CRAWLING - Veronita

Seis.

O dia se arrastou até que Verô finalmente voltasse pra casa, cansada, estressada e frustrada. Passou o dia evitando que sua mente viajasse para lugares perigosos, para aonde não tinha controle, para Anita. E é claro, foi uma guerra, afinal estava ao lado da delegada, cada dia passando mais e mais tempo com ela. No dia anterior e no atual, no seguinte ela já sabia o que a esperava. Torcia para pelo menos ter uma noite de sono decente, sem que recebesse visitas em seus sonhos.

A escrivã tirou a roupa, entrando de baixo do chuveiro, desejando que a água levasse tudo embora. Anita, os casos em que estava trabalhando, seus conflitos e seus medos. Encarou a parede do banheiro, pensando em Paulo pela primeira vez naquele dia. Verô então se deu conta, pela primeira vez desde a separação, manteve sua órbita em outra coisa. Pela primeira vez em meses, Paulo não era o protagonista de sua mente. Pela primeira vez em meses, sentiu sua vida novamente, mesmo que em uma dosa pequena e amarga. Ela pode sentir de forma sutil, sua vida estava seguindo, Verônica estava deixando ela seguir, se focando em seu trabalho novamente, perdendo a cabeça com Anita.

Verônica deixou a água quente do chuveiro acalmar seus músculos tensos, permitindo-se relaxar pela primeira vez naquele dia agitado. Enquanto as gotas d'água caíam sobre sua pele, concentrando-se apenas nas sensações reconfortantes do banho.

Ao sair do chuveiro e se envolver em uma toalha macia, Verônica se sentiu inundada por uma estranheza. A ausência de Paulo em seus pensamentos trouxe consigo uma sensação de estranheza. Havia um vazio, uma lacuna onde antes residia a presença constante de seu ex-marido.

Enquanto vestia roupas confortáveis, Verônica encarava essa nova realidade com um sentimento dúbio. Não queria esquecer os anos de casamento, os momentos compartilhados, as memórias que haviam moldado sua vida. Eram tantos planos, tanto futuro. Havia uma parte dela que ainda amava Paulo, que se recusava a deixar tudo isso para trás. Mas Verônica sabia que precisava seguir em frente, que não podia continuar vivendo no passado. Sabia também que o homem havia feito uma escolha, e essa escolha não era ela. Verô se permitiu chorar silenciosamente antes de dormir, deitada em sua cama, fitando o espaço vazio ao seu lado. Lagrimas molhavam seu rosto e o seu travesseiro, enquanto o vazio a engolia sem piedade alguma. Era uma despedida dolorosa, era abrir mão de uma vida, mesmo que no fundo ela soubesse que era abrir mão de uma vida que Verônica nunca desejou pra si.

Era uma luta interna entre o desejo de seguir em frente e a dor da perda, entre a esperança de um novo começo e a saudade do que um dia foi. A cada respiração, ela tentava encontrar um pouco de paz, um refúgio temporário para que sua mente exausta tivesse um pouco de calma.

Finalmente, Verônica se deixou levar pelo cansaço, permitindo que o sono a envolvesse. Seu corpo relaxou gradualmente, as tensões do dia foram se dissipando, sua mente nublada finalmente se calou. Então, sem perceber, Verônica mergulhou em uma realidade paralela, onde as fronteiras entre realidade e imaginação se desfaziam. No escuro confortável de seus lençóis, ela se viu em um cenário que parecia familiar e estranho ao mesmo tempo.
Anita estava lá, em pé diante dela, emanando confiança e sedução. Seus olhos encontraram os de Verônica, faiscando com uma intensidade que fez seu coração disparar. Não havia palavras entre elas, apenas uma comunicação silenciosa carregada de desejo.

Verônica sentia-se atraída em direção à delegada, como se uma força invisível a estivesse atraindo, como se seu corpo respondesse a um comando instintivo. A proximidade entre elas era carregada de tensão e expectativa, enquanto o ambiente ao redor parecia pulsar com a eletricidade, anunciando a possibilidade de algo além.

Quando finalmente estavam próximas o suficiente para sentir o calor uma da outra, Verônica encarou os lábios de Anita, curvados em um sorriso provocador. Um sorriso que dizia mais do que qualquer palavra, um convite para explorar territórios desconhecidos.