Muito mais que especial

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A retirada do telhado deu um pouco de trabalho, muitas telhas estavam quebradas e lógico, jamais aguentariam as primeiras chuvas.
Ver o Valentin ajudando o papai foi algo que nunca imaginei, a sua camisa branquinha já estava toda suja, acredito que ele nunca houvesse feito nada parecido, pois as suas mãos eram fininhas como uma seda, um verdadeiro príncipe.

- Senhor Runan, esse telhado estava horrível! - exclamou Valentin.

- Lord Valentin, já estava querendo trocá-lo há muito tempo, mas não sobrava dinheiro. - falou Runan.

- Deve ser difícil ver as necessidades e não poder resolvê-las de imediato.

- A vida não é fácil, as lutas são diárias, mas no final tudo dá certo.

- Papai, desçam um pouco, trouxe refrescos, o leitão está quase pronto. - falou Patrízia.

- Estamos descendo, filha.

Ele parecia fazer parte da nossa família, estava tão a vontade que a impressão era de uma longa amizade.

- Nossa, que suco gostoso! - falou Valentin.

- Quer mais um pouco, lord Valentin? - Patrízia perguntou.

- Por favor, senhorita Patrízia.

- Deve estar cansado.

- Precisava distrair a minha cabeça, gosto muito desse lugar.

- Papai, toca um pouco para nós. - pediu Patrízia.

- Boa ideia, filha, uma boa música é essencial em qualquer encontro de amigos. - falou Runan.

O meu pai pegou a flauta e o tambor, a festa começou. Todos nós batíamos palmas, enquanto o leitão acabava de dourar.
Sem que eu esperasse, Valentin me puxou pelo braço e começamos a dançar, rodávamos por aquele chão batido e a poeira subia, a minha felicidade estava estampada em cada sorriso.
A reforma do telhado se tornou uma grande festa e tudo aquilo mexia com os meus sentimentos.

- Se solta, Patrízia! - falou Valentin.

- Eu não sei dançar! - disse ela.

- Nem eu!

Sentir o seu corpo, o seu cheiro e mais que tudo, a sua doçura ao me conduzir, ele era o que sempre desejei, o amor que esperei nessa e queria para as próximas vidas.
Dançamos ao som de toda aquela animação, um dia para ser guardado nas melhores lembranças do meu coração.

- Muito bom, senhor Runan! - falou o lord.

- Papai, até parece que virou uma festa! - disse Patrízia.

- O telhado novo merece. - falou Runan.

- O leitão será servido, venham comer. - disse Marta.

O meu pai pegou a minha mãe pela mão e Valentin tocava o tambor, a festa em comemoração ao telhado parecia um evento, cheio de alegrias, músicas e dança, todos nós estávamos sentindo aquela grande energia contagiante.
A mamãe serviu o leitão e que delícia era ver o Valentin comendo com tanto gosto, ele nem usou os talheres, parecia muito a vontade.

- Senhora Marta, nunca comi um leitão tão saboroso como esse. - falou Valentin.

- Fiz com muito carinho para todos nós.

- Estamos quase acabando de colocar as telhas, obrigado pela sua ajuda, lord Valentin. - disse Runan.

- Eu que agradeço, senhor Runan, por esse dia especial. - respondeu Valentin.

- Papai, depois que acabarem de colocar as telhas, poderíamos ir ao rio tomar um banho. - disse Patrízia.

- Que ideia boa, meu amor! O que acha, lord Valentin? - perguntou Runan ao rapaz.

- Adorei a ideia! - exclamou Valentin.

Ele me olhou, eu retribui com um sorriso, só queria ficar perto dele.
Após o almoço, o trabalho no telhado foi retomado, a nossa casa estava ficando linda e por muitas vezes, Valentin ficou olhando discretamente, fingia nem perceber, mas o meu coração estava atento a cada movimento seu.
Após algum tempo, eles concluíram os trabalhos e para finalizar, fomos de charrete até o rio, que dia perfeito, eu mal podia acreditar.

- Gostou do nosso dia juntos, senhorita Patrízia? - perguntou Valentin.

- Ainda nem acredito que está aqui, trabalhou o dia inteiro. - ela respondeu.

- Você nem sabe o quanto me fez bem passar o dia ao lado de pessoas iguais a vocês, com esses corações enormes.

- Você vai amar o rio, é lindo.

- Essas terras tem um encanto, me trazem uma paz.

- Por isso o papai nunca quis vender, cuidamos de cada cantinho, preservamos o rio, as árvores, os animais, é um amor sincero.

- O lugar perfeito nas mãos certas.

- Isso!

- Chegamos, hora de descer! - disse Runan.

- Que lugar, meu Deus! - disse Valentin.

- Te falei que ia gostar. - falou Patrízia.

- Podemos pular? - ele perguntou.

- Claro! - respondeu Patrízia.

- Então, vem!

Ele me puxou pelo braço e pulamos juntos no rio, jamais imaginei que aquele mal educado que caiu de um cavalo, fosse um homem maravilhoso como eu estava conhecendo.
Brincamos na água, nadamos e a companhia dele me fazia sentir arrepios na alma.

- Que água limpinha, aqui é um paraíso! - disse Valentin.

- Eu brinco nesse rio desde criança, conheço cada cantinho. - falou Patrízia.

- Você vive de forma livre, sem algemas que te prendem à convenções bobas.

- Você não é livre, Valentin?

- Em partes.

- Como assim?

- Deixa para lá, hoje é um dia alegre, vamos aproveitar.

- Vamos nos pendurar nos cipós? Aí nos jogamos no rio.

- Você faz isso?

- Sim! Vem, é muito bom!

Ele bem que tentou, mas...

- Pula, Valentin, agora! - exclamou Patrízia.

Ele era um pouco desajeitado, escorregou algumas vezes, caiu na grama, ralou os cotovelos, mas no fim de tudo, já estava melhor que eu.

- Veja, eu aprendi! - exclamou Valentin.

- Muito bem, pula! - disse Patrízia.

O sorriso dele me encantava, mas eu sabia que ele era alguém muito distante, filho de um homem rico e poderoso, com certeza jamais viveríamos um romance, enfim, eu já sentia algo diferente que me deixava feliz.

- Runan, o lord Valentin e a nossa filha parecem amigos de longa data. - falou Marta.

- Ele nem parece ser um Morgan, é um rapaz humilde, mas me parece triste em alguns momentos. - disse Runan.

- A mãe dele ainda está internada naquele lugar triste?

- Creio que sim, ela tem problemas mentais, dizem que é louca.

- Ele deve ser triste por isso.

- Pelo menos por hoje ele deu muitos sorrisos, com certeza esse dia sempre será lembrado.

- A nossa filha olha para ele com tanto carinho, tenho medo que se magoe.

- O destino deles já foi traçado, não temos como interferir, deixe que vivam o que está escrito.

E aquele dia foi inesquecível, quando o Valentin regressou para casa o sol já estava se pondo, eu queria que ele ficasse comigo para sempre, mas quem sabe um dia.
Ele subiu no cavalo e me olhou profundamente, a vontade era de abraçá-lo e nunca mais sair de perto, que tudo aquilo pudesse fazer parte da minha vida todos os dias.






Regressar ou escolher te amar?Onde histórias criam vida. Descubra agora