Me sentei no meu lugar ao lado do meu advogado, enquanto Érika era colocada em uma cadeira afastada da mesa principal. Meu pai parecia tranquilo, como se nada que acontecesse ali fosse mudar alguma coisa pra ele. Minha mãe estava tensa, olhando para o juiz o tempo todo, como se estivesse ansiosa para ouvir a decisão dele.
—Tivemos algumas mudanças na última semana, desde a última audiência. —O juiz abaixou os olhos para os papéis na sua mesa, como se analisasse algo. —A senhora Angélica Castro, mãe da menor Érika Mendes, abriu mão da guarda em nome do filho mais velho, o senhor Eduardo Mendes.
Meu pai soltou uma risada incrédula, olhando pra minha mãe como se ela tivesse perdido completamente o juízo. Meus lábios se comprimiram quando tentei esconder o sorriso, vendo a expressão mortal que minha mãe lançou a ele.
—Antes de continuamos, eu gostaria de chamar a senhorita Érika Mendes para responder algumas perguntas. —O juiz afirmou, fazendo Érika se remexer na cadeira onde estava, provavelmente se preparando para o que precisava fazer.
Fiquei em silêncio, observando o tempo passar, enquanto a via responder as perguntas que eram feitas, sobre a relação dela com nossa mãe, com nosso pai e comigo. Érika parecia mesmo ter gravado tudo que ia dizer, porque ela nem mesmo hesitava antes de falar, com uma confiança que me deixava orgulhoso.
Meu pai balançava a cabeça negativamente e torcia para lábios em reprovação sempre que Érika achava um jeito de alfinetar o quanto ele era um péssimo pai, além de ter traído nossa mãe na nossa própria casa. O fato de o juiz não expressar qualquer emoção me deixava agoniado, porque eu gostaria de saber o que se passava na cabeça dele naquele momento.
—Com quem a senhorita gostaria de ficar?
—Com o meu irmão. Não existe outra possibilidade pra mim. Ele é a melhor pessoa pra ficar com a minha guarda. Ele já cuida de mim desde sempre. Cuidou antes da separação dos meus pais e principalmente depois que eles se separaram e começaram a brigar na justiça. —Érika afirmou, olhando na direção do juiz como se fosse um anjinho de verdade. —Meu pai não tem qualquer noção do que é cuidar de alguém. Ele sempre se preocupou muito mais com ele mesmo do que com os filhos. Minha mãe sabe que o Eduardo é a melhor escolha. Então, por favor, faça a escolha certa, senhor. Não posso e não quero ficar com outra pessoa que não seja meu irmão.
Meu pai olhou para o próprio advogado, como se questionasse alguma coisa. O juiz pediu um minuto para decidir sobre aquilo, enquanto o meu advogado me pedia para ficar calmo, porque era impossível que o juiz deixasse a guarda para meu pai.
—Obrigada. —Sussurrei para minha mãe, que sorriu de leve pra mim, como se de alguma forma estivesse orgulhosa do que eu tinha me tornado. Eles não podiam negar que eu havia ajeitado as coisas para ficar com Érika. O que eu ganhava poderia não ser bom, mas já era algo suficiente para manter eu e ela.
—Bom, antes de tomar minha decisão, gostaria de comentar sobre algo que eu recebi antes da audiência. Sr. Mendes? —Ergui a cabeça quando notei que o juiz estava falando comigo e não com meu pai. —Fomos informados que a menor já está morando com o senhor desde a separação dos seus pais. Eu poderia levar isso em consideração ao decidir algo ao seu favor, já que sua irmã está muito bem. Porém, gostaria de perguntar ao senhor o que a sua irmã, menor de idade, estava fazendo em um bar, no domingo à noite.
O sangue pareceu ser drenado para fora do meu corpo quando ele ergueu uma foto, que mostrava Érika e Léo deixando o bar no domingo à noite, provavelmente enquanto eu e Camila estávamos trancados no depósito. Dava pra ver claramente que Léo estava rindo, enquanto Érika estava com uma expressão emburrada. Não só uma foto, como cinco diferentes, que mostravam os dois passando pela porta do bar e seguindo pela calçada.
—Você mandou alguém nos seguir durante a semana. —Falei, me virando para o meu pai, vendo-o dar de ombros como se aquilo não fosse nada.
—Sr. Mendes, a questão aqui é sobre a sua responsabilidade com a sua irmã, que permitiu que estivesse em um bar, um local onde apenas maiores de idade podem entrar, com outro rapaz que não era o senhor. —O juiz chamou minha atenção, com um tom de voz reprovador.
Meu pai abriu um sorrindo, enquanto minha mãe escondia o rosto entre as mãos e negava com a cabeça. Olhei para Érika, vendo que ela estava tão chocada que nem mesmo se movia na cadeira, encarando as fotos que agora passavam de mão em mão das pessoas presentes na audiência.
—A Érika não estava sozinha. Eu estava lá com ela. Isso era antes do bar abrir. O dono de lá é meu amigo. É onde eu toco toda sexta noite com a banda que eu tenho com meus dois amigos da universidade. —Comecei a me explicar, sentindo que estava perdendo o controle da situação. Ou já tinha perdido de qualquer forma. —O nome do dono do bar é Paulo. Pode pedir para ele vir aqui prestar esclarecimentos. Mas ele me deixou usar o local antes do horário de funcionamento, pra que eu pudesse dar aulas de bateria. Foi a forma que eu achei de ganhar um dinheiro extra. A Érika estava lá comigo, porque nessa noite ei estava dando aulas. Esse rapaz com ela é o Léo, meu aluno. Ele também pode confirmar tudo que estou dizendo.
—Independe do que o senhor estava fazendo, um bar está longe de ser um ambiente para uma menor de idade. —O juiz afirmou, enquanto eu sentia minhas mãos tremerem embaixo da mesa, com meu coração martelando no meu peito. —O senhor precisa ter consciência disso, porque se não tem, então jamais saberá como cuidar de alguém menor de idade.
—Mas...
—Minha decisão está tomada. —Ele ergueu a mão para me parar, enquanto eu olhava na direção de Érika, vendo ela ficar de pé quando percebeu o que ia acontecer. —Diante de tudo que foi analisado e ouvido aqui, deixo a guarda da menor Érika Mendes ao pai, o senhor Rafael Mendes.
—Não, por favor... —Fiquei de pé, mesmo que o advogado do meu lado estivesse tentando me parar, odiando ver meu pai comemorando aquilo. —Por favor, o senhor precisa reconsiderar. Prometo que não a levo mais lá. Mas por favor...
—Minha decisão já está tomada. —O juiz afirmou, ficando de pé e se retirando dali.
Continua...
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Todas as lembranças perdidas / Vol. 3
RomanceCinco anos atrás Eduardo teve seu coração partido pela sua melhor amiga, assim que ela desapareceu e nunca mais entrou em contato, logo após ele ter se declarado pra ela. Depois disso, ele decidiu que nunca mais iria se envolver com alguém de novo...