Trinta e dois.

1.2K 104 55
                                    

Verônica acordou sentindo o calor suave do corpo de Anita ao seu lado. Era uma sensação nova, um conforto que não experimentava há muito tempo. A respiração tranquila da delegada a acalmava, e, por um momento, Verônica se permitiu simplesmente apreciar a proximidade. Sentiu aquilo depois de tanto tempo sozinha, sentiu sabendo que não se tratava de Paulo, como era de costume, e gostou, gostou daquela sensação, do fato de estar tão perto do corpo relaxado da loira.

Ela se virou ligeiramente, observando o rosto sereno de Anita adormecida. Os traços suaves, o cabelo desalinhado sobre o travesseiro, tudo parecia tão pacífico, tão diferente das preocupações que ela carregava. Anita era uma presença constante e forte em sua vida, algo inesperado, mas que agora parecia tão... necessário?

O sentimento era diferente, a vontade de estar perto, de dividir o espaço. Verô queria abraçar Anita, sentir o seu aroma, sentir seus cabelos macios. Não era como quando estava com Paulo, que já não a abraçava mais, que parecia tão perto, mas tão distante.

Paulo...

O nome de Paulo voltou à sua mente como uma sombra persistente. Paulo, seu parceiro de longa data, com quem havia compartilhado tantos anos e sonhos, agora representava uma fonte de dor e confusão. A descoberta de sua traição ainda queimava em seu coração, uma ferida aberta que ela tentava ignorar, mas que se recusava a cicatrizar.

Verônica sabia que estava fugindo, evitando confrontar a realidade. Desde que soube da infidelidade de Paulo, ela não conseguia mais olhar para ele da mesma forma. As ligações não atendidas, as mensagens ignoradas, tudo fazia parte de uma tentativa desesperada de escapar do confronto inevitável.

Ela sabia que precisava enfrentar Paulo, resolver as pendências, mas o medo de encarar a verdade a paralisava. Verônica não estava pronta para o confronto, para o término definitivo de um capítulo importante de sua vida.

Se sentia aflita, agoniada, mas principalmente cansada.

Se levantou, sentindo a boca seca, precisava de um copo de água antes de voltar a dormir, ou de duas garrafas de whisky.

Verônica deslizou para fora da cama com cuidado para não acordar Anita. Seus pés descalços encontraram o chão frio, e ela caminhou em silêncio até a cozinha, sentindo o peso de suas preocupações voltarem. Encheu um copo de água e bebeu lentamente, tentando acalmar sua mente agitada.

Ela olhou pela janela da cozinha, a escuridão lá fora espelhando seu próprio estado interior. A traição de Paulo não era apenas uma questão de infidelidade; era a quebra de uma confiança construída ao longo de anos. A dor era profunda, parecia capaz de sufocar a escrivã em outros momentos, mas ali, com Anita, parecia inerte, ilesa, quase como se tivesse encontrado um refúgio, o lugar mais inusitado para se sentir segura.

O silêncio da casa foi quebrado pelo som de passos leves atrás dela. Verônica se virou e viu Anita parada na porta, seus olhos ainda sonolentos, mas atentos o bastante.

- Tudo bem, Verô? - Anita perguntou suavemente, aproximando-se dela.

Verônica não pode deixar de sorrir um pouquinho ao ouvir a delegada a chamando pelo apelido. Pareciam tão íntimas, como se algo tivesse mudado depois daquela noite, como se estar perto fosse simplesmente o que queria e ponto.

Colocou o copo vazio na pia e suspirou.

- Eu só... não consigo parar de pensar em tudo que aconteceu. - ela admitiu, a voz vacilante. - Paulo... eu descobri tantas coisas, coisas que eu odiei descobrir e desde então, nada mais faz sentido.

Anita se aproximou e envolveu Verônica em um abraço reconfortante, sentindo a tensão no corpo da escrivã.

Verônica pode sentir o perfume de Anita, o calor de seu corpo, a textura de sua pele. Ela parecia tão diferente naquele momento. Verônica se perguntou se aquela era a verdadeira Anita, sem as defesas, sem os muros.

CRAWLING - VeronitaOnde histórias criam vida. Descubra agora