Capítulo 17

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-Pelo santo nome de Morgana!!

Acordei assustada com o grito de Astória, analisei a situação em que me encontrava. Nua, abraçada ao tronco de Samuel que também despertou incomodado, procurei pela minha amiga e a encontrei se vestindo com pressa.

-Ast… -Chamei sem saber o que falar.

-O Draco nunca vai me perdoar, eu estraguei tudo… -Ela fechou o vestido e saiu correndo descalça.

-Quem é Draco? -Sam perguntou confuso enquanto vestia sua cueca.

-O noivo dela. -Mil e um filme se passou na minha cabeça ao dar a resposta porque ela surtou não foi pela traição do noivado e sim por ter dormido com a mulher que o noivo supostamente é apaixonado. Astória não conseguiria esconder isso dele e se ele não perdoar vai ficar transtornada.

-Eu sinto muito, não sabia que ela tinha noivo, se soubesse não teria provocado… Ainda mais porque eu só queria você, ela entrou de tabela na história.

-Bebemos demais, ele vai entender, ele vai ter que perdoar. -Falei mais para me convencer do que para convencer a ele.

-Por que ela esconde o noivado? Ela nem sequer usa aliança.

-Ele está preso, previsão para sair somente em 2016.

Com o choque da informação paramos de falar sobre o assunto, me levantei e vesti um pijama qualquer antes de ir para a cozinha fazer algo para o café. Como nos distraímos da tarefa de limpeza, a casa parecia virada de cabeça para baixo com copos espalhados por todos lugares, bolo no chão e pia lotada. 

Nos servi com torradas francesas e uma dose tripla de café forte para espantar o incômodo da ressaca. Tequila nunca mais.

-Herms, eu estava falando sério sobre o que disse lá no quarto, você sabe disso né? -Sam me perguntou enquanto se levantava para colocar suas louças na pia.

-Sobre o que?

-Meu tesão ontem a noite não era por Astória, era por você, era sua tatuagem que eu queria tocar e beijar. Minha fantasia envolvia apenas você, eu só não tinha esperança de que conseguiria ficar com você.

-Por que eu não iria querer ficar com você?

-Porque eu já te vi rejeitando mais caras do que posso contar, porque eu não quero apenas um caso com você, porque não é sobre te levar pra cama, apesar disso ter sido incrível. Eu gosto de você, Hermione. -Ele mexeu no cabelo e escondeu o rosto com as mãos tentando disfarçar a vergonha da declaração. -Eu gosto pra caralho de você. 

-Sam, hoje não é um bom dia para conversarmos sobre isso. -Pude ver seu semblante se fechando e seus olhos assumirem mágoa. -Isso não é um fora, eu adoro sua companhia, jamais vou te rejeitar ser tentar, mas hoje… Eu preciso ir atrás da minha amiga, preciso saber se vamos ficar bem.

-Eu entendo. Passo te pagar aqui sábado 20h, pode ser?

-Isso seria ótimo. -Lhe dirigi um sorriso enquanto ele me puxou para um abraço. 

-Preciso ir, tenho muitos trabalhos para fazer. Te vejo sábado.

Ignorando todas as responsabilidades com minha própria casa, dei as costas para a bagunça e fui tomar um longo banho para tirar qualquer resquício de álcool e sexo da minha pele.

Encarei no espelho os diversos roxos que tinha espalhado pelo meu corpo, presentes de Astória que fez bastante uso dos dentes. Me cobri com roupas elegantes que deixavam claro a influência que ela tinha em minha vida atual, eu parecia uma nova Hermione, uma Hermione bonita e que aprendi admirar muito. 

Peguei um táxi para chegar mais rápido, ainda assim o caminho conseguiu estar bem congestionado me fazendo questionar se tinha sido uma boa escolha. Para ser honesta comigo mesmo a dor de cabeça por conta da ressaca me deixou desmotivada a pegar metrô lotado. Para entrar na casa usei uma chave reserva que ela me deu a poucos dias. 

-Ast, está em casa? -Chamei da sala apurando meus ouvidos.

-A senhora está em seu quarto. -Tomei um susto com a aparição repentina da Link, a elfa doméstica muito bem remunerada e bem tratada por Astória.

