Vinte e seis.

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- Não, Anita, você não pode estar falando sério! - Verônica estava claramente irritada.

Anita, encontrada em sua mesa, sorriu sem humor.

- Esperava o que, escrivã? Flores e um cartão? - Anita disse desdenhosa. - Tá suspensa, duas semanas.

- No meio de um caso desse tamanho?

- Verônica... - Anita se aproximou. - Agradeça por eu não te arrancar desse caso, que é o que eu deveria fazer. - A loira disse olhando nos olhos escuros e revoltos de Verô. - Eu deveria te sentar naquela cadeira e de deixar responsável por toda a papelada desse lugar, só pra ter certeza que você não vai sair por aí metendo o seu nariz aonde não deve, pra me assegurar que você não vai estar socada em algum lugar tentando se explodir.
Verônica revirou os olhos.

- Eu ainda estou sendo muito boazinha escrivã, a sua irresponsabilidade podia ter fodido o caso. - Anita disse o óbvio, espetando algum compreensão. - Você podia estar morta! - Dessa vez sua voz saiu mais baixo, enquanto o medo passeou pelo seu corpo. - Aceita o que eu tô te dando e vai pra casa. - Os olhos verdes suavizaram.

- Sim senhora, doutora! - Verônica disse deixando claro que estava totalmente insatisfeita, mas se dando por vencida.

Verônica deixou a sala de Anita com passos pesados, sua expressão refletindo uma mistura de raiva e resignação. Não era idiota, sabia que tinha ferrado tudo, sabia que estava errada, mas a ideia de estar afastada do caso a deixava perturbada.

Anita suspirou. Desde quando achava difícil se impor? Desde quando sentia-se desconfortável ao agir daquela forma? Não conseguia afastar de si a sensação de culpa por ter que punir Verônica.

Enquanto Verônica se afastava, Anita recostou-se em sua cadeira, se deixando mergulhar em seus pensamentos.

Aquela conversa havia mexido com ela mais do que seria capaz de admitir. A lembrança do medo que sentiu ao imaginar Verônica em perigo ainda ecoava em sua mente, deixando-a inquieta.

A delegada nunca havia se permitido ficar tão próxima de alguém como estava ficando de Verônica. Sentia algo novo, nada familiar, mas ao mesmo tempo tão cativante.

Sacudindo a cabeça, a delegada voltou sua atenção ao trabalho. Verônica parecia se infiltrar em seus pensamentos cada vez mais, tirando o foco do que Anita realmente era, alguém profissional, focada no que fazia. Não podia se dar ao luxo de se distrair com questões pessoais.

Diante dos relatórios e evidências resgatadas daquela casa, a loira mergulhou no trabalho, deixando Verônica temporariamente de lado.

Anita analisou os relatórios meticulosamente, estudando cada detalhe das evidências coletadas na casa após a explosão. Os investigadores haviam feito um trabalho minucioso, mas as pistas eram escassas. Os computadores, alvos da explosão, estavam em pedaços, tornando impossível a recuperação de dados significativos. No entanto, alguns HD's foram salvos em meio aos destroços, fornecendo algumas pistas importantes.

Durante a inspeção do imóvel, descobriu-se que o mesmo tinha um proprietário, porém, este era apenas um nome fantasma. Não havia registros legais ou informações concretas sobre a pessoa por trás da propriedade.

Anita fez anotações cuidadosas, conectando os pontos entre as evidências encontradas. Era como montar um quebra-cabeça complexo, onde cada peça revelava um pouco mais sobre o quadro geral.

Horas se passaram em um borrão de atividade frenética. Anita estava imersa em relatórios, análises e arquivos, mal percebendo o tempo passar. Era uma sensação familiar, uma zona de conforto na qual ela se refugiava quando o mundo exterior se tornava caótico demais.

CRAWLING - VeronitaOnde histórias criam vida. Descubra agora