Begin Again

Capítulo 28

Draco caminhou pelo chão de pedra centenário da universidade, respirando fundo o ar poluído da cidade de Londres que ele não pisava há tantos anos. 

Ao seu redor grupos se reuniam em mesas dispostas no jardim estudando, casais sentavam em bancos de concreto conversando sobre a vida e alguns rebeldes chegavam atrasados usando óculos de sol em dia nublado para esconder os olhos vermelhos da farra em dia de semana. Todos eles com uma coisa em comum: não conheciam Draco Malfoy. Não se importavam com o Draco Malfoy. 

O anonimato tem sua beleza, sem dúvida alguma. Algo sobre esbarrar em alguém, pedir desculpa e seguir a vida normalmente sem quase matar a pessoa de susto quando ela percebe quem é você.

Draco se sentou no meio da sala, não querendo se aparecer se sentando na frente, mas sem a visão boa o suficiente para sentar muito no fundo. O comprometimento da sua visão e até mesmo da audição eram consequências da guerra maldita.

-Sejam bem-vindos a aula de introdução a farmacologia. 

Não foi uma aula fácil, Draco se sentiu o ser humano mais burro do universo ao ver a professora falando sobre formulações químicas e metabolismo humano, coisa que ele nunca aprendeu em Hogwarts. Não demorou para cair a ficha que, se quisesse acompanhar, teria que se dedicar trezentos por cento mais do que qualquer um naquela sala. Seu conhecimento em poções ou herbologia não ajudaria em nada.

-Vou precisar de ajuda. -Assumiu para si. -Eu gostaria de saber se tem algum reforço ou mentoria que eu possa fazer, minha escola não era boa, me sinto atrasado em relação aos demais. -Explicou para a professora um dia, quando percebeu que realmente não daria conta sozinho.

-Percebi que você não é muito participativo. Aqui temos um programa de tutoria que os alunos mais velhos fornecem para ganhar créditos extras. 

E então ele se pôs a correr atrás do prejuízo de uma educação básica defasada, fazendo aulas com todos os tutores possíveis em todos seus horários livres, estudando três vezes mais que seus colegas de sala e ainda se obrigando estudar mais ainda sempre que voltava para sua cela ou seu laboratório, estudava como os trouxas.

-Granger, você conseguiria uns livros de química e biologia do ensino médio para mim?

Ele pediu um dia que a castanha, sem convite, se sentou ao seu lado na biblioteca.

-Claro, eu tenho mais uma aula hoje, mas depois compro e te trago na segunda-feira, pode ser?

-Obrigado… Por tudo, Granger. Por se importar comigo, por cuidar de Astória. 

-Você se tornou um adulto suportável, Malfoy, uma pessoa fácil de fazer amizade.

-Tem certeza? Não fiz nenhum amigo aqui.

-Isso porque você vive com a fuça enfiada em um livro ou caderno estudando. -Hermione refletiu por meio segundo no que falou e riu alto recebendo ruídos de reprovação.

-Estou te lembrando de alguém que você conhece, Granger? -O loiro respondeu com um sorriso debochado preenchendo seu rosto.

-Alguém que eu costumava conhecer, Malfoy. Não sou mais assim, para sua informação.

-Não? O que a sabe-tudo faz da vida agora? Não me diga que anda dormindo e matando aula, vou ficar muito decepcionado.

-Eu tenho uma vida social agora, um que não gira em torno de Harry Potter. Meu mundo gira ao meu redor.

-E como está se saindo com isso? -Draco não se cansava de ouvir Hermione falar, de observar como ela mexia as mãos quando o assunto lhe empolgava, ou como ela fazia caras e bocas com os assuntos. Ela o mantinha hipnotizado. 

-Te conto com um café, que tal? É sexta-feira, você precisa relaxar um pouco. 

Ele a acompanhou de bom grado, andando ao seu lado, sentindo seu cheiro preencher suas narinas, ouvindo seu riso ricochetear em seus ouvidos e sua visão ser agraciada por aquela mulher tão bonita. Um novo tipo de paixão lhe inundava a cada segundo que ele passava ao seu lado, algo muito menos puro do que o que ele sentia quando adolescente.

Muito menos puro.

Draco queria lhe calar com um beijo só para saber como ela iria reagir, provavelmente muito mal. 

E se ele prendesse ela com seu corpo contra uma daquelas mesas enormes do jardim? Provavelmente apanharia.

Mas ele nunca quis tanto fazer um experimento em sua vida.

-Malfoy, você está me encarando. -Hermione lhe chamou a atenção.

-Desculpe, divaguei demais. -Respondeu engolindo a seco antes de passar seu pedido para a barista que aguardava com um sorriso forçado. -Aprecio sua companhia, Granger, mas não posso perder a próxima aula. Te vejo segunda?

-Até segunda.

Ele lhe deu um beijo na bochecha e saiu apressado, deixando o vento forte esvaziar sua mente.

-O noivo da sua amiga é apaixonado por você. -Sam falou assustando Hermione com sua chegada repentina. -E a noiva dele também é apaixonada por você. O que eu estou perdendo nessa história, Hermione?

-Não está perdendo nada, porque eu estou com você. 

A resposta não o convenceu, nem mesmo um pouco.