Trinta e três.

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Ricardo estava sentado de forma prepotente, parecia familiarizado com a situação, quase que confortável. Era um homem de aparência comum, na casa dos trinta, com um olhar tão oco que gerava um certo desconforto no local. Cabelos escuros penteados para trás, roupas simples, nada marcante, nada digno de atenção. Era apenas mais um homem, desses que esbarramos algumas vezes, mas sequer lembramos algum tempo depois.

Verônica o encarava com repulsa, sentido seu estômago revirar ao imaginar aquelas mãos em sua frente matando mulheres inocentes, cometendo crimes tão hediondos, tão bárbaros.

Ricardo por sua vez parecia completamente à vontade, como se estivesse em seu território, como se mais um dia normal de sua vida caminhasse tranquilamente.

Verônica respirou fundo, tentando manter a calma e a compostura. Anita estava ao seu lado, o semblante fechado em uma máscara de dureza, fria como uma pedra, parecia tão oca quanto o homem ali presente. A delegada deu um passo à frente, cruzando os braços enquanto observava Ricardo.

- Ricardo, vamos economizar meu tempo e ir direto ao ponto. - Anita começou, a voz firme e ríspida. - Sabemos que você esteve na cena do crime. Temos testemunhas oculares e sabemos, você estava nas proximidades. Por que não nos conta o que estava fazendo por lá?

Ricardo sorriu, um sorriso que não alcançou seus olhos.

- Delegada... - disse ele, em um tom que beirava a condescendência. - Eu não sei do que você está falando. Estava apenas passando por ali, não sabia que era proibido andar pela cidade.

Verônica sentiu a raiva borbulhar dentro de si, precisando conter a si mesma. Sabia que não podia deixar suas emoções transparecerem, não naquele momento, na frente de Ricardo.

Com a nova vítima, a pista que Nelson havia encontrado e a identificação de Ricardo como suspeito, as coincidências estranhas começaram a se alinhar de maneira perturbadora. Cada detalhe parecia se encaixar, tecendo uma rede de evidências que apontavam diretamente para o homem que ali estava.

Nelson foi quem identificou um padrão interessante: Ricardo estava frequentemente nas proximidades dos locais dos crimes, algo que não poderia ser simplesmente acaso.

Verônica, ainda se controlando para não deixar transparecer sua indignação, observava atentamente cada gesto de Ricardo, tentando captar qualquer sinal de nervosismo ou culpabilidade em suas feições enquanto transcevia o depoimento do homem.

Anita permanecia assustadoramente imperturbável, seu olhar fixo no suspeito como se estivesse tentando ler sua alma. Ela sabia que precisava ser paciente, deixar que Ricardo se enrolasse em suas próprias mentiras até que finalmente tropeçasse na verdade. Estava fazendo o que sabia fazer de melhor e não teria pressa.

- Ricardo, não estamos aqui para brincadeiras. - insistiu Anita, sua voz mantendo a seriedade cortante. - Sabemos que há muito mais do que você está nos dizendo. Não vamos sair daqui até que nos conte toda a verdade.

Ricardo suspirou, um suspiro de irritação mal disfarçada.

- Vocês não têm provas contra mim. São apenas suposições baseadas em coincidências - retrucou ele, com um sorriso cínico nos lábios.

Verônica sentiu a tensão no ar aumentar. Ela sabia que precisavam de mais do que simples coincidências para incriminar Ricardo, mas algo dentro dela dizia que estavam no caminho certo. O jeito como ele se comportava, sua falta de reação genuína diante das acusações, tudo isso alimentava a suspeita da escrivã, que prenderia o homem ali mesmo se pudesse.

Anita não se deixou abalar pelo jogo de Ricardo. Ela pegou uma fotografia do local onde a explosão ocorreu, impedindo sua mente de deixar o modo profissional, enquanto a imagem de Verônica desacordada no chão piscava em sua mente.

CRAWLING - VeronitaOnde histórias criam vida. Descubra agora