Capítulo 25: Baterista favorito.

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Estava realmente feliz por perceber que teria meu primeiro dia de folga, saindo pra me divertir com minhas amigas, sem precisar ficar trancada no meu quarto me lamentando pela minha vida estar tão ruim. Tudo bem que eu estava no bar que eu trabalho. Mas pelo menos eu estava bebendo em vez de servir as pessoas que estavam ali.

Júlia e Manu estavam sentadas comigo, enquanto Léo estava no bar com Diogo, um amigo do trabalho das garotas que eu havia acabado de conhecer. Ele era um fofo, além de ser super simpático, mas estava atrapalhando meu momento de fofoca, porque queria muito conversar com Léo e ainda não tinha conseguido.

Os dias que se passaram desde a mudança da Érika foram estranhos. Eduardo e eu trocamos algumas poucas palavras, em um clima leve, mas ainda esquisito. Sai algumas vezes com as garotas, enquanto ouvia elas fazerem planos sobre o que iríamos fazer nas próximas semanas. Planos nos quais eu estava incluída, mesmo que eu me recusasse a acabar com a animação delas por conta do meu trabalho.

Pensei que conseguiria falar com Léo depois da visita que fiz a Érika. Mas o garoto parecia sumir sempre que eu tinha tempo livre. Não achava que ele estava me evitando, mas sim que estava acontecendo alguma coisa. Sempre que eu perguntava dele para Júlia, ela me lançava um olhar malicioso, como se achasse que eu estava tentando provocar Eduardo de alguma forma, quando na verdade eu só queria conversar com o irmão dela.

Soltei um suspiro ao ver uma garota negra, de cabelos volumosos e cacheados chegar em Léo e Diogo. Os três pareciam dispersos em uma conversa muito interessante. Voltei meu olhar para o palco, olhando diretamente para onde Eduardo estava, sentado atrás da bateria, tocando perfeitamente.

Não pensei que alguma coisa que ele fizesse poderia me deixar mais balançada do que eu já estava, só por dividir o apartamento só com ele. Mas vê-lo ali, brilhando naquele palco, parecendo tão feliz com o que fazia, me deixava sem fôlego. Ele sorria e cantava junto com Felipe e Bernardo, animando todo mundo que estava na frente do palco.

—Uma pena que a Érika não está aqui. Ela se divertia mais do que todos nós, mesmo não bebendo uma gota de álcool. —Júlia murmurou, e Manu não hesitou em concordar com a cabeça, enquanto eu me lembrava da mensagem que Érika havia me mandado mais cedo.

Beba todas as cervejas que puder em meu nome e, pelo amor de Deus, da uns beijos no meu irmão. Ele tá precisando.

Eu soltei uma gargalhada muito alta quando li a mensagem dele e respondi apenas com um emoji, porque não sabia o que dizer. Beber todas as cervejas em nome dela? Eu poderia fazer isso. Dar uns beijos em Eduardo? Essa era uma questão muito complicada. Pensar naquilo fez uma onda de calor percorrer meu corpo, me lembrando de quantos beijos eu e Eduardo tivemos no total.

Foram apenas quarto, na noite em que ele se declarou pra mim. Quatro beijos que me atormentaram por esses cinco anos. Ele beijava muito bem naquela época. Pensando agora, me sinto envergonhada só de imaginar como ele seria beijando. Tinha a sensação que um único beijo agora, seria capaz de iniciar um incêndio.

—Camila? —Me assustei ao ouvir a voz de Manu, enquanto ela tocava meu braço, já que eu estava perdida em pensamentos. —Tudo bem?

—Ah, sim, só estava viajando. —Soltei uma risada, antes de virar a cerveja na boca, sentindo o álcool descer queimando na minha garganta. Talvez isso também estivesse influenciando meus pensamentos e a forma que eu estava me sentindo naquele momento, com meus sentimentos tão fortes, como se eu estivesse os sentindo na pele. —O que você tinha dito, Manu?

