Begin Again

Capítulo 12

Eu não tinha certeza do que se passava na minha cabeça quando bati na porta de Astória, minha cabeça está um turbilhão de emoções devido ao mês que segui lendo o diário. Ficou claro para mim que o lado deles sofreu muito mais que o nosso, as crianças em nosso lado escolheram lutar (a maioria pelo menos), eles não… Era a luta ou a tortura, não foi a toa que Astória fugiu. 

-Granger! -Ela atendeu a porta surpresa ao me ver parada, encharcada devido a chuva torrencial que caia em Londres naquele dia. - Entre, mulher, pelo sangue de Morgana, vai ficar doente.

Por fora a casa era muito simples, mas por dentro tudo gritava a aristocracia, dinheiro e poder. A mulher estava cercada de luxo e muito bom gosto, as paredes em tons de areia ornamentadas com quadros enormes de molduras caríssimas, o piso em tábua corridas e a própria Astória parada próxima a entrada da sala destoando de tudo.  Seus longos cabelos negros estavam soltos e molhados, definitivamente a peguei de surpresa com a visita, seu rosto lindo e sem as maquiagens escuras habituais e até mesmo alguns de seus piercings estavam faltando.

-Desculpe aparecer sem avisar, é que terminei de ler o diário e preciso de ajudar para processar. -Me justifiquei. 

-Imaginei. Posso te secar? Você está inundando minha casa. -Ela perguntou apontando a própria varinha em sua mão esquerda. Acenei positivamente para não fazer desfeita e poucos segundos depois já estava completamente seca. -Nesse ponto a magia faz falta não?

-Não posso negar que torna tudo mais rápido. 

-Venha, vou nos fazer um chá, gosta de hibisco? Adoro chá rosa. -A segui por um pequeno corredor que levou a uma espaçosa cozinha, grande demais para uma mulher sozinha. -É uma bela casa no meio da cidade grande né? -Astória comentou ao me ver observando tudo ao meu redor. -Com Dafne presa eu me tornei a única herdeira viável da fortuna da família.

-Dafne está presa? -Perguntei chocada. -Isso não saiu nos jornais.

-Ela assassinou o chefe do departamento de mau uso de objetos trouxas, ele era amigo pessoal do Kingsley, pode imaginar que ele fez questão de punição máxima para ela. -A informação nova me gerou desconforto supremo e uma ânsia de vômito. -Pesado, eu sei. Mas ela pegou perpétua por ter mexido com membros do ministério, Voldemort infiltrou ela lá dentro, ela causou um belo estrago, incluindo queima de arquivos importantes.

-Eu achava que ela era como você e o Malfoy. -Astória soltou uma risada irônica.

-Dafne é louca, completamente cega de ódio e preconceito, já estou com advogados para garantir que ela não tenha direito a nada da família mesmo que saia da prisão, o que ela não vai. Me recuso deixar que ela use nossa herança para financiar algo do tipo novamente. 

-Todos vocês sofreram torturas? De seus próprios genitores?

-Nossos pais chamavam de lições, antes mesmo de Voldemort retornar dos mortos. -Ela virou de costas para mim e deixou o robe que vestia cair pelas costas, permitindo que eu visse um conjunto enorme de tatuagens pretas espalhadas por sua costa. Cheguei mais perto para perceber as cicatrizes que elas cobriam, marcas grossas que deformavam sua pele claríssima. -Eu era tão nova quando isso começou que nem sequer me lembro qual foi a primeira, mas me lembro da pior. O tronco onde a cobra está enroscada, veja com mais atenção. -Ela estava se referindo a uma tatuagem na parte esquerda do seu ombro, próximo ao pescoço, uma linda cobra descansava em um galho retorcido. -Essa eu ganhei aos 10 anos quando resolvi brincar na cozinha do nosso solar, os elfos gostavam de mim e estavam me ensinando a fazer biscoitos de gengibre. Você precisa entender, Hermione, que não defendemos o que acreditávamos naquela guerra, defendemos o que nos enfiaram goela abaixo para poder sobreviver. 

