Capítulo 10: Quem é você?

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Peguei a mala de Camila, observando ela entregar uma caixa de papelão a Léo, olhando pra mim quando o quarto já estava limpo. Desviei os olhos dela para o cara no chão, sentindo meu coração martelar na minha garganta com a ideia de dividir o apartamento com ela. Aquilo iria acabar comigo.

—Vamos deixá-lo no corredor mesmo? —Léo indagou, enquanto descíamos as escadas para deixar o prédio. Eu e Camila olhamos pra ele, de uma forma que deixava claro que ele poderia muito bem voltar lá se quisesse, mas nós dois não iríamos.

—Desculpa, quem é você? —Camila indagou, olhando pra ele com uma expressão um pouco confusa.

—Ah, desculpa, eu nem me apresentei. Sou o Léo, amigo do Edu. Viemos o mais rápido assim que você ligou. —Léo abriu um sorriso enorme pra Camila, que sorriu de volta pra ele, parecendo um pouco tímida, enquanto eu apertava minha mão com força ao redor da alça da mala.

—Vocês dois estudam juntos? —Indagou, lançando um olhar cauteloso na minha direção, como se não soubesse o que esperar de mim.

—Ah, não, eu ainda estou no ensino médio. —Léo soltou uma risada, fazendo Camila voltar a atenção pra ele, enquanto eu respirava fundo. —E química não faz meu estilo.

—Quantos anos você tem?

—Dezessete, mas as pessoas sempre pensam que eu sou mais velho. —Léo deu de ombros, enquanto Camila assentia com a cabeça, com o sorriso sumindo dos lábios lentamente. Comprimi meus lábios, tentando decifrar se aquilo significava que ela estava decepcionada por ele não ser maior de idade.

Nós três paramos assim que saímos do prédio, dando de cara com uma senhora de pijama e touca de banho na cabeça, parecendo tão irritada que era quase possível ver a fumaça que saia da sua cabeça. Camila ergueu o queixo quando a viu, como se estivesse prestes a enfrentar o pior.

—Dona Carmen...

—Os vizinhos encheram meu telefone de ligações e mensagens, reclamando do barulho que você estava fazendo! —A velha acusou, fazendo o queixo de Camila cair, enquanto seu rosto ganhava uma coloração vermelha.

—Você tá de brincadeira com a minha cara? Eu liguei pra senhora pra falar sobre aquele maldito vizinho que estava tentando invadir meu quarto. Aliás, ele invadiu meu quarto! —Camila exclamou, enquanto a velha pressionava os lábios em negação. —E em vez de fazer alguma coisa, a senhora desligou na minha cara!

—Não paga o aluguel. Vive incomodando os vizinhos com o barulho excessivo e agora está gritando comigo? —A velha colocou as mãos na cintura, com o rosto rígido, como se estivesse prestes a ter um derrame, enquanto Camila parecia chocada demais pra dizer alguma coisa. —O que são essas coisas? Você não vai embora sem pagar o que me deve.

—Primeiro, eu não paguei o aluguel porque você concordou que eu podia pagar no final do mês. Segundo, eu sou a pessoa mais silenciosa desse maldito prédio! —Camila grunhiu, puxando o ar com força como se estivesse prestes a chorar de raiva. —E eu vou embora sim. Aquele cara me atacou. Você simplesmente cagou pra isso. A polícia não vem aqui porque já deram milhares de trotes desse lugar. Eu prefiro morar embaixo da ponte do que nesse cativeiro!

—Você não vai morar embaixo da ponte. —Afirmei, lançando um olhar tenso na direção de Camila, vendo-a parecer sem graça por eu e Léo estamos ouvindo aquilo.

—Hmm... então tá, eu vou lá no carro ver se a Érika não fugiu. —Léo acenou pra nós, desviando da velha irritada que estava no caminho dele, parecendo perceber que aquele era um bom momento para sair de fininho.

—Você não sai daqui sem pagar. —A velha cruzou os braços na frente do corpo, enquanto Camila jogava os cabelos loiros para trás e erguia o queixo, lançando um olhar debochado na direção dela.

—Ah, não? Então fica só olhando. —Camila sibilou, agarrando a mala que estava comigo e a puxando pela calçada toda rachada, que fazia a mala deslizar com dificuldade no chão. Séria cômico se a situação não estivesse tão caótica.

—Eu vou chamar a polícia! —A velha tentou segura-la, fazendo Camila explodir em uma gargalhada.

—Boa sorte, quem sabe você não tem mais sorte que eu?

—Já chega! —Exclamei, assustando as duas, que estavam prestes a continuar a discursão, que certamente não nos levaria a nada. —Camila, vai pro carro. Ficar furiosa não vai adiantar de nada.

—Mas ela...

—Camila! —Lancei a ela um olhar de alerta, vendo a expressão de indignação que surgiu no seu rosto, deixando até a ponta do seu nariz pintada de vermelho, de uma forma adorável.

—Ela não vai embora sem pagar! —A velha insistiu, mas a ignorei, tocando na cintura de Camila, sentindo-a estremecer com o contato repentino, antes de eu apontar na direção que o carro estava, tentando ignorar a própria reação do meu corpo com aquilo.

Ela foi a contragosto, ainda com a cabeça erguida, resmungando xingamentos no caminho. Não entendi a maior parte, mas ouvi o "velha maldita" ser proclamado com todas as letras, antes de eu me virar e encarar a mulher que estava atrapalhando tudo.

—Quanto? —Indaguei, vendo o sorriso amarelo que ela me lançou, antes de me ditar o valor.

Tive a sensação que ela estava dando um número mais alto do que realmente era, porque aquele lugar certamente não valia tanto assim. Mas estava tão estressado que só paguei e virei as costas, sabendo que jamais deixaria Camila entrar naquele lugar de novo.

Quando entrei no carro, Léo tinha feito o favor de colocar as coisas de Camila no porta-malas, além de se sentar no bando de trás ao lado de Érika. Minha irmã, por algum milagre, estava incrivelmente silenciosa, como se alguém tivesse colado sua boca. Léo fingia mexer no celular, enquanto Camila estava sentada no banco ao meu lado, tão encolhida que parecia pequena sentada no banco.

Liguei o carro, ignorando a sensação pesada que tomava conta do meu peito. Ninguém disse absolutamente nada, enquanto o carro parecia carregado de palavras ditas e não ditas entre eu e Camila. Quando ousei olhar na direção da, a vi encarando a cidade tomada pela noite pela janela. Mas podia ver as lágrimas que escorriam pela sua bochecha enquanto ela chorava silenciosamente.

Minhas mãos tremeram com a vontade de levar uma até ela e a confortar. Mas simplesmente apertei o volante com toda força que conseguia, tentando me concentrar no caminho até em casa. Depois nós dois poderíamos conversar. De preferência, sem Léo e Érika como plateia. E, principalmente, quando meus sentimentos não estiverem tão abalados assim.

Continua...

Todas as lembranças perdidas / Vol. 3Onde histórias criam vida. Descubra agora