Trinta.

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- Bom dia, doutora! - Moraes comprimentou Anita ao vê-la

Com um aceno de cabeça discreto e quase nenhum entusiasmo, a loira seguiu para sua sala, notado o departamento praticamente vazio.

A noite anterior havia sido um pesadelo para a delegada, que jogou sua bolsa em sua mesa, se sentando em seu lugar, sentindo sua cabeça latejar.

Anita respirou fundo, fitando a pilha de relatórios em sua frente. Aquele era um favor que havia pedido a Lima, todos os relatórios sobre o caso nas últimas duas semanas, tudo o que havia surgido de novo, tudo o que Verônica precisaria para voltar ao trabalho.

Com a ajuda de um post-it e uma caneta, Anita escreveu o nome da escrivã em um caligrafia perfeita e firme, colando o pequeno papel em cima daquilo tudo.

Anita deixou tudo sob a mesa de Verô, com som dos próprios saltos martelando em sua cabeça no caminho de ida e volta até a mesa da escrivã.

Não trabalharia aquele dia se tivesse escolha. O peso em seus ombros era muito mais pesado que ultimamente, sua dor de cabeça muito mais forte que o habitual e as lembranças da noite passada a perturbavam sem pausa.

Buscou em seu computador algo que pudesse mudar o foco de seus pensamentos. Se afundaria em trabalho, como sempre!

Quando o som oco de três batidas na porta cortaram o silêncio, Anita foi arrancada de seus pensamentos, percebendo sua estratégia falhar, parecia impossível se concentrar em qualquer coisa que não fosse sua própria agonia.

Ergueu os olhos, notando Nelson.

- Entra!

- Bom dia doutora! - Nelson a comprimentou, recebendo um aceno de cabeça. - Já estou puxando todo o histórico da empresa do cartão, mas acho que isso aqui já é bem interessante. - Nelson entregou uma pasta para Anita.

Passando os olhos pelas folhas, Anita notou a conexão entre a empresa e os condomínios em que as vítimas moravam. A empresa prestava serviço para os três locais.

- Ótimo! - Sua voz saiu dura. - Qualquer novidade, me avisa! Investiga tudo, até os mínimos detalhes, não quero nenhuma brecha.

Nelson concordou, deixando a sala em seguida.

Anita fechou os olhos rapidamente, massageando as têmporas.

"Por favor, mãe!" Sua própria voz ecoou em sua mente, trazendo o mesmo sentimento de sempre a tona, medo.

Havia sido apenas um sonho, aquilo não deveria afetar Anita, mas não era apenas um sonho, era o passado voltando para assombrar a delegada. Passado esse que Anita lutava constantemente para enterrar, mas sempre falhava.

Vez ou outra acordava desesperada, suada e perdida, após reviver o dia em que sua vida mudou, o dia em que sua vida foi entregue e o seu pesadelo começou.

Abriu os olhos devagar, sentindo a claridade da sala a incomodar, tentando mais uma vez se desprender daquelas lembranças.

- Bom dia, delegada! - A voz de Verônica surgiu logo após uma rápida batida na porta.

Verônica... Anita ergueu os olhos, notando a presença da escrivã.

A morena estava bonita naquele dia, com os cabelos selvagens e as roupas escuras. Um sorrisinho gentil brincava em seus lábios e Anita não pode ignorar a sensação confortável que sentiu ao olhar para ela. Por alguns segundos, Verônica conseguiu calar a mente de Anita.

- Bom dia, escrivã! - Anita soou fria ao responder Verônica, tentando disfarçar o turbilhão de emoções que a presença da escrivã sempre causava nela. Era difícil ignorar a conexão inexplicável que parecia existir entre elas, mais difícil ainda era esconder seus próprios demônios dos olhos atentos da escrivã, que parecia ser capaz de ler sua mente sem muitos esforços.

CRAWLING - VeronitaOnde histórias criam vida. Descubra agora