando pensava que ele não gostava de mim e da Érika. O odiei mais ainda quando ele traiu minha mãe dentro da casa que dividiu com ela por anos. E o odeio tanto agora, mais do que nunca. —Eduardo afirmou, escondendo o rosto entre as mãos, enquanto respirava fundo. —Eu só queria ir até lá agora e dar um soco no meio da cara dele. Eu queria tanto, mas tanto, que chega a doer.

—Vem aqui.

Bati a mão ao meu lado na cama, sabendo que tinha acabado com todo o clima bom que estava entre nós dois, mesmo que a culpa não fosse mesmo minha. Estava aliviada por ele ter entendido o mesmo que eu, ao mesmo tempo que me sentia mal por ver que, assim como eu, Eduardo tinha um pai horrível. Ele atravessou o quarto e se sentou ao meu lado, antes de deslizar a cabeça até o meu colo.

—Queria que ele e o seu pai simplesmente desaparecessem da face da terra. —Afirmou, olhando pra mim, enquanto eu passava a mão pelos seus cabelos, sentindo meu coração se contrair.

—Eu sei, eu também queria. Mas acho que eles vão ser sempre uma sombra na nossa vida. —Falei, me inclinando e beijando a testa dele, sentindo a mão de Eduardo tocar minha cabeça. —Tivemos uma péssima sorte no quesito família. Mas podemos consertar isso, sabe? Podemos construir nossa própria família, muito melhor do que a que nossos pais nos deram. Eu, você e a Érika.

—Cami, eu não poderia concordar mais com você. —Eduardo sussurrou, me arrancando um sorriso muito grande.


Continua...

Todas as lembranças perdidas / Vol. 3Onde histórias criam vida. Descubra agora