Uma lágrima escapou pelo meu olho ao ver aquela mulher tão linda completamente destroçada, vítima de violência dentro do lugar que deveria ser seu lar. Uma geração inteira de sangue puro criada com base em ódio. 

-O seu noivado com o Malfoy também não foi escolha sua né?

-Oh não, eu nunca gostei do Draco romanticamente, para ser honesta nunca o quis nem como amigo, passamos a nos tolerar devido às circunstâncias para começar. -Ela vestiu novamente o robe quando a chaleira começou a apitar e nos serviu com chá e biscoitos de gengibre completamente fora de época. -Minha família além de ser do sagrado 28 também somos nobre no mundo dos trouxas, nosso antepassado foi feito lorde por Ana Boleyn. Eu era a menina dos sonhos de Narcisa Malfoy para o seu filho, Dafne era a herdeira primária da fortuna, mas a senhora Malfoy nunca confiou nela, achava minha irmã parecida demais com sua própria irmã.

-Você tem visitado ele na prisão?

-Eu o visitei no começo do ano quando transferiram ele para o nova instalação, uma semana longe de Azkaban já tinha feito muita diferença. Ele estava animado por voltar a praticar poções, sempre foi seu hobby.

-Então ele não sabe que estou com o diário dele? -Não me senti muito bem em saber que estava cometendo a pior das invasões de privacidade.

-Não, mas ele vai entender porque o fiz.

-Por que exatamente você fez isso?

-Porque eu precisava que alguém entendesse e você era a melhor pessoa do mundo para isso, Granger…

-Hermione. -Falei a interrompendo. -Pode continuar me chamando de Hermione, me sinto mais confortável.

-Olha, Hermione, eu não sei direito como estão os sentimentos do Draco no momento, não sei se ele ainda sente algo por você, tudo que eu sei é que ele não é diferente de mim e de muitos outros amigos meus, ele não merecia o tamanho da pena que pegou porque ele não fez nada por vontade própria.

-Mas ele tinha escolha, ele poderia ter fugido como você fez. -Ela bufou irritada enquanto rolava os olhos.

-Seu período de reclusão por acaso afetou sua inteligência? A marca negra funcionava como um rastreador, se ele pisasse um pé para fora do país, Voldemort mandaria seus generais até o quinto círculo do inferno atrás dele. Por que você acha que Lucius insistiu para que ele fosse marcado mesmo tão novo? Tudo era parte de um plano de contenção e servidão cega.

-Mais alguém da nossa geração foi marcado?

-Ele e Blásio Zabini foram os únicos, minha adorável irmã descobriu que eles planejavam fugir junto comigo. Eles se sacrificaram para que eu conseguisse. 

-Mas o Zabini nunca foi preso. -Eu me lembrava vagamente da lista dos presos, Blásio Zabini e sua mãe não estavam no meio.

-Não, ele foi mandado para recrutar novos comensais então nunca praticou nenhum ato que levasse a cadeia de fato. Depois que tudo desabou ele se recolheu, está vivendo recluso em uma das propriedades da família no interior da Irlanda.

Ela se levantou recolhendo nossas xícaras levitando-as para a pia, provando que não conseguiria viver como trouxa nem se tentasse, incapaz de fazer uma tarefa tão simples sem varinha.

-Vejo Blasio com frequência, às vezes consigo fazer ele me acompanhar para algum pub e até clubes noturnos. Mas no resto do tempo ele passa metido com a cara no meio de algum livro qualquer estudando para manter a sanidade, vocês nerds são estranhos. Essa obsessão por livros e tudo mais. 

Astória se provou uma pessoa bem falante diante da sua criação elitista e esnobe, conversar com ela não exigia esforço e eu apreciei as horas regada a chá temperada com biscoitos.