A tensão que envolveu Anita e Verô daquele momento em diante foi diferente de tudo que já havia passado por elas. Aquela corrente elétrica tão silenciosa parecia vibrar quando as duas estavam no mesmo ambiente.
A volta pra delegacia foi uma tortura agridoce para Verô, que pela primeira vez admitiu para si mesma que queria mais, mas ainda relutava com o pensamento. O espaço tão pequeno do veículo fazia a escrivã se agitar a cada esquina, precisando reprimir a vontade de simplesmente ceder aos seus impulsos mais malucos e entrar de cabeça nos jogos da delegada.
Anita por sua vez se divertia ao confirmar o tamanho de sua influência sob a escrivã. Se pegou imaginando como seria se não tivesse simplesmente ido embora alguns momentos antes. A escrivã teria coragem de fazer algo?
Quando o carro foi estacionado em frente a delegacia, Verô se apressou em deixar o veículo, respirando como se estivesse prendendo a respiração a séculos.
Com a ajuda de luvas novas, escrivã pegou o vaso de flores, deixado Anita para trás sem sequer dizer nada. Precisava de pelo menos um minuto longe da loira, que sorriu ao ver Verô apressada.
Aquilo estava sendo muito mais interessante do que ela imaginou.
A delegada deixou o estacionamento em passos seguros em cima de seus saltos altos, com um sorrisinho vitorioso nos lábios.
Ao chegar em sua sala, Verônica a entregou uma xícara de café, fazendo a loira erguer as sobrancelhas.
- Me poupa das suas piadas, Anita! - Ela disse antes que a delegada pudesse dizer algo.
- Acho que você precisa relaxar, Torres! Mas infelizmente esse assunto fica pra depois.- Anita disse, dando um gole em sua café. - Vamos ver o que esse maluco deixou dessa vez.
Anita largou sua xícara de café em sua mesa. Encarou o dois vasos, eram iguais. Verônica os encarava ao lado da delegada, que esticou sua mão, pegando o cartão no meio das flores mortas.
A loira respirou fundo, abrindo o envelope, sabendo que nada vindo dali poderia ser bom.
O mesmo envelope, a mesma logo, mesma floricultura. Com o cartão de papel mais espesso em mãos ela correu os olhos pela letra impressa ali.
"Querida, as flores são só o começo e você foi apenas mais uma. Estou sempre observando, esperando o momento certo para agir. Aguarde pelo próximo ato. Até breve."
Anita respirou fundo, deixado a diversão do flerte com a escrivã fosse substituída por uma raiva borbulhante. delegada apertou os lábios.
- Desgraçado, filho da puta. - A voz de Anita soou como um trovão.
Verô, que leu a mensagem junto a Anita, sentiu seu estômago revirar.
- Ele vai fazer de novo... - Ela disse mais pra si do que pra qualquer outro.
- Estamos travados nisso! Sem rastro, sem testemunhas. Só esse palhaço agindo como se estivesse dando um show. - Anita largou o cartão na mesa.
A loira foi até a porta, chamando Lima.
- Manda toda essa merda pra análise. - Ela disse. - Duvido que tenha algo ai. - A irritação em sua voz era pra lá de nítida.
Anita se sentou em sua cadeira, encarando Verô.
- Desembucha, escrivã! - Ela disse sem delicadeza alguma. - Qual a ideia?
Verônica franziu o cenho. Anita deveria estar realmente sem opção, afinal estava pedido a ajuda da escrivã.
Verô se sentou a sua frente, umedecendo os lábios, pronta para começar a falar.
- Essa floricultura não é uma franquia. É uma rede pequena, algumas lojas espalhadas. Liguei em algumas, solicitei o histórico de venda. Eles tem um padrão, o pedido, quem o fez, o número de telefone. - Ela disse com um lampejo de esperança nos olhos.
- Esse é o protocolo padrão, escrivã! O mínimo, qualquer um seguiria por aí, até o Lima! - Anita disse entediada. - Estava esperando algo mirabolante!
- Anita, me escuta! - Verônica disse impaciente. - Primeiro a gente precisa ter uma noção de quem ele é, modus operandi. Se ele fez os dois pedidos na mesma loja, indica região. As vítimas não moram muito longe, mas podemos fechar ainda mais o cerco. Pensa comigo, caralho. Você é boa nisso! - Verô disparava as palavras e não se deu conta da última frase.