-Obrigada, Link. Deixa eu aproveitar para te perguntar, aceita dinheiro trouxa? Tô precisando de alguém para dar um jeito em casa hoje. -Magia tinha suas vantagens e me pouparia de muito trabalho. 

-A senhora já tinha pedido isso para Link, farei isso após o almoço.

Agradeci a elfa, mas rolei os olhos para a atitude de Ast de querer basicamente me bancar como se dinheiro nascesse em árvore. Subi a escada ornamentada que levava exclusivamente ao quarto principal da casa, que basicamente tinha o tamanho do meu pequeno apartamento, encontrei a morena deitada na grande banheira de pedra que ficava num canto próximo a janela, com o seu olhar distante ela não parecia ter me notado.

-Vim ver se você está mais calma. -Falei me aproximando, ela deu um pequeno pulo em seu lugar devido ao susto. Encarar seus olhos não foi tão fácil como pensei que seria, o azul gelado parecia queimar minha pele. Temi pela nossa amizade, ao mesmos tempo em que não conseguia tirar os olhos dela.

-Eu não tenho certeza, tudo está passando pela minha cabeça em um looping eterno. -Cortando nossa conexão por olhares ela reencostou a cabeça na borda da banheira e encarou o teto.

Tirei minha roupa ficando somente de lingerie e entrei na banheira me sentando ao seu lado encarando o teto também. 

-Draco não tem o porquê ficar bravo com você, Ast, o noivado de vocês está longe de ser verdadeiro e mesmo que ele ainda goste de mim eu não pertenço a ele. -Segurei a mão dela tentando transmitir alguma força que fosse.

-Não é somente ele ficar bravo, Herms… Meu noivado com Draco é mais do que qualquer um normal, nós temos um pacto sanguíneo e eu violei esse pacto ontem, isso pode nos machucar, ele pode estar ferido ou eu posso adoecer.

A encarei inconformada com a nova informação, pacto sanguíneo são proibidos pelo ministério e não à toa, são bárbaros e ultrapassados. 

-O que dizia nesse pacto, Astória? Por Deus não me diga que isso pode te matar. -Ela soltou uma risada debochada.

-Me matar… Meus pais não planejaram algo tão bondoso. Eu tinha apenas 13 anos, não lembro direito, mas envolvia a fidelidade compulsória para evitar bastardos, se um de nós quebrar o pacto ele tem direito a amaldiçoar nosso sangue. Eu estou tão lascada. 

-Astória, isso é cruel… Se eu soubesse teria tentado impedir o que aconteceu. -A puxei para um abraço lateral repousando sua cabeça em mim. -Vou pesquisar para ver se acho alguma brecha em um pacto, vou pedir ao Harry, ao próprio ministro da magia se necessário, vai ficar tudo bem.

-Eu estava me sentindo tão bem ontem, tão adaptada ao seu mundo, aos seus amigos trouxas, que me esqueci de quem eu sou: uma maldita bruxa. Seria tão mais fácil se fosse como eles… -Limpei uma lágrima que escorria pelo seu rosto. -Se vale de alguma coisa, eu não me arrependo do que fizemos.

-Nem eu e aposto que nem o Sam, aliás ele se declarou para mim hoje de manhã e me chamou para sair.

-Finalmente, Merlin. Se vou morrer que seja para pelo menos fazer vocês dois acordarem para todo tesão reprimido que têm. -Lhe dei um tapa leve de repreensão. -Ok, eu não quero morrer, mas você precisa saber que eu vou ser punida, Herms, de algum jeito a magia vai me punir.

-Não precisa ser com a morte.

-Eu espero que não seja. -Ela se afasta do meu abraço e se levanta exibindo o corpo nu escultural que possui. -Vou precisar sair, vou na prisão falar com Draco.

-Quer que eu vá junto? -Me ofereço sem qualquer convicção.

-Você não quer ir junto… E também não pode, somente eu estou autorizada a visitá-lo, além do mais você não tem varinha para esse tipo de coisa. 

Dei de ombros resignada e também me levantei, ela usou a varinha para me secar e cada vez mais eu sentia falta das comodidades bruxas. 

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