Capítulo 37

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Parte III  - O fim.

O solo terroso molhado devido a neve recém derretida pela primavera pegou Hermione e Astória de surpresa ao aparatarem em cima de uma poça enlameada. Astória soltou um xingamento alto enquanto saía por uma estrada lateral. 

A morena parou em uma casinha de uma aldeã que estava no jardim e pediu água para lavar os pés, como uma boa intrometida. A jovem mulher riu liberando uma mangueira do sistema de irrigação para as mulheres forasteiras tentarem conter o estrago.

-Muito obrigada.

Hermione agradeceu pelas duas e saiu puxando a amiga para a estrada principal de Hogsmeade para poderem pegar uma carruagem até o castelo.

Mentalmente, elas deram graças a Merlin por Minerva ter providenciado a carruagem só para elas, a estrada lamacenta não estava das melhores para seus calçados de salto não apropriados.

Hermione não pode deixar de sentir a dor de ver os testrálios que as puxavam pelo terreno irregular. Pensar que viveu a vida escolar inteira sem admirar aquelas pobres criaturas tão ignoradas.

-Você não pode vê-los.  -Hermione afirmou quando percebeu que Astória lhe encarava com estranhamento.

-Eu não conheço a morte, Herms.

-Como? Nunca?

-Esse é o normal, é assim que deveria ter sido para você também. -Astória apertou a mão da castanha lhe puxando para perto.

A restauração incansável realizada em toda propriedade do castelo de Hogwarts surtiu resultado, após uma última curva feita pela carruagem já foi possível vê-lo brilhando imponente sob o sol forte, sem rastro de qualquer tipo de magia negra.

Uma lágrima escorreu solitária pelos olhos de Hermione enquanto ela observava a silhueta da sua antiga casa, lugar que por um tempo ela acreditou que nunca mais veria.

-Senhorita Granger, senhorita Greengrass. -Minerva McGonagall chamou do alto das escadarias. 

-Diretora, obrigada por nos receber. -Hermione lhe estendeu a mão em um cumprimento, mas acabou abraçada pela senhora sorridente.

-Fico tão feliz em revê-la em condições tão mais auspiciosas. A você também, senhorita Greengrass.

As mulheres caminharam em silêncio até o escritório de McGonagal, mas nem de longe foi um silêncio constrangedor. Não. As jovens ficaram presas em seus pensamentos absorvendo cada detalhe daquele lar reconstruído, limpo de energias ruins e com magia sentida a cada passo.

-Isso está sendo intenso. -Hermione prontamente concordou com o comentário da amiga quando viraram o corredor que dava no escritório da diretora.

-Hogwarts não é um lugar com o qual você se acostuma, se não mora por aqui. -Minerva comentou enquanto destrancava sua sala.

A decoração não estava muito diferente de quando Dumbledore era diretor, Hermione sinceramente duvidava se já não era assim antes dele. Elas se sentaram à mesa principal onde vários papéis de relatórios estavam espalhados.

-Para começarmos, senhorita Granger, eu preciso que me explique o que está fazendo.

A explicação foi longa, muito longa. Hermione e Astória falaram sem serem interrompidas por quase uma hora inteira, mostrando tudo que tinham reunido. O livro de Hermione estava praticamente pronto e vinha acompanhado de um dossiê completo dos abusadores.

-Isso é muito mais do que eu estava esperando que você tivesse, confesso. -Minerva comentou em choque olhando o dossiê. -O ministério vai lhe deixar publicar isso?

-Eu não pedi autorização e pretendo publicar através de alguma editora sob  demanda para não ser obrigada a editar nada, muito menos cortar coisas fora.

-E o que precisa de mim?

-Eu preciso que me conte a versão da escola sobre alunos que foram abusados por seus pais enquanto viviam sob o teto encantado desse castelo. 

-Você quer saber se sabíamos sobre o menino Malfoy sendo tirado daqui para sessões de torturas?

