Talvez eu não merecesse ter ela.
Ela era boa demais.
Doce demais.
Linda demais.
Ela era pura.
Inocente.
Quase um anjo.
Eu não tinha um pingo de humanidade.
Não era bom.
Nem doce.
A parte do lindo, talvez.
Não era um homem puro.
Muito men...
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Segurei no volante do carro por alguns segundos, eu daria mais algumas voltas de carro, para não precisar encontrar minha esposa, talvez com sorte, a encontraria dormindo.
Eu não ia mentir, o meu casamento era uma bosta. Me casei jovem, eu e Giorgia temos a mesma idade, cinquenta anos, foi um casamento arranjado. Precisava de uma esposa e ela estava ali, no começo eu pensei que poderíamos dar certo. Talvez com o tempo, surgisse algum sentimento, mas nunca aconteceu. A única coisa boa disso tudo foi a Vittoria, o amor da minha vida. Eu morreria facilmente, ela foi um bebê muito desejado por mim, Giorgia não aceitava bem que teria uma menina, e não um menino como gostaria. Eu nunca liguei, amei ela desde que soube da sua existência, e quando nasceu…
Me senti o homem mais feliz do mundo.
Eu era pai!
Vittoria foi um desejo de muito tempo, nos passamos por perdas, ela foi literalmente uma vitória, a única das gestações que foi até o final e minha filha nasceu saudável e linda. Ela era um anjo, eu poderia ter o pior dia dentro da Máfia, poderia estar estressado, bastava eu olhar pra ela, os olhinhos azuis grandes e expressivos brilhavam quando ela me via chegar, os cabelos rebeldes bagunçados, e ela sempre usava algum vestido fofo. Sim, eu era muito babão e isso nunca mudou.
Mas com a Giorgia, eu só sentia gratidão por ela ter me dado nossa filha. Nunca a amei de verdade e sei que ela também não. Agora que nossa filha não mora mais conosco, nossas brigas e discussões se tornaram mais frequentes, estou um pouco exausto disso.
Saí do carro, enfiando o celular no bolso e segui para dentro de casa, passar o dia com a minha filha me deixou mais tranquilo. Eu quase surtei quando vi o rosto dela machucado, jurei que tinha sido o Matheo, mas não foi ele. Para sua sorte.
Giorgia estava sentada no sofá lendo um livro, ela me olhou por cima dos óculos e fechou o livro, retirando os óculos de grau.
— Oi— Falei me abaixando para tirar o tênis.
— Onde estava?—Indagou vindo até mim.
— Fui trabalhar e quando saí, fui até a casa da nossa filha— Levantei passando por ela.
— Não pensou em me chamar pra ir também?
— Fui convidado pelo marido dela— Avisei subindo as escadas, ouvindo seus passos atrás de mim, ela me olhou surpresa.
— Ele convida você, mas quando eu estive lá, me tratou com grosseria — Entrei no quarto e tirei a roupa ficando de cueca, entrei no closet pegando uma roupa limpa, que iria vestir.
Eu me cuidava bastante, estava em forma, adorava me exercitar, então tinha um corpo bonito, Giorgia não ficava atrás, ela era muito bonita, sempre foi. Mas não consigo olhar pra ela assim, não existe nenhum sentimento de homem e mulher entre nós dois. Agora por exemplo, os cabelos loiros como os da nossa filha, estavam soltos, cobriam os ombros, ela não usava maquiagem, os olhos escuros me observavam com atenção, como se procurasse por algo.
