Dezesseis.

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Era quase fim de expediente quando Verô chegou a delegacia. A escrivã havia passado o dia todo fora, para lá e para cá, atrás de pistas e informações quentes. Seu corpo estava cansado, sua mente estava cansada, mas sabia que havia feito um bom trabalho. Terminou o dia com uma imagem em mãos, um suspeito em uma das fotografias tiradas pela equipe forense. A descrição das testemunhas não era boa o bastante para um retrato falado, mas foi o suficiente para que Verô ligasse aquele homem ao que foi relatado por elas. Não era incomum assassinos observando cenas de crimes que eles mesmos cometeram, e aquilo poderia ser um palpite, mas Verô sentia que aquilo levaria o caso para algum lugar. O cara era suspeito!

A escrivã se deixou relaxar um pouco, observando o escritório praticamente vazio, sentindo certa satisfação. Evitou Anita durante todo o dia e aparentemente havia conseguido se manter longe da delegada. Depois da sua festinha particular no chuveiro, encarar Anita estava se tornando impossível.

Suspirou sentindo-se vitoriosa, mas um pouco cedo.

- Torres! - A voz de Anita rompeu o silêncio, gélida, firme, fazendo Verô a sentir nos ossos.

Verônica entrou na sala de Anita, vendo a delegada fechar a porta, caminhando a passos firmes enquanto fechava as persianas.

As duas estavam perigosamente isoladas. Verônica sentiu isso da forma mais intensa que podia.

Mas é claro, sem chances de demonstrar o quão nervosa havia se tornado ao lado de Anita, a escrivã segurou a mesma atitude de sempre: marrenta, revolta, desafiadora. O que Anita não sabia era o que a morena sentia naquele momento.

A tensão parecia afogar Verô. Estavam as duas, praticamente sozinhas, enquanto Verô tentava reprimir seus pensamentos, afastar o desejo, simplesmente dar espaço a raiva, ou invés de sentir o turbilhão que a sufocava.

- Você acha mesmo que pode fazer o que quiser dentro dessa delegacia, não é, escrivã? - Anita praticamente cuspiu as palavras com o sarcasmo característico, fazendo Verô erguer as sobrancelhas. - Aonde você estava, porra?

Verônica se manteve longe o bastante, com seus braços cruzados, encenando um tédio que não sentia.

- Anita, me poupe! Olha a hora... - Verônica ignorou seus pensamentos, respondendo com um tom igualmente afiado. - Eu estava fazendo o meu trabalho, algo que você parece ignorar. Eu não vou ficar o dia inteiro atrás de você igual a um cachorrinho!

Anita estreitou os olhos, o olhar penetrante refletindo a tensão entre elas.

- Sempre a mesma ladainha, não é, escrivã? Você ta agindo como se fosse a única que se importa com essa merda, como se não houvesse uma equipe inteira trabalhando nisso. Claro, a perfeitinha vai resolver tudo sozinha, afinal, o mérito de  heroína tem que ser seu! É sempre a mesma história, te dou uma mão e você quer a porra de um braço inteiro. - Anita deu alguns passos para trás, transpirava irritação. - Você trabalha pra mim, Torres, e vai ficar atrás de mim se eu quiser!

Verô sentiu o calor subir em suas bochechas, o ímpeto de rebater cada palavra de Anita.

- Eu não preciso que você me lembre das minhas responsabilidades, Anita. E se você tivesse me dado uma chance, se me ouvisse, poderíamos estar muito mais adiantadas nessa investigação!

- Eu te dei muito mais do que uma chance e você agiu nas minhas costas, escrivã!

Era um jogo: Quem atingia mais. O ambiente parecia reter uma carga insuportável, uma tensão que era capaz de preencher todo o espaço entre elas.

Anita avançou mais alguns passos na direção de Verô, sua expressão endurecida pela determinação.

Verônica não podia vacilar, mas sentia cada vez que a delegada avançava.

CRAWLING - VeronitaOnde histórias criam vida. Descubra agora