-Exato, quero mais do que isso. Quero saber quem tratava de Pansy Parkinson enquanto seu pai lhe prostituía dentro dessa escola. Quero saber quem tirou os sonserinos do castelo durante a guerra. Quero saber tudo.

-Parkinson nunca se prostituiu dentro de Hogwarts, no momento que ficamos sabendo o que estava acontecendo na casa dela, Dumbledore arranjou que ela ficasse de castigo dentro do castelos por máximo de tempo possível. -Minerva explicou. -Ela só saía do castelo para as férias de verão porque não tinha outro jeito, madame Pomfrey providenciava suplementos e contraceptivos para ela.

"Naquela noite, após Snape nocautear os Carrows, Flint retirou as crianças sonserinas do castelo, você se lembra dele? Costumava ser capitão do time da sonserina. Vejo bem… Como íamos deixar elas lá para batalharem contra seus pais? Ou para se juntarem a eles?"

-Marcus Flint?

-Sim sim, bom garoto ele. Me manda cartões de natal todo ano, formou uma bela família. 

-Como ele tirou as crianças?

-Pela passagem secreta que sai na Dedos de Mel, os alunos mais velhos ajudaram os mais novos, eles levaram crianças de todas as casas por sinal.

"Eles se esconderam na casa dos gritos até o amanhecer. Quando tudo acabou, eu fui verificar eles. Acredite você ou não, Granger, ele salvou mais cinquenta crianças com ajuda de alguns sonserinos mais velhos. Nem todos eram maus ou malcriados, havia uma grande parcela de sonserinos inocentes alheios à guerra, sem pais comensais."

-Eu acredito nisso. -Hermione se defendeu se apoiando em Astória, que lhe acariava a mão sob a mesa.

-Quanto ao menino Malfoy, não podíamos fazer nada. Lucius era muito influente e poderoso, ele conseguia o que queria, sempre.

-Vocês ao menos tentaram?

-No começo tentamos, mas depois… Ele não parecia uma pessoa que valia a pena. -As jovens ficaram chocadas com o rancor na voz da velha diretora. -Ora, Granger, não se faça de hipócrita, você também pensava isso na época.

Após um silêncio constrangedor enquanto um elfo servia chá para as mulheres, Hermione observou a sala focando em um enorme quadro de Severo Snape que estava presente escutando toda a conversa atentamente.

-O que você acha de tudo isso? -Hermione perguntou ao homem.

-Eu acho que você finalmente está descobrindo que o mundo é uma infinita escala de cinza, Granger. 10 pontos para a grifinória. -E foi apenas isso que ele se dignou a dizer.

Minerva contou a elas tudo o que o corpo docente de Hogwarts fazia durante a guerra para proteger os alunos de todas as origens, em sua vez de falar sem ser interrompida ela gastou mais de uma hora com detalhes de segurança, planos e esforços que foram, em sua maioria, em vão. A guerra não podia ser evitada e nem todas as crianças queriam ser protegidas, algumas tinham pensamentos separatistas e supremacistas muito intrincados em seus corpos, era o caso de Daphne Greengrass, Theodore Nott e até mesmo de alguns corvinos mais velhos.

-Granger… Hermione. O que você pretende fazer, de verdade, com o lançamento desse livro? -Minerva perguntou para encerrar o assunto.

-Permitir que o mundo se reconstrua sem falso moralismo e preconceito. As pessoas vêem eu, Harry e Ron como heróis, puros e sem defeitos enquanto vêem Draco, Astória e até mesmo Marcus Flint com rancor e cheios de preconceitos como se eles também não fossem crianças na época.

-É uma ideia nobre, mas extremamente arriscada, você sabe? -Hermione respondeu com um aceno determinado. -Eu me orgulho muito de você, Hermione, você nasceu para grandes coisas, eu espero estar aqui para ver o dia que você assumir como Ministra da Magia. 

Hermione agradeceu por educação sabendo que esse dia jamais chegaria.

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