Vinte e cinco.

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Verônica dormia no sofá enquanto Anita analisava alguns documentos que Carvana havia lhe enviado. Se sentia cansada, os olhos pesados, mas se recusava a dormir. Sua mente parecia não acompanhar seu corpo exausto. Estava agitada, em alerta.

Encarou Verô, sentindo mais uma vez aquela sensação que havia a acompanhado durante todo o dia.

Anita sentia medo.

Ainda com os olhos grudados em Verô, se lembrou da escrivã deitada no chão, no meio daquela confusão, desacordada. Um arrepio percorreu sua espinha, daquele tipo ruim, fazendo a delegada se remexer em seu lugar, incomodada.

Verônica não era o tipo de mulher que precisava ser protegida, Anita sabia disso, mas vez ou outra tentava manter a escrivã longe de encrenca, algo que Verônica parecia adorar, afinal, estava sempre enfiada em uma. Não sabia o que era aquilo, aquele ímpeto de cuidado, mas sabia que imaginar Verô em apuros a afetava muito mais do que deixava transparecer. Muito mais do que admitia para si mesma.

E lá estavam elas, Verô machucada, Anita preocupada, exatamente como temia.

Anita olhou mais uma vez para os papéis em sua frente, em busca de concentração, mas mais uma vez falhou, finalmente desistindo. Como seria capazes de se concentrar após tudo aquilo? Não seria capaz de tirar sua mente da única coisa que parecia importante naquele momento, Verônica.

Se levantou, tentando ser o mais silenciosa possível, indo até a cozinha.

- O que você tem aqui, escrivã? - Disse baixinho, olhando cada detalhe do ambiente.

Era uma cozinha simples, organizada, com detalhes que permitiam que Anita visse um pouquinho da personalidade de Verô, com fotos e lembranças de viagens na porta da geladeira, imãs coloridos e alguns post-its.

Anita abriu os armários, buscando por algo que ela não demorou a encontrar, uma garrafa de whisky rodeada por copos e taças.

A delegada alcançou a garrafa e em seguida despejou o líquido âmbar em um copo que pegou do mesmo armário, ansiosa pela sensação que viria a seguir. Sentia a tensão contrair seus músculos, incômodo suficiente para que recorresse a uma dose.

Virou de uma vez, sentindo sua garganta aquecer, fechando os olhos calmante, por alguns instantes. Lá estava o que ela buscava, a sensação de dormência em seu céu da boca, o gosto forte em seus lábios, o calor que parecia descer por seu peito.

- Anita! - A voz de Verônica interrompeu o silêncio.

A delegada voltou para a sala, o whisky fazendo seu efeito gradualmente, tentando acalmar os nervos que ainda estavam à flor da pele.

Verônica ainda dormia.

- Anita! - Chamou mais uma vez.

Com cuidado para não acordá-la, Anita se sentou no chão, ao lado do sofá, observando o rosto sereno de Verônica enquanto ela dormia, tão tranquila, como se todos os seus problemas tivessem desaparecido por um momento.

Com suavidade, a loira tocou o rosto de Verônica.

Ela era tão bonita e parecia tão delicada ali, daquele jeito. Cada traço do rosto de Verônica era uma obra de arte poderosa, iluminada pela luz suave de um abajur.

Anita deslizou os dedos suavemente pela pele macia, sentindo o calor que irradiava dela. Era como se pudesse sentir a vida pulsando sob seu toque, uma recordação de que Verônica estava ali, viva e presente.

Um sorriso gentil e tímido se formou nos seus lábios enquanto ela apenas se prendia a respiração tranquila de Verônica.

Apesar de todas as adversidades que enfrentavam, havia uma serenidade reconfortante naquele momento, uma sensação que a loira nunca tinha se deixado sentir, até ali.

Anita se levantou de seu lugar e, com gentileza, ajeitou Verônica no sofá, se colocando ao lado da escrivã. Não pensou muito sobre o que estava fazendo, apenas fez, e ao sentir Verô se aconchegar, colocando a cabeça no ombro em seu ombro, Anita se permitiu relaxar.

Anita continuou a observar Verônica dormir, dessa vez tão de perto, vendo uma série de pensamentos tumulturem sua mente.

Ela nunca fora do tipo sentimental, sempre mantendo uma fachada de dureza e impiedade, mas algo ali, algo naquele momento parecia mudar dentro dela. A presença de Verônica despertava sentimentos que ela mal conseguia compreender, deixando-a desconcertada e vulnerável de uma forma que beirava o desconforto, mas sem espaço para recuar.

Cautelosamente, Anita beijou o rosto de Verônica, permitindo-se sentir a textura suave daquela pele sob seus lábios. Era um contraste fascinante, e ela não conseguia evitar de se perguntar como alguém tão forte quanto Verônica poderia parecer tão frágil.

o silêncio da sala envolvia-as, quebrado apenas pelo suave som da respiração de Verônica. Anita se pegou contemplando cada detalhe do rosto adormecido da escrivã, como se estivesse tentando memorizar cada linha e curva. Era uma visão que a intrigava de uma forma inexplicável, deixando-a fascinada, perplexa.

Por um momento, Anita permitiu-se deixar de lado sua postura defensiva e permitir que seus sentimentos emergissem à superfície. Aquela sensação estranha e desconfortável a inundando, como se estivesse se aventurando em território desconhecido, mas via que ao mesmo tempo havia algo de libertador. A ideia de que ela poderia ser vulnerável na frente de outra pessoa era assustadora, mas também era incrivelmente sedutora.

Com um suspiro resignado, Anita ajeitou-se ao lado de Verônica no sofá, puxando-a para mais perto, sentindo a presença reconfortante do corpo da escrivã contra o seu. Era um gesto simples, quase instintivo, mas significava mais do que Anita jamais teria imaginado. Naquele momento, ela não era mais a delegada impiedosa e inabalável; ela era apenas Anita, uma mulher confusa, descobrindo sentimentos que jamais imaginara possuir.
Não sabia o que viria a seguir, não sabia exatamente como se sentia, mas sabia que naquele momento queria estar ali, queria a escrivã perto de si, segura, bem.

Finalmente seu corpo relaxou por completo, deixando toda a tesão do dia para trás, apenas se entregando para o que estava vivendo naquele instante, fechando os olhos, deixando o cheiro de Verônica a embalar, junto com sua presença, seu calor, e as sensações que a mesma trazia para Anita, que se deixou apenas sentir e mais nada.




~***~
Capítulo curtinho, mas MUITO importante, com a nossa delegada finalmente admitindo ser cadelinha da Verô para si mesma.
Sei que demorei um pouquinho, mas prometo que tô me organizando pra seguir um cronograma de atualização.
COMENTEM, VOTEM, ME DÊEM SUAS OPINIÕES, É MUITO IMPORTANTE.
bjsss ❤️

CRAWLING - VeronitaOnde histórias criam vida. Descubra agora