Chovia forte, o tipo de chuva que transformava até o silêncio mais profundo em barulho, com trovões estourando no céu, ecoando pelo escritório vazio e escuro do DHPP, qo menos até a sala de Anita, que tinha apenas a iluminação necessária para que a delegada e a escrivã pudessem verificar cada parte daqueles históricos. Centenas de nomes, números e endereços eram verificados, enquanto o céu de São Paulo parecia se desmanchar.
Verônica encarou o relógio, se remexeu em seu lugar, sentindo suas costas reclamarem. Estava cansada, depois de horas estando perdida no meio de tantas informações, sua cabeça doía. Passou tanto tempo absorta no que estavam fazendo que só percebeu estavam sozinhas, ali, naquele instante.
Encarou Anita, concentrada em sua própria pilha de papel, com o semblante relaxado e uma caneta entre seus dedos. Verô deixou seus olhos passearem por todo aquele rosto, sem que pudesse reprimir o pensamento que ecoava em sua mente: Como a delegada era linda! Cada traços bem desenhado, forte, mas tão suave ao mesmo tempo. Seus olhos azuis cristalinos, seus lábios desenhados pelo batom que sempre usava. Anita parecia saída da televisão, com aquela expressão séria no rosto, como se nenhum cansaço pudesse a atingir, impecável.
- Quer um guardanapo, escrivã? - A loira disse sem tirar os olhos do que estava fazendo.
Verô franziu o cenho, sem entender a oferta.
Anita ergueu o olhar, com seus olhos agora mais escuros, fortes, quase opressores.
- Ou não seria melhor um babador? - Ela concluiu, com um risinho travesso nos lábios.
Verônica sorriu sem graça, com certo desconcerto.Delegada prepotente!
Anita se levantou, com os olhos ainda em Verô, indo até seu pequeno frigobar, pegando uma garrafa de água.
Verônica observou Anita com um misto de admiração e irritação enquanto a delegada se movia pela sala. A chuva lá fora continuava a cair incessantemente, parecendo lavar os acontecimentos das ruas da cidade. A escrivã se perguntava como Anita conseguia manter sua postura tão impassível diante de tantos absurdos, como se nada pudesse abalar sua determinação.
- Sabe, escrivã, às vezes é preciso manter a compostura, mesmo quando tudo ao seu redor está desabando. - Anita disse, como se lesse os pensamentos de Verô.
Verônica engoliu em seco, sentindo um calafrio percorrer sua espinha, se alinhando em seu lugar. Havia algo na maneira como Anita olhava para ela que a deixava inquieta, sempre com a sensação de estar sendo examinada por um predador. Verô sustentou o olhar da delegada, não deixaria a mesma enxergar o poder que tinha.
- Me deixe adivinhar, doutora, você é o tipo de pessoa que gosta de estar no controle em todos os momentos, não é? - Verô retrucou, lutando para disfarçar sua inquietação.
Anita aproximou-se dela ela com um sorriso sutil brincando em seus lábios.
- Você me conhece tão bem, escrivã. - Anita disso com sarcasmo. - Mas o controle nem sempre é tudo, às vezes é preciso saber quando ceder um pouco! - Ela disse sugestiva, antes de tomar um gole da garrafa de água.
Verônica manteve seu olhar firme, desafiando Anita silenciosamente.
A tensão entre elas era enlouquecedora, carregada de uma energia que parecia fluir entre os olhares e as palavras trocadas. Verô não conseguia evitar sentir-se afetada pela presença da delegada, mesmo sabendo que lidar com ela era como caminhar sobre a brasa.
Por mais que a delegada fosse tudo aquilo que sempre achou, havia algo nela que atraía Verônica de uma maneira cada dia mais difícil de resistir.
Enquanto isso, Anita parecia se deleitar com o jogo de poder que se desenrolava entre elas, sabendo que tinha o domínio da situação, mas ao mesmo tempo sendo desafiada pela ousadia de Verô. Ela gostava da forma como a escrivã não se intimidava facilmente, como se estivesse sempre pronta para confrontá-la de igual para igual.
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CRAWLING - Veronita
RomanceA escrivã Vêronica Torres e a delegada Anita Berlinger enfrentam uma batalha entre o ódio e a atração enquanto investigam uma série de crimes brutais que está apavorando a cidade de São Paulo. Confrontadas com seus próprios sentimentos conflitantes...