Os cantos da boca de anita se ergueram, ela se deu conta.
Verônica percebeu o que havia dito, mas seguiu seu raciocínio, não queria perder o foco, e não queria dar o braço a torcer.
A delegada não estava disposta a admitir que Verô tinha um ponto. Mesmo que isso significasse ignorar temporariamente os argumentos da escrivã.
- A gente reúne esses históricos e descobre em qual unidade o pedido foi feito e quem fez o pedido.
Enquanto Verô continuava a explicar sua linha de raciocínio, Anita a observava com um misto de ceticismo e curiosidade. Ela não gostava de admitir, mas havia algo na determinação de Verô que atraía sua atenção. Por mais que tentasse resistir, Anita não podia negar que a escrivã tinha algo.
- E depois? Acha mesmo que vamos encontrar o nome dele com um laço de fita em cima? Vamos bater na sua porta e ele vai se entregar? - Disse Anita, cortando Verô antes que ela pudesse terminar. - Não espere que eu vá ficar impressionada com suas ideias, escrivã. Estamos lidando com um psicopata, não com algum detetive de romance policial!
Verô reprimiu um sorriso, sabendo que havia conseguido captar a atenção de Anita.
- Tem uma ideia melhor, doutora? - A escrivã ergueu a sobrancelha.
- Vai, vai escrivã! - Anita disse, fazendo um gesto com a mão para que Verônica saísse. - Coloca o Lima e o Nelson nisso, quero esses registros pra ontem!
Verônica levantou, saindo da sala.
- Mandona! - Ela disse baixo, retirado os olhos.
Ainda em sua sala, enquanto aguardava os resultados das investigações de Verô, Anita decidiu revisar as evidências do caso. Ela examinou cada detalhe do bilhete deixado pelo assassino, procurando por qualquer pista que pudesse ajudá-la a identificar o criminoso. Por mais que tentasse manter a fachada de indiferença, Anita não conseguia ignorar a sensação de que estava sendo observada, como se o assassino estivesse sempre um passo à frente dela.
Nelson pegou o telefone e começou a discar os números das floriculturas listadas por Verô. Um a um, eles ligavam, fazendo as perguntas necessárias e registrando as informações cuidadosamente, os históricos sendo enviados um a um. À medida que as chamadas prosseguiam, Verô sentia a tensão aumentar. Cada floricultura visitada representava uma chance de encontrar uma pista crucial que os levasse mais perto do assassino. Ela mantinha os olhos fixos em Nelson, esperando ansiosamente por qualquer sinal de progresso.
Finalmente, depois de algumas horas de trabalho, ligações insistentes, Nelson desligou o telefone com um sorriso no rosto.
- Conseguimos, temos todo histórico! - O homem disse.
Com um aceno de cabeça para Lima e Nelson, Verô se levantou.
- Tá tudo separado? - Ela disse para os dois.
- Cada histórico separado por unidade. - Lima disse, girando sua cadeira.
A escrivã foi até a impressora, imprimindo e separando cada arquivo em uma pilha de papel, com cuidado para não misturar.
Ao final, Verônica tinha uma pilha enorme de papeis. Desde a data presumida do primeiro assassinato até a data do segundo.
Juntando tudo, depois de separar em pastas, Verônica seguiu para a sala de Anita, empurrando a porta com o pé. A delegada levou os olhos até a porta, seguindo Verô com os mesmos, vendo a mesma largar, sem muita delicadeza, a pilha de pastas em sua mesa.
- Doutora! - Ela disse com um sorriso falso.
Anita se levantou, encarado agora a pilha em sua mesa.- Quer palmas, escrivã? - Seus olhos foram para a escrivã. - Preparada pra fazer hora extra?
Verô revirou os olhos se dando conta que seu dia havia acabado de ganhar mais algumas horas ao lado da delegada Anita Berlinger!
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TA VINDO AI!!!
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Logo eu volto com maissss ❤️
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CRAWLING - Veronita
RomanceA escrivã Vêronica Torres e a delegada Anita Berlinger enfrentam uma batalha entre o ódio e a atração enquanto investigam uma série de crimes brutais que está apavorando a cidade de São Paulo. Confrontadas com seus próprios sentimentos conflitantes...