Anita encarava as flores em cima de sua mesa, pensativa. Estavam mortas, murchas e tinham um cheiro esquisito.
A delegada leu aquele cartão mais vezes do que poderia contar, sabendo que algo ali era estranho.
As flores foram entregues por Lima, após Anita pedir que o mesmo verificasse as correspondências da segunda vítima. Sabia que as encomendas ficavam numa espécie de depósito e resolveu arriscar. Poderia não dar em nada, mas e se?
E lá estava o “E se” da delegada. Um vaso de lírios brancos, já sem vida, amarelados, com suas folhagens escurecidas. No cartão, uma mensagem bizarra o suficiente, até mesmo para Anita.
“A morte é apenas o começo. As flores são um convite para o espetáculo que ainda está por vir. Seus destinos estão traçados, e eu sou o diretor. Aguardem em seus sonhos mais sombrios, pois em breve eu os visitarei novamente."
- Tentativa patética de chamar atenção! - Anita disse irritada. - Temos um palhaço nas mãos, um doente que gosta de chamar atenção… Tem como ser pior? - A mulher falou pra si mesma.
Anita empurrou o cartão com desdém, como se estivesse lidando com algo repugnante. Ela não tinha paciência para joguinhos de um assassino tão desesperado por reconhecimento.
- Está tentando se fazer de mestre do terror, mas só consegue parecer um desesperado! - Ela murmurou para si mesma, seus olhos azuis faiscando com desprezo.
Respirou fundo, tendo sua atenção roubada quando Verô bateu na porta, entrando em seguida.
A escrivã havia se vestido como sempre, nada novo, nada de especial, mas por algum motivo os olhos de Anita se prenderam ali, no corpo de Verô, no seu jeito, em como caminhou até onde Anita estava. Parecia sempre tão ousada, Anita não podia negar, gostava daquilo.
Anita sentiu uma pontada de desconforto ao perceber que seu olhar estava fixo em Verônica. Ela não admitia com frequência, mas havia algo na presença da escrivã que mexia com ela, algo que desafiava sua fachada de indiferença e arrogância.
- O que você quer, Torres? - Anita perguntou, sua voz soando mais áspera do que pretendia.
Verônica não pareceu se incomodar com a hostilidade de Anita. Ela estava acostumada com os ataques verbais da delegada e estava mais interessada no que elas tinham ali.
- Lima comentou das flores. Achei que poderiam ser importantes para a investigação. Você viu? - Verônica respondeu, seu tom de voz neutro.
Anita bufou, desviando o olhar de Verônica em direção às flores.
- É claro que eu vi as flores, Torres. E também vi o bilhete rídiculo que veio junto. Parece que nosso amigo tem um senso de drama bastante desenvolvido - Anita respondeu, seus lábios se curvando em um sorriso de desprezo.
Verônica arqueou uma sobrancelha, observando Anita com curiosidade.
- Você não acha que deveríamos levar isso a sério? Essas mensagens podem conter pistas importantes sobre a identidade do assassino. - Verônica sugeriu, vendo sua paciência indo embora.
Anita revirou os olhos, irritada com a insistência de Verônica.
- Não me diga como devo conduzir a investigação, escrivã. Eu sei o que estou fazendo! - Anita retrucou, sua voz carregada de impaciência.
Verônica ergueu as mãos em um sinal de rendição, deixando a sala da delegada, que revirou os olhos ao ver a morena sair.
- Enxerida! - Ela disse, voltando a encarar o cartão.
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CRAWLING - Veronita
RomanceA escrivã Vêronica Torres e a delegada Anita Berlinger enfrentam uma batalha entre o ódio e a atração enquanto investigam uma série de crimes brutais que está apavorando a cidade de São Paulo. Confrontadas com seus próprios sentimentos conflitantes...