Capítulo 37: Eu não estou com ciúmes.

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Mordi o lábio para não rir da expressão enciumada de Eduardo, me perguntando como ele vai reagir quando se der conta de que Léo está interessado na irmã dele. Sabia que mesmo que ele e Érika ficassem em pé de guerra, ele se preocupava com ela. Lutar pela guarda dela contra os próprios pais era uma prova disso. E isso me fazia gostar mil vezes mais dele.

—Léo estava atazanando a vida da sua irmã e ela correu de volta pra barraca. —Falei, estendendo a mão pra ele. Eduardo veio se hesitar, se sentando do meu lado, enquanto os olhos de Léo se iluminavam como duas lâmpadas ao ver nossa interação. —Você vai ter ciúmes do Léo mesmo agora que nós entendemos?

—Eu não estou com ciúmes. Só perguntei do que estavam rindo. —Rebateu, exibindo uma expressão despretenciosa, enquanto eu soltava uma risada e Léo negava com a cabeça.

—Aposto que você estava imaginando milhares de formas diferentes de me matar quando me viu rindo com a Camila. —Léo afirmou, fazendo Eduardo lançar a ele um olhar afiado. Soltei uma risada quando Léo ergueu as mãos pra cima como se estivesse se rendendo. —Ei, cara, eu não gosto da Camila. Pelo menos não da forma como você está pensando. Eu só falava aquelas coisas pra te provocar. Mas nós dois só somos bons amigos, não é? —Balancei a cabeça em concordância, vendo Eduardo engolir em seco, olhando entre eu e Léo. —Fico feliz em vez que vocês dois se acertaram. Era óbvio que vocês dois se gostavam.

—Tudo bem. —Eduardo passou o braço ao redor de mim, parecendo mais tranquilo do que realmente estava. —Eu realmente não estava com ciúmes.

—Se você diz. —Sussurrei, fazendo pouco caso, vendo os olhos de Eduardo escurecerem e ele me apertar contra si, antes de segurar meu rosto e me dar um beijo demorado, bem ali, na frente de Léo. E se eu tinha alguma dúvida de que aquilo seria algo entre nós dois ou que seus amigos saberiam, agora eu já não tinha mais.

[...]

Depois que todos se levantaram e o sol saiu, levando embora aquele frio da manhã, nos arrumamos e saímos pra fazer uma trilha, para outra parte do rio. Os rapazes foram na frente, cuidando do caminho, para que nenhum de nós acabasse se perdendo por ali. Fui mais atrás, mesmo que meus olhos não deixassem Eduardo por um segundo.

—Que bom que vocês dois se resolveram. —Júlia murmurou, caminhando do meu lado na trilha. —Agora só falta o Edu ganhar a guarda da Érika pra tudo ficar perfeito. Você não estava aqui quando isso começou, mas ele era sempre uma pilha de nervos com isso. Acho que não foi uma decisão muito fácil pra ele, entrar na justiça contra os pais.

—Quando eu ainda morava aqui, antes de ir embora e... —Gesticulei com a mão, porque não sabia até onde Júlia conhecia minha história com Eduardo. —Os pais dele eram mais sensatos. Não conseguiria imagina-los passando e fazendo tudo isso.

Não acho que eu tive um exemplo muito bom de família. Tive o pior exemplo de todos, graças a meu pai. Mas a família de Eduardo era quase um conto de fadas pra mim. Sempre achei que os pais dele se amavam de verdade, porque tudo na vida deles soava como um mar de rosas perfeito. Mas é claro que não era real. Nenhuma família é perfeita demais.

—Você já os viu depois que voltou?

—Ah, ainda não. Falei com a mãe do Edu por telefone, mas foi super rápido. E quando eu fui visitar a Érika, o pai deles não estava em casa. —Abri um sorriso tenso, sabendo que agora que estávamos bem, uma hora ou outra, eu acabaria encontrando os pais dele.

Não sabia muito bem o que esperar, para ser sincera. Sempre me dei muito bem com os pais dele, mas as coisas estavam muito diferentes, tanto pra mim, como para eles. Aquele dia em que visitei Érika, quando estava indo embora, fiquei um tempão parada na frente da porta do quarto de Eduardo. O antigo quarto dele. Me sentia tentada em entrar lá e saber se estava tudo como eu me lembrava.

Mas então me lembrei da casa da árvore no quintal, onde passávamos o maior tempo juntos. Onde Eduardo falou que me amava. Não demorou um segundo pra eu ir embora, sabendo que era melhor não voltar aquelas lembranças. Mas eu e Eduardo não estávamos nos falando direito naquela época. Agora nós dois estávamos. Pensar nisso me deixava ansiosa, porque eu adoraria ver como aquela casa na árvore está. Tinha algumas das melhores lembranças da minha vida naquele lugar.

—Não sei o que Eduardo vai fazer. Ele se abre mais com os meninos, obviamente. Mas agora com você, talvez ele consiga colocar mais a cabeça no lugar e tudo se resolva. —Júlia abriu um sorriso pra mim, deixando claro que estava mesmo feliz por ver que havíamos nos entendido. —Ele ficou do meu lado em um momento importante há algumas semanas atrás. Me defendeu, mesmo quando não precisava. Quero que as coisas deem certo pra ele agora.

Olhei na direção de Eduardo lá na frente, absorto em uma conversa com Bernardo. Cada batida do meu coração parecia se igualar a minha respiração, porque era claro que Eduardo iria se preocupar com seus amigos e fazer coisas para ajudá-los, mesmo que não precisasse. Ele era assim comigo. Ficava do meu lado em qualquer oportunidade, mesmo quando eu não pedia. Era atencioso e tentava me deixar feliz, todas as vezes que eu estava triste.

Soltei um suspiro pesado, sentindo meu coração se apertar dentro do peito, porque ainda precisava me acostumar com a ideia de tê-lo de volta na minha vida, sabendo que poderia correr pra ele se alguma coisa acontecesse, porque ele estaria ali por mim. Tinha me acostumado a ficar sozinha, mesmo que as vezes isso me quebrasse por dentro. Mas agora Eduardo estava ali e bem lá no fundo eu tinha medo de que ele fosse tirado de mim de novo.


Continua...

Todas as lembranças perdidas / Vol. 3Onde histórias criam vida. Descubra agora