—Eles terminaram. A gente vai até lá encontrar eles na saída do palco. Quer ir também? —Manu questionou, me fazendo olhar na direção que os rapazes estavam, já deixando os instrumentos de lado.

—Acho que o Eduardo iria gostar. Ele sempre fica com uma cara de quem está segurando a maior vela do mundo quando estamos nos cinco juntos. —Júlia murmurou, enquanto eu soltava uma risada, sabendo perfeitamente o que elas estavam fazendo.

Talvez fosse o efeito do álcool, ou eu só estivesse muito incitada pelo nosso momento de calmaria no quarto de Érika, quando fiquei com Eduardo até ele se senhor melhor, mas concordei com elas e me levantei. Segui as duas até as escadas na lateral do palco, por onde eles desciam. Felipe e Bernardo pareciam já estar procurando as duas, como se aquilo fosse algo que eles sempre fizessem depois do show.

Não deixei de notar Eduardo fazendo o mesmo, até os olhos pararem em mim. Não havia qualquer surpresa ali, mas alguma coisa passou nos seus olhos, rápido demais para que eu conseguisse compreender. Mas fiquei aliviada em perceber que ele não parecia incomodado com a minha aproximação.

Felipe e Bernardo obviamente tiveram a atenção roubada por Júlia e Manu, em um momento de casais, o que obrigava eu e Eduardo a conversamos. Sorri de leve pra ele, sentindo que precisava muito de outra cerveja, pro meu cérebro acabar com qualquer nervosismo ou hesitação que ainda existia dentro de mim.

—Oi. —Ele me surpreendeu ao falar primeiro, mas não sorriu de volta, mesmo que eu estivesse sorrindo. Mas estava olhando pra mim, ignorando todo mundo ao redor, e aquilo era o suficiente para fazer meu coração disparar.

—Ei, não pensei que você tocasse tão bem assim. Vocês três foram incríveis lá em cima. Você tem muito talento. —Afirmei, observando ele assentir, dando um passo na minha direção para poder me ouvir melhor, porque já haviam ligado a música normal, além das conversas ao nosso redor. —Quando você começou a aprender?

—Faz uns quatro anos. Foi ideia da minha mãe, não minha. Ela achou que seria bom ter alguma coisa pra ocupar minha mente, já que eu... —Eduardo subitamente parou de falar, desviando os olhos de mim, antes de soltar o ar com força. —Foi bom, porque descobri que sou realmente bom com isso. E essa banda é meu passatempo favorito com os meus amigos.

—Você toca incrivelmente bem. Já sei porque o Léo escolheu você como professor. —Afirmei, me arrependendo na mesma hora, porque Eduardo ficou rígido na minha frente.

Talvez se eu estivesse sóbria eu iria rir dele, por estar com ciúmes. Mas agora que eu estava um pouco alterada, queria agarrar ele pelos ombros e mandá-lo acordar pra vida, porque obviamente não rolava nada e nunca rolaria comigo e com Léo. Podemos provocar e brincar, mas é nítido onde o interesse do gaúcho está, assim como o meu interesse.

—A gente é só...

Eu ia afirmar com todas as letras que Léo e eu era apenas amizade, porque estava começando a me irritar com a lerdeza de Eduardo. Mas as palavras ficaram entaladas na minha garganta quando uma garota surgiu atrás de Eduardo, o abraçando pelos ombros com uma intimidade que me deixou sem graça.

—Não acredito que eu finalmente encontrei meu baterista favorito. —A garota murmurou, deixando um beijo na bochecha dele.

Esperei que Eduardo a afastasse, mas ele se virou no mesmo instante, abrindo um sorriso quando olhou pra ela, porque os dois claramente se conheciam. Fiquei imóvel no lugar quando ele a abraçou apertado, praticamente tirando os pés dela do chão, enquanto um nó se formava na minha garganta, junto com uma sensação avassaladora que esmagava meus ossos.


Continua...

Todas as lembranças perdidas / Vol. 3Onde histórias criam vida. Descubra agora