CRAWLING - Veronita

Trinta e quatro.

O estacionamento estava quieto, vazio, as luzes amareladas dos postes traziam uma iluminação fraca, e alguns carros que ainda permaneciam ali estavam distantes daquele ponto. O ar da noite era frio e cortante, fazendo Verônica estremecer e se encolher dentro de sua jaqueta de couro enquanto caminhava até sua vaga. Ela sentia o concreto sob seus pés, os passos ecoando na vastidão do estacionamento deserto. Sua mente estava cheia, o coração apertado pelos últimos acontecimentos e seu corpo parecia envolto numa sensação estranha, quase como se pudesse sentir uma presença atrás de si, um par de olhos atentos em seus movimentos.

Com desconfiança, Verônica se virou rápido, esperando desvendar aquela sensação. O ar gélido batia em seu rosto, os olhos atentos tentando perfurar a escuridão mais distante. O silêncio era quase ensurdecedor, quebrado apenas pelo som distante de uma sirene e pelo farfalhar das folhas secas ao vento. Ela segurou a respiração por um instante, os ouvidos aguçados para qualquer ruído fora do comum, mas não, não havia nada ali. Ninguém estava atrás dela!

Ela soltou um suspiro, tentando acalmar a mente.

- É só o que tá faltando mesmo, eu enlouquecer de vez. - Murmurou para si mesma, a voz saindo em um sussurro quase inaudível.

Verônica acelerou os passos, o som dos tênis ecoando mais alto no concreto. Ela podia sentir a rigidez em seus ombros, o peso das tensões do dia se acumulando. Ao se aproximar da moto, o cheiro de gasolina e óleo invadiu suas narinas, trazendo uma sensação familiar de segurança. Ela passou a mão pelo guidão frio, a textura metálica e fria sob seus dedos, e montou na moto, o couro do banco rangendo sob seu peso.

Enquanto colocava o capacete, o mundo exterior parecia se fechar ao seu redor, os sons abafados pela viseira. Ela girou a chave na ignição, sentindo a vibração do motor percorrer seu corpo, a pulsação rítmica da máquina trazendo uma estranha sensação de conforto. O farol acendeu, cortando a escuridão à sua frente, enquanto ela se preparava para partir.

Estava indo pra casa!

Ao acelerar, sentiu o vento frio contra seu corpo, o rugido do motor preenchendo seus ouvidos. A estrada se estendia à sua frente, iluminada pelos postes da cidade que seguia movimentada como sempre. Cada quilômetro percorrido afastava um pouco mais a tensão do dia, a paisagem noturna passando como um borrão ao seu redor.

Verônica sabia que aquela paz temporária era apenas uma fuga momentânea. A sensação de estar sendo observada ainda pairava em sua mente, uma sombra persistente que se recusava a desaparecer. Ela precisava manter-se alerta, precisava estar preparada para o que viesse a seguir. Seus instintos policiais pareciam alarmados, aquela sensação não cessava e o incomodo dentro de si só crescia.

Mas ela estava indo pra casa!

Entrou no estacionamento de seu prédio após ser liberada pela portaria, descendo da moto com uma sensação de alívio misturada com a persistente inquietação. O ar ali era um pouco mais quente, mas ainda carregava o frescor da noite.

Verônica retirou o capacete, sentindo o cabelo se soltar ao redor de seu rosto. Fechou os olhos por um momento, respirando fundo, tentando deixar o cansaço do dia escorrer por seus ombros. Abriu os olhos e caminhou até o elevador, o eco de seus passos na garagem coberta era abafado, criando uma trilha sonora quase reconfortante em meio ao silêncio, sentindo a frieza do piso de concreto através das solas de seus tênis.

No elevador, o espelho refletia seu semblante exausto, os olhos marcados pela preocupação e falta de sono. Verônica apertou o botão do seu andar, sentindo a leve vibração enquanto subia. As luzes fluorescentes zumbiam levemente, amplificando o silêncio ao seu redor.

Quando as portas se abriram, ela saiu no corredor, iluminado por luzes suaves que lançavam sombras longas nas paredes.

Caminhou poucos passos até estar de frente para a porta de seu apartamento. Com um movimento automático, retirou as chaves do bolso e destrancou a porta.