Begin Again

Capítulo 4

"Hermione Granger teria vivido suposto romance com o comensal da morte Draco Malfoy durante a guerra, detalhes na página 6".

Essa manchete não fez com o que o meu dia começasse bem, muito pelo contrário, a irritação foi tamanha que o sentimento de raiva conseguiu escapar por minha barreira mental fazendo com que algumas janelas de casa estourassem devido a uma magia acidental. 

-Maldito jornal de merda. -Arremessei o amontoado de papel chamuscado que sobrou para um canto qualquer da casa. 

Eu precisava de um novo rumo para minha vida e ele não poderia de jeito nenhum incluir um escândalo amoroso. Decidida peguei minha varinha e entrei em minha lareira chamando a casa de Harry. A mansão que um dia pertenceu a família Black continuou tão ruim quanto um foi, como quando passamos por lá durante a guerra, não sei bem como Harry conseguia viver nesse estado.

-Deduzo que você já leu o jornal? -Harry perguntou assim que pisei para fora da lareira. Ele estava sentado no sofá com uma cópia em suas mãos.

-Eu preciso ir embora, Harry…

-Como assim? -Ele corrigiu a postura para tratar do assunto mais sério que eu trouxe à tona. 

-Harry… Eu estou quebrando por dentro e não acho que é uma coisa boa tentar me curar em meio a tudo isso. Essa coisa de tentar se recuperar da guerra está me matando mais do que a guerra em si, não tem mais a adrenalina para me manter viva, eu tô um nada. 

-Hermione, o que você realmente precisa é voltar a sentir. -Ele falou em meio a um suspiro pesado. -Você precisa de reabilitação.

-Reabilitação de que? Um centro de veteranos de guerra? -Questionei confusa com o assunto.

-Não, uma reabilitação para viciados em poções antidepressivas e do sono.

-Eu não estou viciada… Posso parar, só não quero sentir tudo isso. -Respondi ofendida. 

-Hermione, você toma quatro doses ao dia, está pelo menos 10 kg mais magra e até agora ainda não decidiu o que fazer da sua vida.

-Quem você pensa que é pra jogar isso na minha cara? Não estou vendo você fazer alguma coisa, continua morando nessa mansão mal assombrada, saindo na primeira página do jornal, sem perceber que estamos nas mãos das mesmas pessoas.

-Eu vou me casar, Hermione, eu estou tentando seguir minha vida, eu vou começar a trabalhar como auror assim que virar o ano, eu estou tentando… Você desistiu.

-Eu sou órfã de pai vivos, estou saindo nos jornais como amante de um comensal da morte que tornou minha infância um inferno na terra, eu não sou obrigada a aguentar isso.

-É obrigada sim, se não hoje, no futuro. Não importa o quanto fuja, Herms, o rastro de destruição sempre estará dentro de você, isso que significa sobreviver a uma guerra. Não adianta mentir na terapia. Sabe o que você deveria fazer?

-Me esclareça já que estou tão cega.

-Você deveria se afastar das poções… Na verdade deveria se afastar da magia, ela está te consumindo. Os bruxos adultos não deveriam sofrer com magia acidental.

-Eu não posso desistir, Harry, eu não posso deixar de tentar, eu não vou conseguir trazer eles de volta se tiver inundada de tristeza e dor, eu preciso me concentrar.

-Hermione, olha para mim. -Levantei meus olhos para encarar aquela imensidão verde que me condenava. -Me deixe te ajudar, você é minha melhor amiga, minha irmã, você é a única família que me sobrou. Eu não posso perder você para essas… para essas drogas. Você entende isso? Você entende que essas poções que usa não são nada além do que as drogas dos trouxas? Você está praticamente viciada em heroína. Escuta: eu prometo que vou mover esse mundo inteiro como auror para descobrir um contra feitiço, eu prometo, mas você tem que parar com isso. 

-Eu não sei como… -Fechei meu olhos com força e senti ele me abraçando apertado. 

-Eu amo você, Hermione Granger, eu estarei com você para sempre. Vou cuidar de você, eu, o Ron, a Gina, nós vamos dar um jeito… Não podemos perder mais ninguém. 

-O que eu faço? Não sei o que fazer.

-Primeiramente vamos tomar um chá, tenho certeza que o leite já ferveu. -Ele me puxou pela mão até a cozinha. -Olha, Herms, eu realmente sinto muito pela forma como disse tudo, mas preciso que você saiba que eu precisava ter dito. Eu entendo que nossa vida é mágica e é muito difícil nos imaginar sem varinhas e tudo mais, só que eu e você sabemos como viver do modo trouxa, já vivemos uma vez e eu realmente acho que você deveria voltar. -Ele me serviu de uma xícara de cha e colocou um pacotinho de biscoitos a minha frente. -O senhor Weasley me deu o cartão de uma psicoterapeuta que teoricamente é trouxa, na verdade ela nasceu como um aborto e sofreu muito na adolescencia quando viu que não teria magia e seria excluida da família. Ela fez faculdade de psicologia e presta serviço ao Ministério da Magia como terapeuta para abortos, deveria conversar com ela e buscar essa transição. 

-Mas eu teria que ir embora para sempre, Harry. Não tem como transitar entre os dois mundos.

-Não precisa ser para sempre, somente até você se curar. -Ele apertou minha mão sobre a mesa. -Vamos estar aqui de braços abertos para você quando isso acontecer.

-Então todos estão falando de mim pelas costas? -Toquei na parte que mais me incomodou nessa conversa toda.

-Não é por mal, Hermione. Estamos preocupados com você, eu sou o único com quem você manteve contato e isso é porque eu forço isso, não te deixo me excluir.

-Eu amo os Weasleys, juro para você que amo, mas não consigo consolar mais ninguém.

Eu não me quebrei por dentro do nada, após os funerais e homenagens eu ainda era a mesma de sempre, uma versão triste mas ainda assim. Fui em cada almoço de domingo na’Toca, jantei com Gina para tentar animá-la e comemorei quando ela foi chamada para jogar no time das Harpias, mas então comecei a pesquisar como reverter o feitiço que lancei sobre meus pais e um consultor do ministério me falou que era impossível reverter porque eu não tinha construído uma âncora dentro da mente deles, esse foi o começo do meu fim.

No fundo eu invejava meus amigos porque eles ainda tinham uma família para ajudá-los a se reerguer enquanto eu fiquei sozinha, como uma lua orbitando em volta de suas vidas. Reconheço o egoísmo em meus pensamentos e somente isso me faz ver sentido na intervenção de Harry, eu não encontraria a cura ali por conta do meu próprio veneno.